Para Landau, privatizar é a melhor saída para a Eletrobras
“Estava com artigo pronto para ser publicado recomendando a privatização. Minhas preces foram atendidas”, disse a EXAME
Letícia Toledo
Publicado em 22 de agosto de 2017 às 07h12.
Última atualização em 23 de agosto de 2017 às 15h36.
Em um anúncio para lá de inesperado o Ministério de Minas e Energia informou na noite de segunda-feira que vai propor a privatização da Eletrobras . O objetivo é incluir a maior companhia de energia da América Latina no Programa de Parceria de Investimentos (PPI).
Hoje, a União tem 51% das ações ordinárias (com direito a voto) e 40,99% do capital total da Eletrobras. A proposta é que o governo venda parte das ações da empresa na bolsa de valores, a exemplo do que já foi feito com a fabricante de aviões Embraer e a mineradora Vale, e com isso perca o controle da companhia (mantendo ainda uma participação). A economista Elena Landau, que presidia o conselho da Eletrobras até o fim de julho e foi diretora de Privatização do BNDES durante o governo Fernando Henrique Cardoso comemorou a notícia. “Estava com artigo pronto para ser publicado recomendando a privatização. Minhas preces foram atendidas”, disse a EXAME logo após o anúncio da privatização. Confira a entrevista a seguir.
Apesar dos avanços obtidos nos últimos trimestres, com a gestão do presidente Wilson Ferreira, a Eletrobras ainda tem uma dívida de 38,4 bilhões de reais. A privatização é a única saída para resolver os problemas da Eletrobras?
A privatização é a melhor saída para a Eletrobras, para a Petrobras e para qualquer outra estatal. Não há governança, por melhor que seja, que consiga proteger a empresa para sempre das trocas do governo e do uso político. É quase impossível para o governo não usar a empresa pública para seu benefício. Nesse último ano vimos uma ótima gestão, mas quem garante que isso será mantido no próximo governo?
A Eletrobras em geração, transmissão e distribuição de energia. Uma empresa tão complexa e tão grande consegue atrair interessados?
A parte de distribuição já está sendo privatizada. Vai sobrar geração e transmissão e a Eletrobras já está passando por um processo de reestruturação importante nas mãos do Wilson Ferreira. O setor privado vai ajudar nesse processo de reestruturação com muito mais tranquilidade e facilidade. Discutir a separação de ativos e demissão é um processo mais fácil no setor privado. O Wilson tende a continuar na frente, fazendo o seu excelente trabalho. E se o governo realmente ficar com uma participação na empresa ainda vai tirar um bom proveito de toda essa melhoria, com o pagamento de dividendo e impostos. O governo ganha sempre.
Existe uma urgência em privatizar a Eletrobras para ajudar no ajuste fiscal do país. A privatização não vai acontecer pelo motivo errado? Isso não atrapalha o processo de venda?
Toda privatização no Brasil, com exceção do governo Collor, foi feita por questão fiscal. O objetivo sempre foi gerar caixa para o governo ou vender porque não se tinha o dinheiro necessário para os investimentos na empresa. Mesmo no governo Fernando Henrique a privatização nunca foi feita por uma bandeira liberal. Infelizmente é só assim que as privatizações saem. Não é o motivo certo, mas a venda da Eletrobras vai ser colocada no PPI, vai passar por uma avaliação, a empresa tem liquidez, já tem capital aberto, não tem como vender por um preço errado.
Quais cuidados o governo precisará tomar para acertar na venda?
A grande preocupação do setor de transmissão e geração era de que ele poderia se concentrar na mão de um único grupo. Esse era o principal temor de se privatizar a Eletrobras. Mas da forma como o governo quer fazer não se corre esse risco. Ele não vai vender 50% para um determinado grupo. Nenhum grupo será dono da Eletrobras. O percentual vai ser colocado no mercado, na bolsa, é uma privatização madura e o mercado de capital está preparado para isso.