Economia

Juros baixos nos EUA estimula desigualdade, diz especialista

Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, disse que a política monetária do banco central americano contribuiu para o crescimento da desigualdade econômica


	A sede da Federal Reserve: "as baixas taxas de juros podem atualmente aumentar a desigualdade", indicou especialista
 (Karen Bleier/AFP)

A sede da Federal Reserve: "as baixas taxas de juros podem atualmente aumentar a desigualdade", indicou especialista (Karen Bleier/AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2015 às 21h46.

Washington - O prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, afirmou que a ultra-expansiva política monetária do banco central americano, o Federal Reserve, contribuiu para o crescimento da desigualdade econômica nos Estados Unidos, agitando um debate em que foi rebatido pelo ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, que disse um aspecto que não está sob controle do banco central.

"As baixas taxas de juros podem atualmente aumentar a desigualdade", indicou Stiglitz, professor de Economia na Universidade de Colúmbia, em artigo publicado esta semana pelo Escritório Nacional de Investigação Econômica.

O Fed mantém as taxas de juros a níveis excepcionalmente baixos desde o final de 2008, entre 0% e o 0,25%, e lançou nestes sete anos três rodadas multimilionárias de injeção de liquidez, conhecidas como relaxamento quantitativo.

Justo quando o banco central estava disposto a elevar as taxas de juros pela primeira vez, os analistas começaram a apontar para a possibilidade de esta expansão monetária sem precedentes ser um dos elementos que contribuiu para a crescente desigualdade econômica que registrada nos últimos anos nos EUA.

"A composição dos ativos que geram riqueza é diferente entre os capitalistas e os poupadores, de modo que as políticas que beneficiam especialmente esses ativos em posse dos capitalistas geram maior desigualdade", avaliou o autor de "The Price of Inequality" (2012) e prêmio Nobel de Economia em 2001.

"O relaxamento quantitativo fez isso", acrescentou o economista americano.

Stiglitz, de 72 anos, ressaltou que os trabalhadores de classe média e baixa contam principalmente com ativos baseados em renda fixa, enquanto os de maior renda tendem a investir mais na bolsas de valores e outros ativos que oferecem retornos maiores.

Estes últimos, argumentou, foram os mais beneficiados pelas políticas de estímulo do Fed.

"Uma redução das taxas de juros ajuda os possuidores de ações e prejudica aqueles que contam com bônus do Tesouro. Este modelo parece ser uma melhor descrição da economia moderna; nele, a queda de juros contribui sem ambiguidade à crescente desigualdade econômica", acrescentou no artigo.

Nos últimos anos, os ativos das bolsas de valores se revalorizaram notavelmente, e Wall Street registrou recordes históricos em todos os seus indicadores; os salários, por sua vez, se desaceleraram.

A postura de Stiglitz surpreendeu, já que é considerado um economista progressista, ala que sempre defendeu a pertinência da expansão monetária como a política adequada para resgatar o país da aguda crise econômica consequência da explosão da bolha financeira.

Já Bernanke, o arquiteto dessa expansão monetária, saiu em defesa das medidas em seu blog na Brookings Institution, e assinalou que o processo de ampliação da desigualdade tem acontecido por "profundas mudanças estruturais em nossa economia" que precedem à crise.

De acordo com Bernanke, de 61 anos, presidente do Fed entre 2006 e 2013, a política monetária é uma "ferramenta contundente" pensada para o duplo mandato de estabilidade de preços e promoção de emprego e que, portanto, não tem como objetivo interferir na desigualdade econômica, área em que outras políticas, como a fiscal, estão mais bem preparadas.

"As políticas desenhadas para afetar a distribuição de riqueza e renda se encontram, apropriadamente, nas mãos dos funcionários diretamente escolhidos, não do Fed", acrescentou em clara referência ao Congresso americano.

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