Economia

Juros altos do Brasil alimentam o melhor carry trade do mundo

As altas de juros e o melhor desempenho para os preços das matérias-primas em 30 anos garantiram um forte inicio de ano para a moeda brasileira

 (halduns/Getty Images)

(halduns/Getty Images)

B

Bloomberg

Publicado em 5 de abril de 2022 às 10h49.

O rali do real está ganhando força à medida que os preços crescentes das exportações brasileiras de commodities e uma das taxas de juros mais altas do mundo alimentam um lucrativo carry trade.

As altas de juros e o melhor desempenho para os preços das matérias-primas em 30 anos garantiram um forte inicio de ano para a moeda brasileira. O carry trade - operação em que os investidores tomam empréstimos em dólares e compram títulos locais em nações que pagam juros mais altos - deu um retorno de 24% desde o final de dezembro, o maior em todo o mundo e mais de duas vezes o ganho oferecido pelo segundo colocado.

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso. Tudo por menos de R$ 0,37/dia.

É uma reviravolta dramática para uma moeda que perdeu valor contra o dólar em cada um dos últimos cinco anos, desvalorizando-se em 40% no período, à medida que a economia estagnou e os investimentos estrangeiros secaram.

Agora, com analistas divulgando uma perspectiva política mais favorável e a crescente demanda por petróleo, soja e minério de ferro do Brasil impulsionando as exportações para um nível recorde, o real está estendendo seu maior avanço trimestral desde 2009.

Os ganhos no Brasil oferecem uma trégua para investidores globais que enfrentam perdas na maioria dos outros mercados este ano, de ações americanas a títulos do governo e crédito corporativo.

“Para onde mais o dinheiro pode ir?” disse Danny Fang, estrategista do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria em Nova York. O banco ficou entre os que mais acertaram as previsões para o real no primeiro trimestre, segundo ranking da Bloomberg .

A moeda brasileira saltou 21% este ano para a sua mais forte cotação em relação ao dólar em dois anos, perto de R$ 4,6, reforçada pelo aperto agressivo do banco central para combater a inflação.

Com exceção da Rússia, nenhum outro país do mundo elevou as taxas tanto quanto o Brasil no último ano. A taxa básica subiu 9,75 pontos percentuais e pode ser aumentada em mais um ponto no próximo mês, antes que as autoridades encerrem o ciclo de aperto monetário.

Com a expectativa de que as taxas de juros permaneçam elevadas pelo menos até o final do ano em meio à inflação persistentemente acima da meta, o real deve manter seu status de preferido entre os investidores em busca de carry.

Mesmo com a alta dos yields em todo o mundo, o diferencial de taxa de juros entre Brasil e EUA excede 11 pontos percentuais e é de cerca de 10 pontos em relação à Ásia e 5 pontos em comparação à América Latina.

“Os títulos brasileiros e o real estão se destacando bastante entre os mercados emergentes”, Joana Freire, gestora da Eurizon Capital em Londres, escreveu em um relatório mês passado.

O rendimento de títulos públicos do Brasil de 10 anos subiu cerca de 4,5 pontos percentuais desde o início de 2021 para 11,3%, o segundo mais alto entre as principais economias em desenvolvimento - atrás apenas da Rússia.

Isso é cerca de cinco vezes a taxa equivalente do Tesouro americano, mesmo depois que o mercado de títulos dos EUA passou pelo trimestre mais brutal dos tempos modernos devido às expectativas de uma política monetária mais agressiva do Federal Reserve.

Os ativos brasileiros também oferecem o beneficio de estarem longe da guerra na Ucrânia. Ao contrário de muitas nações em desenvolvimento na Europa, o Brasil não tem fortes laços comerciais com a Rússia e espera-se que seja menos afetado pelo conflito e pelas sanções econômicas.

 

Acompanhe tudo sobre:Câmbioeconomia-brasileiraInflaçãoJuros

Mais de Economia

Haddad: pacote de corte de gastos será divulgado após reunião de segunda com Lula

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos

Arrecadação federal soma R$ 248 bilhões em outubro e bate recorde para o mês