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Jack Ma acha que o comércio previne guerras. É verdade?

O bilionário chinês defendeu a globalização em entrevista para a CNN, mas será que o comércio internacional tem mesmo alguma coisa a ver com a paz?

Jack Ma, bilionário chinês, é fundador do Alibaba, uma gigante do comércio eletrônico (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de setembro de 2016 às 08h01.

São Paulo - O bilionário chinês Jack Ma , dono da gigante do comércio eletrônico Alibaba , aproveitou a reunião do G20 que está acontecendo na China para mandar um recado:

“A globalização é boa. Quando o comércio para, as guerras seguem”, disse em entrevista para a CNN em Hangzhou, onde acontece o evento.

Mas será que isso é verdade? Há evidências que sim, diz um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences por Matthew Jackson e Stephen Nei, da Universidade de Stanford.

Primeiro, eles observaram que há cada vez menos guerras entre estados nacionais: no período entre 1950 e 2000, a incidência foi 10 vezes menor do que no período entre 1820 e 1949 (foram considerados os conflitos entre ao menos dois países com mais de mil mortes).

Isolando variáveis, o fator que aparece com uma correlação estatística mais forte é justamente a densidade de alianças comerciais. Ou seja, a probabilidade de que dois países entrem em guerra cai na medida em que aumentam os laços entre eles.

"Comércio em alta diminui os incentivos dos países para atacar uns aos outros e aumenta seus incentivos para defender um ao outro, levando a uma rede estável e pacífica de alianças militares e comerciais que é consistente com os dados observáveis", diz o texto.

A tese faz sentido mas vale lembrar que correlação não significa causalidade: por mais que dois fatores estejam relacionados estatisticamente, isso não significa que um é causa do outro. Afinal, muitas outras coisas mudaram no mundo no último século.

Nosso maior exemplo de integração comercial é a União Europeia, que para todos os efeitos conseguiu garantir a paz em uma região com um histórico de grandes conflitos.

Mas essa narrativa sofreu um baque recentemente com o voto do Reino Unido para deixar o bloco, uma decisão que ainda não foi concretizada na prática mas já está deixando marcas.

"A Brexit é um sinal de desglobalização e de uma resistência pública crescente à ideia de que estamos todos conectados através de um fluxo de pessoas, dinheiro, bens e serviços", diz Ian Bremmer, fundador da consultoria política Eurasia, em entrevista para EXAME.com.

O discurso contra a globalização também vem aparecendo na campanha presidencial americana. Os dois candidatos se colocam contra a Parceria Transpacífica (TPP) e Trump promete colocar uma tarifa de 45% nas importações chinesas.

O único assessor acadêmico econômico de Trump, o professor Peter Navarro, se tornou conhecido por seus livros e documentários contra a China. Em entrevista recente para EXAME.com, ele explicou a ameaça do candidato:

"A China está inundando os mercados americanos com seus produtos ilegalmente subsidiados e fechando fábricas americanas (...) Esse tipo de status quo é muito pior do que uma China forçada a comercializar de forma justa por padrões internacionais. A ameaça de tarifas está desenhada para encorajar a China a ser um ator responsável ao invés de mercantilista."

Jack Ma não deixou barato e mandou sua resposta na mesma entrevista para a CNN:

"Toda vez que há uma eleição, as pessoas começam a criticar a China. Mas como você pode parar o comércio global? Como você pode construir um muro para impedir o comércio?".

Essa última parte parece ser uma referência ao muro que Trump promete construir na fronteira com o México (e ainda botando na conta do vizinho).

No que vale de verdade, os números, há razões para otimismo. O comércio internacional cresceu de forma "modesta" no segundo trimestre no G20, após quedas ininterruptas desde o começo de 2014, anunciou nessa semana a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

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Mas será que isso é verdade? Há evidências que sim, diz um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences por Matthew Jackson e Stephen Nei, da Universidade de Stanford.

Primeiro, eles observaram que há cada vez menos guerras entre estados nacionais: no período entre 1950 e 2000, a incidência foi 10 vezes menor do que no período entre 1820 e 1949 (foram considerados os conflitos entre ao menos dois países com mais de mil mortes).

Isolando variáveis, o fator que aparece com uma correlação estatística mais forte é justamente a densidade de alianças comerciais. Ou seja, a probabilidade de que dois países entrem em guerra cai na medida em que aumentam os laços entre eles.

"Comércio em alta diminui os incentivos dos países para atacar uns aos outros e aumenta seus incentivos para defender um ao outro, levando a uma rede estável e pacífica de alianças militares e comerciais que é consistente com os dados observáveis", diz o texto.

A tese faz sentido mas vale lembrar que correlação não significa causalidade: por mais que dois fatores estejam relacionados estatisticamente, isso não significa que um é causa do outro. Afinal, muitas outras coisas mudaram no mundo no último século.

Nosso maior exemplo de integração comercial é a União Europeia, que para todos os efeitos conseguiu garantir a paz em uma região com um histórico de grandes conflitos.

Mas essa narrativa sofreu um baque recentemente com o voto do Reino Unido para deixar o bloco, uma decisão que ainda não foi concretizada na prática mas já está deixando marcas.

"A Brexit é um sinal de desglobalização e de uma resistência pública crescente à ideia de que estamos todos conectados através de um fluxo de pessoas, dinheiro, bens e serviços", diz Ian Bremmer, fundador da consultoria política Eurasia, em entrevista para EXAME.com.

O discurso contra a globalização também vem aparecendo na campanha presidencial americana. Os dois candidatos se colocam contra a Parceria Transpacífica (TPP) e Trump promete colocar uma tarifa de 45% nas importações chinesas.

O único assessor acadêmico econômico de Trump, o professor Peter Navarro, se tornou conhecido por seus livros e documentários contra a China. Em entrevista recente para EXAME.com, ele explicou a ameaça do candidato:

"A China está inundando os mercados americanos com seus produtos ilegalmente subsidiados e fechando fábricas americanas (...) Esse tipo de status quo é muito pior do que uma China forçada a comercializar de forma justa por padrões internacionais. A ameaça de tarifas está desenhada para encorajar a China a ser um ator responsável ao invés de mercantilista."

Jack Ma não deixou barato e mandou sua resposta na mesma entrevista para a CNN:

"Toda vez que há uma eleição, as pessoas começam a criticar a China. Mas como você pode parar o comércio global? Como você pode construir um muro para impedir o comércio?".

Essa última parte parece ser uma referência ao muro que Trump promete construir na fronteira com o México (e ainda botando na conta do vizinho).

No que vale de verdade, os números, há razões para otimismo. O comércio internacional cresceu de forma "modesta" no segundo trimestre no G20, após quedas ininterruptas desde o começo de 2014, anunciou nessa semana a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

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