Preços: o principal fator surpresa foi o grupo Alimentação e Bebidas, que teve deflação forte (Marcos Issa/Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de junho de 2017 às 17h22.
São Paulo - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu mais uma vez o mercado ao ficar em 0,31% em maio, taxa mais alta do que a registrada em abril (0,14%), mas a mais baixa para o mês desde 2007 (0,28%) e bem aquém da mediana da pesquisa do Projeções Broadcast (0,46%).
Diante do resultado inesperado, as expectativas para inflação deste ano devem cair ainda mais. O boletim Focus já mostra estimativa mediana de 3,90% e de 3,64% no Top 5 para 2017.
Em 12 meses encerrados em maio, o IPCA arrefeceu para 3,60%, após 4,08% em abril, atingindo também a menor taxa em exatamente 10 anos (3,18%).
Apesar disso, as incertezas derivadas do cenário político adverso seguem como principal condicionante para a política monetária.
Os economistas afirmam que o cenário de inflação favorável, reforçado nesta leitura, abre espaço para a manutenção do ritmo de corte de juros, mas a comunicação do Banco Central com sinalização de redução moderada no passo de afrouxamento ainda pesa.
No resultado do mês de maio, o Goldman Sachs destaca o desvio da taxa efetiva do IPCA (0,31%) ante a mediana das expectativas (0,46%) como um dos maiores em "muito tempo".
Segundo os economistas, o principal fator surpresa foi o comportamento do grupo Alimentação e Bebidas, que teve deflação forte, de 0,35% ante alta de 0,58% em abril.
"Além disso, a abertura do relatório foi muito benigna, com preços de serviços e núcleos da inflação abaixo do esperado e, ainda, desaceleração expressiva do índice de difusão e preços de serviços subjacentes na margem", acrescenta o economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.
O analista econômico da RC Consultores Everton Carneiro ainda destaca que a pressão de alta no IPCA de maio foi pontual, efeito da devolução altista do desconto concedido na conta de luz em abril.
"O restante dos itens mostra alívio estrutural generalizado. E, como a atividade econômica está muito fraca, é improvável que vejamos altas fortes até o final do ano", afirma.
Diante do atual cenário de alívio inflacionário, o economista-chefe da Kapitalo Investimentos, Alfredo Binnie, afirma que a previsão de 3,75% para o IPCA fechado em 2017 pode ser alterada para uma taxa menor.
"Tem viés de baixa. Dá para reduzir cerca de 0,10 ponto porcentual", adianta.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, também afirma que sua projeção para o IPCA do ano, atualmente em 3,88%, deve ser reduzida.
"O que vai continuar a fazer diferença ao longo do ano é o hiato do produto, que é desinflacionário."
Sobre o tema, Mauricio Godoi, professor de economia da Saint Paul Escola de Negócios, lembra que seria melhor ter a inflação comportada com a economia mais forte e não pela demanda fraca, uma das principais razões para a forte desinflação no momento.
"Não temos muito a comemorar", diz.
Oliveira, devido à atividade fraca e à qualidade do processo desinflacionário, não descarta ainda a manutenção do corte de 1 ponto porcentual na próxima decisão de política monetária.
Ramos, do Goldman Sachs, acrescenta que essa possibilidade será ainda mais provável se as atuais incertezas que pesam sobre o quadro político diminuírem até o próximo encontro, nos dias 25 e 26 de junho.
Outros analistas consultados, contudo, veem que a incerteza política ainda deve limitar o ritmo de corte de juros, conforme a comunicação do BC.
"É possível pensar em corte mais forte, mas o político está muito incerto", afirma Binnie, da Kapitalo.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal, pondera também que a comunicação do BC pode mudar até o Copom.
"Até o próximo encontro, tem a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação. Pode mudar tranquilamente o discurso até lá", diz.
Em relação à possibilidade de redução da meta de inflação de 2019, que será definida ainda este mês pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), Souza Leal está mais cético.
Em condições normais, acrescenta, daria a redução na meta inflacionária como certa, mas dada a crise atual, pode ser que não haja espaço.
Mas o economista avalia que há possibilidade de o CMN decidir pela redução em 2018, podendo ser até mais forte que a que seria feita neste ano.