As passagens áreas e os alimentos foram os vilões da inflação (Divulgção)
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2011 às 15h27.
São Paulo - A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) superou as previsões de analistas em setembro, pressionada principalmente por aumentos de alimentos e passagens aéreas.
Economistas ressaltaram a alta dos custos de serviços --uma indicação de pressão de demanda-- e que o cenário tem riscos, inclusive com a recente alta do dólar, que encostou em 1,80 real.
Tudo isso, acrescentaram, logo após o Banco Central (BC) ter cortado a taxa de juro brasileira, de 12,50 por cento para 12 por cento, alimentando dúvidas sobre o cumprimento do centro da meta de inflação.
O IPCA-15 subiu 0,53 por cento em setembro, ante alta de 0,27 por cento em agosto, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira. Analistas consultados pela Reuters previam uma subida de 0,48 por cento, de acordo com a mediana de 13 respostas. O resultado deste mês ficou acima do teto das expectativas, que variaram de 0,40 a 0,52 por cento.
Em 12 meses até setembro, o indicador já mostra alta de 7,33 por cento, mantendo-se acima do teto da meta perseguida pelo governo no ano, que é de 6,50 por cento pelo IPCA. Em agosto, essa leitura havia sido de 7,10 por cento.
"A inflação anual (12 meses) está acima do teto da meta e as medidas de núcleo estão elevadas, complicando o trabalho do BC se ele se importa com a meta", disse o chefe de pesquisa econômica para América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho.
Quando reduziu a Selic, em agosto passado, o BC citou a possibilidade de um efeito deflacionário no Brasil decorrente do desaquecimento mundial. O mercado, no entanto, não está muito confiante nisso e continua elevando as previsões de inflação, enquanto cortam as da Selic.
A pesquisa Focus junto a analistas mostrou na véspera que os analistas projetam uma inflação de 6,46 por cento neste ano e de 5,50 por cento em 2012.
Mais pressões
Segundo o IBGE, os custos do grupo Alimentação e bebidas passaram de alta de 0,21 por cento em agosto para 0,72 por cento neste mês, com elevações de produtos como açúcar cristal e refinado, leite pasteurizado, frango e carnes.
Os preços de Vestuário aumentaram 1 por cento agora, contra 0,68 por cento antes. Os de Transportes aceleraram o aumento de 0,03 para 0,70 por cento, refletindo um reajuste nas passagens aéreas.
"As principais pressões para cima foram de alimentos e vestuário, que são em parte sazonais. Apesar disso, o núcleo da inflação continuou subindo, em uma indicação de pressões generalizadas de preços... e não houve melhora da inflação de serviços, que continuou elevada em consequência da inércia alta e da demanda robusta", afirmou em nota o economista-chefe do Citigroup no Brasil, Marcelo Kfoury.
"Esperamos mais pressões para cima no curto prazo, vindo também da depreciação da moeda", acrescentou Kfoury.
Dólar entra no radar
Recentemente o dólar vem em uma tendência de alta, atingindo 1,80 real nesta manhã e acumulando alta de mais de 12 por cento neste mês. Para ter impacto na inflação, no entanto, a alta precisa se manter por algum tempo e, portanto, ainda não chega a preocupar.
"Claro que não ajuda. Se for para colocar um viés, é para cima... mas a inflação é movida muito mais por inércia e demanda do que por pressões externas. Câmbio não é o fator principal para determinar inflação", disse o economista do RBS Global Banking & Markets, Marcelo Gazzano.
"Não é só bater 1,80 (real) e depois voltar. Tem que bater e ficar por um tempo. Na nossa conta, o 'pass through' é de 9 por cento. A cada 1 por cento de depreciação do câmbio, bate no IPCA em 0,09 ponto no longo prazo, em um período de 12 meses, por exemplo. É uma pressão pequena.
O BC tem sinalizado que o nível da taxa de câmbio tem hoje menos peso para a definição da política monetária do que no passado. Em entrevista recente, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, afirmou que o repasse de uma variação do câmbio para os preços é de cerca de 3 por cento no curto prazo e de até 8 por cento no longo prazo, nível que ele considerou "baixo".
Tombini também lembrou que, em 2009, o efeito da crise foi desinflacionário, apesar da valorização do real.
Para analistas, o IPCA de setembro também deve vir mais pressionado, como o IPCA-15, sendo a principal pressão também a de alimentos, bastante voláteis.
"O grupo Alimentação e bebidas deve registrar, no IPCA fechado de setembro, taxa próxima à observada no IPCA-15, como reflexo das altas dos preços agropecuários no atacado", disse o economista da corretora Concórdia, Fábio Combat.
"Os grupos Transporte e Vestuário também devem exercer pressões positivas, contribuindo para a aceleração do IPCA."
O IPCA-15 é uma prévia do IPCA, índice usado pelo governo como referência para as metas de inflação. A única diferença é o período de coleta dos preços. O IPCA-15 de setembro colheu os preços de 13 de agosto a 13 de setembro, enquanto o IPCA mede o mês calendário.