O ritmo de retomada da taxa de investimento no Brasil, a partir de 2016, dependerá de quem será o presidente (Montagem/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2014 às 10h46.
São Paulo - O primeiro ano de governo do próximo presidente da República será marcado pelo investimento ainda estagnado, ou mesmo em queda, na avaliação de economistas, analistas e acadêmicos ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ao longo desta semana.
A recuperação da confiança dos empresários e a retomada no fluxo de investimentos devem ocorrer só em 2016 e tendem a ter o ritmo mais acelerado com a vitória da oposição. Os candidatos Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) são considerados pelo mercado mais liberais do que a presidente Dilma Rousseff (PT), o que beneficia o empreendedorismo privado.
O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, é pessimista e espera piora do investimento em 2015. Ele cita o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil, que, em sua estimativa, deve cair no ano que vem para nível inferior aos US$ 60 bilhões previstos para 2014, independentemente de quem for eleito. Além dos ajustes internos, a baixa, segundo Afonso Lima, ocorrerá em linha com a retração nos investimentos em países emergentes.
"Não dá para acreditar que por conta de uma alteração no governo, independente de quem assumir, o atual cenário de investimento mudará em 2015", reforçou o professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) Alberto Borges Matias
De acordo com o presidente da Sobeet, o ritmo de retomada da taxa de investimento no Brasil, a partir de 2016, dependerá de quem será o presidente. Com Marina ou Aécio eleitos, ele estima que os investimentos poderiam atingir 21% do PIB em 2016. O economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Juan Jensen, concorda. Segundo ele, em eventuais governos da oposição, a taxa de investimento do Brasil deverá superar os 20% do PIB.
Já num segundo mandato de Dilma, a taxa só voltaria para os 18% do PIB apurados em 2013 num prazo de dois anos, de acordo com as previsões de Lima. Jensen avalia que, com a reeleição de Dilma, o investimento ficaria praticamente estável próximo às taxas de hoje - entre 17% e 18% do PIB. "Nossa visão é de que tem muita incerteza por parte dos investidores. Vimos muitas intervenções do atual governo na economia, com alterações de regras no meio do jogo", justificou.
Privatizações
Um dos fatores que levam os especialistas a atribuírem maior possibilidade de avanço dos investimentos no caso de uma vitória de Aécio é o histórico de privatizações do PSDB, já que a percepção é de que isso favoreceria os investimentos diretos em infraestrutura. O tucano e Marina, de acordo com o professor Matias, "mostraram claramente que o modelo adotado seria o de menor intervenção do Estado na logística e infraestrutura, com concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs)".
"Dilma, pelo histórico, continuará fazendo mais do mesmo, expandindo crédito, apostando no aumento da renda para estimular a demanda e, se fizer algumas mudanças, será contra a vontade dela", disse. "Da Marina a gente só conhece o programa de governo, que toca em pontos sobre os quais o empresariado vem reclamando há muito tempo. O PSDB tem histórico e experiência para resgatar a confiança do investidor doméstico e estrangeiro", completou Afonso Lima.
Jensen aponta ainda que a Taxa Interna de Retorno (TIR) dos investimentos poderá sofrer interferência do governo caso Dilma seja reeleita. Nos governos de Marina ou Aécio, ele avalia que a TIR seria definida pelo mercado, desde que sejam criadas condições competitivas. Ainda para o economista, o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento de investimentos tende a se reduzir numa eventual gestão de Marina ou de Aécio.
Já o sócio fundador da GO Associados, Gesner Oliveira, avalia que o BNDES seguirá com papel fundamental no financiamento de projetos de infraestrutura no próximo governo, independentemente de quem seja o vencedor. "Seria ilusório imaginar que, de repente, haverá a substituição pelo financiamento privado."
Para Oliveira, o fato de Aécio ter anunciado Armínio Fraga como seu ministro da Fazenda, caso seja eleito, é positivo para as estimativas de investimento. Segundo ele, sinais "positivos e claros" de candidatos para as políticas econômicas e de investimentos animam empresários.
Oliveira considera um avanço as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e as concessões no governo Dilma e cobra uma sinalização mais clara dos candidatos de que essas ações continuarão. "Marina e Aécio têm uma propensão a colocar o Estado na condição de regulador e menos interventor. Eu acho um bom sinal e também entendo que Dilma evoluiu nessa questão e, portanto, tem havido convergência dos candidatos que aceitaram a realidade", avaliou.