Economia

Infraestrutura é gargalo crônico no Brasil, diz FT

Segundo o jornal britânico, governo Dilma têm de ir além dos investimentos previstos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas


	Infraestrutura: Brasil perde para China e México em ranking de qualidade
 (Arquivo/Exame/EXAME.com)

Infraestrutura: Brasil perde para China e México em ranking de qualidade (Arquivo/Exame/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2012 às 19h52.

São Paulo - Os desafios que o Brasil enfrenta vão muito além de seus planos para sediar as Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014. O governo da presidente Dilma Rousseff tem pela frente o dever de desatar o nó de gargalos crônicos na infraestrutura do país. A avaliação consta de matéria publicada pelo jornal britânico Financial Times nesta terça-feira. Segundo a reportagem, os eventos esportivos são apenas uma oportunidade de o país mostrar que pode realizar grandes projetos, mas é necessário fazer muito mais para garantir progresso econômico no longo prazo.

O artigo destaca que o modelo que garantiu o recente sucesso econômico do Brasil – impulsionado pelos preços elevados das commodities e da emergência dos consumidores da classe média com acesso mais fácil ao crédito – não é suficiente para sustentar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) com o passar dos anos. O FT então alerta que o Palácio do Planalto terá de mudar de estratégia, investindo mais em infraestrutura.

O jornal cita o aumento das exportações de commodities nos últimos anos, como minério de ferro e soja, que têm congestionado rodovias e portos. O efeito dos gargalos em infraestrutura, diz o FT, é o sufocamento do crescimento do país – algo possível de verificar na desaceleração da alta do PIB que, em 2010 fechou em 7,5%, e em 2012 foi para menos de 2%. "Toda vez que falamos com um investidor no Brasil, o maior e mais importante problema que se fala é de infraestrutura", diz David Beker do Bank of America Merrill Lynch, ao FT.


A reportagem destaca uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial que mede a qualidade de infraestrutura dos países. O Brasil marcou 3,6 numa escala de pontuação que vai até a 7, contra 5,5 da China. México e Chile também venceram o país em quase todas as medidas: de estradas, ferrovias e portos, passando pelo transporte aéreo, com exceção do fornecimento de energia elétrica. O número de passageiros que utilizam os aeroportos brasileiros cresceu 75% entre 2007 e 2011, o que obrigou muitos deles funcionar com excesso de capacidade.

Bom sinal – A publicação lembra e comemora o recente pacote de infraestrutura anunciado pelo governo, que prevê a concessão à iniciativa privada de 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de ferrovias federais. Em entrevista ao FT, Alberto Ramos, do Goldman Sachs, disse que as discussões agora finalmente giram em torno das questões certas. "Esta não é uma estratégia que vai lhe dar um crescimento espetacular no curto prazo. Mas com certeza é uma estratégia que pode elevar o potencial de crescimento”, disse.

A notícia, apesar de animadora para os investidores, ganha uma pitada de ceticismo por parte do FT. A publicação relembra que apenas pouco mais de metade do investimento previsto para a logística e serviços essenciais (água, saneamento, luz, etc) foi concluído pelo governo. Burocracia, problemas com projetos estruturantes e a própria inércia do setor público contribuem para os atrasos, diz o jornal.

Para superar a dependência do BNDES – praticamente o único financiador de longo prazo do país e que não dá conta de todos as demandas por crédito –, o governo anunciou a desoneração de imposto de renda ao setor privado e investidores estrangeiros em títulos para projetos de infraestrutura. Com os bancos europeus e americanos menos inclinados a emprestar na atual conjuntura de crise, os governos – federal, estaduais e municipais – têm de ser mais inovadores na maneira de atrair investidores, destaca a reportagem.

Por fim, a reportagem alerta para o risco de o Brasil apostar em projetos não-prioritários, como o do trem-bala, que vai ligar São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, a um custo de 33 bilhões de reais. E lembra dos "elefantes brancos" dos jogos do PanAmericanos, do Rio de Janeiro, que teve obras dez vezes mais caras que as estimativas iniciais.

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