Banco Central: Copom, de olho em 2011, deve elevar a Selic novamente em 0,75 ponto percentual (.)
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2010 às 14h06.
São Paulo - Mesmo vindo ligeiramente abaixo das expectativas do mercado, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que desacelerou para 0,43% em maio, não vai alterar os planos do Banco Central (BC) com relação à Selic. Especialistas afirmam que a autoridade monetária vai promover, nesta quarta-feira (9), um novo aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica da economia.
Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria, explica que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já está de olho na inflação de 2011, e deve basear sua decisão nesta perspectiva. "Em 2010, a inflação já foi bastante pressionada, subindo rapidamente. Isso impactou as projeções para o IPCA em 2011 e motiva o atual ciclo de aperto monetário." Com base nesta premissa, Barbosa prevê para hoje (9) uma reprise da última decisão do Copom.
Em 2010, é consenso do mercado a previsão de que a inflação ficará dentro da meta, cujo intervalo é de 2,5% a 6,5%. O último boletim Focus aponta uma expectativa de IPCA em torno de 5,6% no fim do ano. Já as consultorias projetam o indicador mais próximo dos 5%. Entretanto, para 2011 a incerteza é maior, justificando a preocupação do BC com o longo prazo.
Na opinião do economista Fábio Romão, da LCA Consultores, a alta da Selic terá um efeito mais "psicológico" do que prático no curto prazo. Isto significa que o aumento dos juros, ainda em 2010, deve mitigar as expectativas de inflação que aparecem nos boletins Focus. "O efeito da ação do BC demora para aparecer. Eles trabalham em função de 2011. No presente, tem mais a ver com o discurso e as expectativas do mercado."
Para Romão, que espera uma inflação de 5,2% no fim de 2010, a atuação do Copom antecipa uma possível alta nos preços das commodities para o ano que vem. "A economia dos Estados Unidos vai mostrar uma recuperação mais consistente, e, na Europa, deve haver maior estabilidade. Isso pode encorajar um reajuste maior das commodities, aumentando os preços em toda a cadeia produtiva puxando a inflação", afirma.
Minério
As commodities, entretanto, não trazem apenas preocupações mais distantes. Em maio, um reajuste nos preços do minério de ferro foi responsável por um terço da inflação total (1,11%) media pelo IGP-10. Os danos colaterais incluíram impactos ainda no atacado, que registrou aumento de 21,02%.
Segundo Gian Barbosa, da Tendências Consultoria, este movimento de alta impacta os índices gerais de preços, exercendo forte pressão inflacionária. Quando o minério encarece, provoca o mesmo efeito também no aço e, consequentemente, nos carros e imóveis. Esta reação em cadeia certamente desperta a atenção do Banco Central.
Na opinião do economista, a influência do minério deve afetar os IGPs no segundo semestre, mas ele explica que a alta observada em maio, e a esperada para junho, são os picos. Nos próximos meses, a tendência é de queda.
Barbosa ressalta ainda que o impacto das commodities sobre a inflação oficial é baixo. "Na série histórica do IPCA, os efeitos são pouco expressivos. Talvez haja uma interferência indireta, via IGPs, que estão sendo muito pressionados. Mas estes índices vêm perdendo influência nos cálculos dos reajustes de preços, dando lugar ao IPCA e ao IPC."
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