Economia

Inflação em forte queda aumenta apostas sobre corte da meta

Credibilidade retomada do BC está alimentando esperanças de que o Brasil possa finalmente virar a página após décadas de inflação alta

Banco Central: inflação foi abaixo da meta do governo pela primeira vez na série histórica iniciada em 2009 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

Banco Central: inflação foi abaixo da meta do governo pela primeira vez na série histórica iniciada em 2009 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 14h45.

São Paulo - Investidores estão dando o benefício da dúvida ao Banco Central pela primeira vez em pelo menos sete anos ao apostarem que as expectativas de inflação em queda abrirão espaço para um corte da meta de alta de preços.

A inflação implícita de dois anos, uma medida das expectativas do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou em 4,35 por cento na segunda-feira, segundo dados compilados pela Anbima.

É a primeira vez que a métrica cai abaixo do centro da meta do governo, de 4,5 por cento, desde o início da série histórica, em setembro de 2009.

A inflação implícita de três anos também está abaixo do centro da meta, destacando a crescente confiança dos investidores na capacidade do presidente do BC, Ilan Goldfajn, de controlar consistentemente a alta dos preços.

"A discussão sobre se vamos atingir a meta acabou. A questão agora é se teremos uma meta mais baixa nos próximos anos", disse o operador de renda fixa da corretora Renascença Bruno Mota Gouvêa.

A credibilidade retomada do BC está alimentando esperanças de que o Brasil possa finalmente virar a página após décadas de inflação alta.

Mas céticos dizem que isso dependerá não só da política monetária, mas também da aprovação de uma série de reformas estruturais pelo presidente Michel Temer antes das eleições de 2018, que já carregam a promessa de forte incerteza.

O regime brasileiro de metas de inflação há muito enfrenta dificuldades ligadas a leis atrelando transferências do governo, salários e preços administrados à inflação passada, uma herança de um período de hiperinflação nas décadas de 1980 e 1990.

Fortes regulações trabalhistas também dificultam cortes de salário ou demissões, forçando empresas a aumentar os preços quando custos aumentam.

Temer deu passos na direção de atacar alguns desses gargalos estruturais, aprovando um teto de crescimento dos gastos públicos em dezembro e preparando reformas da Previdência e do mercado de trabalho para este ano.

Mas pode ser uma batalha árdua para um presidente que lida com um Congresso notoriamente fragmentado e escândalos de corrupção envolvendo figuras do alto escalão de seu governo.

"A inflação no Brasil é muito resiliente, é difícil imaginá-la consistentemente abaixo de 4,5 por cento", disse o diretor de gestão de riquezas da corretora Ativa Investimentos, Arnaldo Curvello.

O tombo das expectativas de inflação reduziu a diferença entre os rendimentos de títulos prefixados e de títulos indexados à inflação, a chamada inflação implícita, dramaticamente nos últimos meses.

Os preços das LTNs para julho de 2020 subiram 8,3 por cento nos últimos três meses, reduzindo suas taxas em 2 pontos percentuais, para 5,48 por cento.

No mesmo período, os preços das NTN-Bs para agosto de 2020 subiram apenas 4,3 por cento, com os rendimentos caindo 0,7 ponto percentual para 5,48 por cento.

Estrategistas do Santander dizem que o movimento já capturou a maior parte do impacto do esperado corte da meta de inflação. Em nota a clientes, eles recomendam vender LTNs e comprar NTN-Bs já que "pelo menos 70 por cento do rali já aconteceu".

Reversão dramática

A manobra ilustra uma forte mudança nas atitudes dos investidores diante do BC, que por anos foi acusado de tolerar inflação alta para proteger empregos e estimular o crescimento econômico no curto prazo.

A inflação terminou acima do centro da meta em cada um dos últimos sete anos, disparando a dois dígitos em 2015.

Isso levou o BC a elevar a Selic da mínima histórica de 7,25 por cento a um pico em nove anos de 14,25 por cento em 2015.

Ilan foi criticado por demorar demais para cortar os juros enquanto a economia afundava em sua mais profunda recessão.

Mas seus esforços estão rendendo frutos, com a inflação ficando abaixo das expectativas por cinco meses seguidos e facilitando o primeiro ciclo de queda das taxas em quatro anos.

O Conselho Monetário Nacional (CMN), composto por Ilan e pelos ministros do Planejamento e da Fazenda, deve decidir sobre a meta de inflação de 2019 até o fim de junho.

Doze de 20 economistas em uma pesquisa da Reuters em janeiro esperavam uma meta mais baixa, com dez projetando 4 por cento.

Ilan já sugeriu que o Brasil está caminhando para uma meta mais em linha com outros mercados emergentes, muitos dos quais, como o México e a Colômbia, miram uma taxa anual de 3 por cento.

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