Os clientes compram mantimentos em uma loja em San Francisco, Califórnia, EUA, na quinta-feira, 11 de novembro de 2021 (Bloomberg/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 20 de dezembro de 2021 às 19h14.
Última atualização em 20 de dezembro de 2021 às 19h20.
À medida que famílias no mundo todo planejam as comemorações natalinas novamente, enfrentam uma dura realidade: alimentos tradicionais, especialmente aqueles vendidos por um período limitado mesmo em um ano normal, estão significativamente mais caros em 2021, se é que estão disponíveis.
“Você pode conseguir trocar algumas coisas; em vez de peru ou bife caro, pode considerar algo mais barato para o jantar”, disse Curt Covington, diretor sênior de crédito institucional da AgAmerica Lending, que concede empréstimos a agricultores. Mas não há como escapar quando se trata da mesa nas festas de fim de ano: tudo “vai ser mais caro”.
Em países como Brasil, China, Reino Unido, Romênia e Estados Unidos, o salto dos preços dos alimentos vai silenciar as festividades de fim de ano. Famílias podem estar ansiosas por um retorno ao normal, mas, com as cadeias de suprimentos cedendo sob o peso da escassez generalizada de mão de obra e pressão contínua da covid-19, alimentar as famílias nesta temporada de festas será difícil.
Fátima Santos descreve a ceia de Natal planejada por sua família em 2021 em uma palavra: magra. Nem bacalhau nem peru será servido neste ano, disse a cabeleireira desempregada, de 41 anos, enquanto olhava as prateleiras em busca de ofertas em um supermercado do Rio de Janeiro. “Ovo é o novo bife da nossa casa. Até o arroz e feijão estão supercaros”, disse. Não que sejam típicos das festas de fim de ano, mas, com os altos preços da carne, esse prato do dia a dia será comum nas ceias dos brasileiros.
Embora o Brasil seja um dos maiores produtores mundiais de commodities agrícolas, a demanda crescente no exterior e a alta do dólar tornaram as exportações mais rentáveis, deixando menos alimentos produzidos no país no mercado interno. Ao mesmo tempo, o clima extremo neste ano — a pior seca em um século seguida por uma geada sem precedentes — prejudicou as safras do país e acelerou a inflação. A Fundação Getulio Vargas calcula que os preços da carne bovina subiram cerca de 15% nos últimos 12 meses, enquanto os custos do frango avançaram mais de 24%.
A rede de supermercados Zona Sul tem oferecido mais produtos locais para que as famílias possam driblar a inflação. O tradicional bacalhau da Noruega ainda está disponível para o Natal, mas a rede também está vendendo pirarucu, peixe encontrado na Amazônia, por até metade do preço.
A rede enfrentou atrasos nas importações de vinhos e espumantes devido à escassez de contêineres e ofereceu descontos para marcas locais. “À medida que o poder de compra diminui, as pessoas buscam marcas secundárias”, disse o diretor executivo da rede, Pietrangelo Leta.
A chef Priscila Santana geralmente vende rabanadas na época das festas. Mas teve de aumentar os preços neste ano em mais de 10% devido aos custos crescentes do pão, leite e ovos, além da gasolina necessária para o transporte. Apesar de iniciar as vendas com várias semanas de antecedência no no início deste ano e aceitar cartões de crédito e vale-refeição, ela ainda observa demanda menor. “Espero vender 20% menos neste ano. Alguns de meus clientes tiveram de desistir das rabanadas para comprar quentinhas para o almoço.”