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Indústria eólica teme fábricas ociosas por BNDES e demanda

A indústria de energia eólica do Brasil teme que um recuo nos generosos financiamentos do BNDES e uma demanda mais fraca resultem em fábricas paradas


	Energia eólica: situação colocaria mais pressão nas fábricas de equipamentos para o setor
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Energia eólica: situação colocaria mais pressão nas fábricas de equipamentos para o setor (Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2016 às 16h59.

São Paulo - A indústria de energia eólica do Brasil teme que um recuo nos generosos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao setor e a redução no ritmo de contratação de novas usinas devido à menor demanda por eletricidade resultem em fábricas paradas para diversos fabricantes que se instalaram no país nos últimos anos.

A situação colocaria mais pressão nas fábricas de equipamentos para o setor --que viu a capacidade instalada crescer quase mil por cento nos últimos anos, de cerca de 900 megawatts em 2010 para atuais 9,8 gigawatts--, mas que está sofrendo com menores contratações recentemente, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Desde o início da década, fabricantes como a norte-americana GE, as espanholas Gamesa e Acciona e a dinamarquesa Vestas abriram fábricas no Brasil para poder vender equipamentos aos clientes locais com financiamento do BNDES, que exige um elevado nível de conteúdo local nas máquinas para conceder os empréstimos.

Mas há uma tensão entre os fabricantes, que já temiam uma menor demanda devido à queda no consumo de eletricidade com a crise econômica e agora estão mais preocupados com a recente sinalização de que o BNDES poderá reduzir financiamentos à área de energia, afirmou à Reuters a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum.

"Parece bastante controverso, bastante fora de rumo, o Brasil ao mesmo tempo querer providenciar investimento em infraestrutura e tirar o BNDES de seu papel. Porque no curto e no médio prazo o mercado não tem opção. Os bancos privados não emprestam a longo prazo e as taxas são proibitivas", disse.

O vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês), Everaldo Feitosa, também considera o BNDES o único financiamento viável ao setor no atual cenário e prevê problemas no caso de redução nos recursos do banco.

"A indústria que fez o dever de casa, toda a cadeia produtiva de geradores, pás, vai ser fortemente prejudicada. Vai na contramão de tudo que tem sido feito no contexto de ter uma fabricação local e geração de empregos."

POUCAS ALTERNATIVAS

Ele disse que uma alternativa para os investidores seria a busca por financiamentos no exterior, mas ressaltou que seria preciso mitigar riscos cambiais.

"Existem recursos abundantes, mas se qualquer empresa pegar recurso em dólar ou euro fica exposta à mudança cambial, já que os contratos de venda de energia são em reais." Há duas semanas, a nova presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, disse que a participação do banco nos financiamentos a projetos de energia em geral deve ser revista para baixo, o que já foi feito para o setor de transmissão de eletricidade.

Procurado, o BNDES disse que ainda não tem informações sobre eventual mudança, mas ressaltou que "a nova administração está revisitando todas as políticas operacionais do banco". Os desembolsos do banco estatal para usinas eólicas somaram 6 bilhões de reais em 2015 e 3,3 bilhões de reais em 2014.

Para Feitosa, uma saída seria o BNDES criar um mecanismo de hedge cambial e incentivar as empresas a buscar recursos no exterior.

"Existe um apetite muito grande de setores internacionais em financiar o Brasil... o que não pode acontecer é cortar financiamento do BNDES, cortar os leilões... o Brasil avançou de forma surpreendente em energia eólica, saiu lá de trás e está hoje entre os maiores do mundo, é um esforço que não pode ser jogado fora", disse.

DEMANDA EM XEQUE

Capitaneada pela Abeeólica, a indústria tem mantido conversas com o governo com o objetivo de convencer as autoridades sobre a importância de se contratar um volume mínimo de usinas eólicas por ano.

A entidade estima que sejam necessários cerca de 2 gigawatts em negócios anuais para manter as fábricas ocupadas. Em 2015 o segmento teve uma contratação de 1 gigawatt, ante 2,2 gigawatts em 2014 e um recorde de 4,7 gigawatts em 2013.

Nesta quinta-feira, o governo agendou para 16 de dezembro um leilão para viabilizar novas usinas eólicas e solares, embora ainda não seja possível prever quanto será contratado.

"A gente já está com defasagem do ano passado... essa contratação é fundamental", disse Elbia. "É um momento de choque de demanda para baixo e a indústria está vendo isso com preocupação... corremos o risco de destruir cadeias produtivas importantes... essa indústria investiu muito para estar aqui".

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