Economia

Indústria criou 375 mil vagas em um trimestre, aponta IBGE

Apesar da boa notícia, a expansão se deu por meio de um aumento de trabalhadores informais, especialmente na indústria alimentícia

Indústria de Alimentos: puxou aumento, tanto formal como informalmente (Angel Navarrete/Bloomberg)

Indústria de Alimentos: puxou aumento, tanto formal como informalmente (Angel Navarrete/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de julho de 2017 às 12h26.

Rio - A indústria criou 375 mil postos de trabalho em um trimestre, o equivalente a um aumento de 3,3% no total de ocupados no setor. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar da boa notícia, a expansão se deu por meio de um aumento de trabalhadores informais, especialmente na indústria alimentícia. "Que indústria é essa que está aumentando o contingente de ocupados? A gente vê que a frequência maior se dá sobre o contingente de trabalhadores sem carteira assinada", ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. "A indústria extrativa não se altera, é a indústria de transformação que contrata. E quem puxou foi a indústria alimentícia", explicou.

No segundo trimestre, o total de ocupados no País cresceu 1,4% em relação ao primeiro trimestre do ano, com a criação de 1,289 milhão de vagas. Outros setores que contrataram no período foram comércio, com 199 mil funcionários a mais; transporte, armazenagem e correio, com mais 131 mil; alojamento e alimentação, mais 77 mil; serviços domésticos, 39 mil a mais; administração pública, defesa, seguridade social, educação e saúde, mais 485 mil novas contratações; e outros serviços, com a geração de 238 mil novos postos.

Segundo Azeredo, houve elevação no montante de pessoas trabalhando por conta própria no segmento de cabeleireiros e serviços de beleza, que se enquadram na categoria de "outros serviços", e como motoristas de passageiros, o que pode ser explicado por um maior número de motoristas de aplicativos como o Uber.

"O avanço no setor de transporte se caracteriza principalmente por uma entrada de motorista de passageiros. É possível que seja motorista de aplicativo, mas a pesquisa não consegue fazer essa distinção", ponderou ele. "A gente não tem como separar qual é o motorista de táxi e o de aplicativo. Mas a gente sabe que o aplicativo é uma forma de resgate do emprego. A pessoa perde o emprego e se insere no aplicativo", completou.

No caso do segmento de Administração Pública, o coordenador do IBGE disse que houve um movimento sazonal de contratação após uma demissão tradicionalmente mais acentuada ao fim de cada ano.

"Na administração pública, 48% desse grupamento é voltado para a educação, e ela teve um peso importante. É comum que no fim do ano as prefeituras demitam professores para fechar as contas, depois contratam de novo. Esse aumento de alta e baixa é sazonal", disse.

Marca importante

O mercado de trabalho voltou a mostrar força no último trimestre, mas ainda é cedo para falar em recuperação. As perdas acumuladas durante os anos de crise ainda estão longe de ser compensadas, avaliou Cimar Azeredo.

A taxa de desemprego caiu de 13,7% no primeiro trimestre para 13,0% no segundo trimestre, o primeiro recuo estatisticamente significativo desde o fim de 2014. Houve abertura de 1,289 milhão de postos de trabalho no período, além de redução de 690 mil pessoas na fila do desemprego.

"A alta na ocupação não compensa o patamar do ano passado, porque as perdas foram muito significativas. Mas o aumento da ocupação é um movimento que está acontecendo. Essa tendência no período curto mostra que o mercado gerou postos de trabalho. No período recente, mostra uma força nesse mercado. Em relação ao ano passado, ainda mostra desgaste pela crise política pela crise econômica que se arrasta desde 2014", disse Azeredo.

Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o total de ocupado está 0,6% menor, com 562 mil vagas a menos. Mas a população ocupada voltou a superar a marca de 90 milhões de pessoas, pela primeira vez desde dezembro de 2016. Segundo Azeredo, há uma reversão de tendência na taxa de desocupação e na eliminação de empregos, mas ainda não é possível dizer se permanecerá nas próximas leituras.

"É importante a marca de 90 milhões de ocupados ser restabelecida, mas mais importante ainda é voltar ao nível de ocupação de antes da crise. A ideia é que a gente recupere esse nível de ocupação com indicadores de qualidade, como a carteira assinada, principalmente", defendeu.

O nível da ocupação, que mede o porcentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, foi estimado em 53,7% no segundo trimestre deste ano. Um ano antes, estava em 54,6%. No segundo trimestre de 2014, antes que a crise impactasse o mercado de trabalho, o nível da ocupação estava em 56,9%.

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