Economia

Indústria automotiva americana perde empregos, apesar de Trump

O setor automobilístico empregava 783.200 pessoas em novembro de 2017, contra 788.900 pessoas em dezembro de 2016

Carros: "O gosto dos consumidores mudou. Eles se afastaram dos carros pequenos e preferem SUVs e picapes" (Joe Raedle/AFP)

Carros: "O gosto dos consumidores mudou. Eles se afastaram dos carros pequenos e preferem SUVs e picapes" (Joe Raedle/AFP)

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AFP

Publicado em 15 de janeiro de 2018 às 16h05.

Um ano depois de prometer a volta do crescimento da indústria automotiva americana, Donald Trump encontra dificuldades em salvar empregos.

Quatro dias antes da abertura do Salão Automobilístico de Detroit, o presidente americano, eleito com a promessa de conservar empregos na indústria americana, parabenizou-se pela decisão recente da Fiat Chrysler de repatriar a produção das caminhonetes Ram 1500 e criar 2.500 empregos.

"Obrigado, Chrysler, uma decisão muito sábia", disse Trump no Twitter. "Os eleitores de Michigan estão muito felizes de terem votado em Trump e Pence. Há muito mais por vir", anunciou.

Embora seja possível que outros grandes grupos sigam o exemplo da Fiat Chrysler, o quadro geral de empregos nessa indústria não foi tão impressionante no último ano.

O setor automobilístico (fabricantes e fornecedores) perdeu vagas no ano passado. Ele empregava 783.200 pessoas em novembro de 2017, contra 788.900 pessoas em dezembro de 2016, segundo o Escritório de Estatísticas de Emprego (BLS).

"O emprego no setor automobilístico americano teve leve baixa no ano passado. As vendas e a produção também caíram, e o emprego é diretamente ligado à produção", explicou à AFP Kristin Dziczek, especialista no Center for Automotive Research.

Em março passado, a General Motors tinha prometido, sob pressão de Trump, criar 900 empregos nos doze meses seguintes. A maior fabricante americana diz estar no caminho para cumprir a promessa, mas seu efetivo caiu no ano: são 52 mil vagas de tempo integral no fim de 2017, contra 55 mil um ano antes.

"O declínio se deve a medidas tomadas em certas fábricas em 2017 para adotar a produção às mudanças observadas no mercado de (pequenos) veículos", explicou à AFP Patrick Morrissey, porta-voz da GM.

"O gosto dos consumidores mudou. Eles se afastaram dos carros pequenos e preferem SUVs e picapes", confirmou Dave Sullivan, especialista da AutoPacific.com.

Incertezas

Essas mudanças tiveram consequências graves sobre os empregos. As "Big Three" de Detroit (GM, Ford e Fiat Chrysler) tomaram medidas de austeridade, como atividade parcial e redução de pessoal.

Esse é o caso das fábricas da GM em Lordstown, Ohio, onde é produzida a Chevrolet Cruze, e de Grand River, Michigan, que fabrica os Cadillac CTS e ATS e Camaro.

A Ford desistiu de sua promessa de fabricar o Ford Focus nos Estados Unidos e optou por montá-lo na China.

"Não há duvidas de que o governo Trump trouxe as questões industriais para sua agenda, especialmente com a reforma fiscal, a renegociação do Nafta, a regulamentação (...). Mas a maior parte dessas questões ainda não se concretizou", disse Keith Belton, professor da Universidade de Indiana.

"Nós vimos fabricantes importando veículos feitos no exterior para os Estados Unidos, especialmente o Ford EcoSport, da Índia. O Focus virá da China. A Ford também vai produzir no México veículos cuja produção era destinada a uma fábrica de Flat Rock, em Michigan", acrescenta David Sullivan.

As importações de veículos produzidos na China, no México e na Índia aumentaram. As exportações do México, com baixo custo de mão de obra, para os Estados Unidos, tiveram alta de 9,4% em 2017, segundo dados oficiais.

Uma nova dinâmica deve se desenhar nos próximos meses, com a redução dos tributos sobre empresas e as negociações acerca do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), que reúne Estados Unidos, Canadá e México.

"A incerteza sobre o livre-comércio, especialmente o Nafta, pode levar algumas empresas a repensarem sua estratégia", opinou Rebecca Lindland da Kelley Blue Book.

"Se os Estados Unidos saírem do Nafta, ou modificarem o acordo significativamente, as picapes (da Fiat Chrysler) seriam submetidas a uma tarifa aduaneira de 25%", explica Kristin Dziczek. Ela lembra que 80% dos Ram 1500 produzidos no México são vendidos no mercado americano.

"Nós avaliamos nossa pegada regularmente", disse Dan Ammann, presidente da GM.

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