Índice Big Mac aponta real valorizado demais
Nos últimos 6 meses, moeda brasileira passou de subvalorizada para sobrevalorizada em ranking da Economist que usa sanduíche como referência
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 13h11.
Última atualização em 24 de janeiro de 2017 às 13h28.
São Paulo - O real faz parte hoje de um pequeno grupo de moedas que estão valorizadas demais, de acordo com o índice Big Mac, calculado semestralmente pela revista britânica The Economist.
Os números de janeiro mostram que o preço do sanduíche no Brasil é R$ 16,50, o equivalente a US$ 5,12 considerando uma cotação de 3,22 reais por dólar.
O preço do sanduíche nos Estados Unidos, usado como referência, é de US$ 5,06. Isso implica que a suposta taxa de câmbio de equilíbrio seria de 3,26 reais por dólar - mais alta do que a atual.
Os outros países com moeda sobrevalorizada, segundo a Economist, são a Suíça (+25,5%), Noruega (+12%), Suécia (+4%) e Venezuela (+3,7%).
O real foi a moeda que mais se valorizou em 2016, segundo ranking da Gradual Investimentos, mas a virada foi no segundo semestre: em julho, o ranking da Economist ainda mostrava ele subvalorizado.
A disparidade seria ainda maior se fosse utilizada a cotação atual: R$ 3,16, pressionado pelo avanço da agenda protecionista de Donald Trump e continuidade dos leilões do Banco Central de swap cambial tradicional, equivalentes à venda futura de dólares.
Metodologia
O Índice Big Mac não tem pretensão científica e é “meramente uma ferramenta para tornar a teoria de taxas de câmbio mais palatável”, segundo a própria revista.
De acordo com a noção de paridade de poder de compra, as taxas de câmbio tendem a caminhar no longo prazo para que um mesmo bem ou serviço – no caso, o Big Mac – fique com o mesmo preço em dólar em qualquer país.
O método, incluído em livros didáticos e tema de mais de 20 trabalhos acadêmicos, foi criticado por não levar em conta o fato de que países mais pobres tem em geral menor custo de mão de obra – e, portanto, preços menores.
Em resposta, a Economist começou a calcular um índice Big Mac ajustado, que analisa se uma moeda está sobrevalorizada ou subvalorizada comparada com o que se esperaria dado o nível de desenvolvimento de um país, tomado pelo PIB per capita.
Com este critério, o Brasil é líder absoluto, com preço 67% maior do que o esperado - mais que o dobro do segundo colocado, o Paquistão com 30,3%.