Economia

Incerteza sobre dólar aumenta a dias da eleição brasileira

Moedas da América Latina já estão mais vulneráveis por causa da perspectiva de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos


	Dólares: projeções sugerem que o dólar ficaria no atual nível entre 2,40 e 2,50 reais pelo próximo ano
 (Juan Barreto/AFP)

Dólares: projeções sugerem que o dólar ficaria no atual nível entre 2,40 e 2,50 reais pelo próximo ano (Juan Barreto/AFP)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2014 às 11h34.

São Paulo - O mercado tem cada vez menos certeza sobre o comportamento do dólar frente ao real nos próximos meses por causa da indefinição sobre quem será o próximo presidente do Brasil, em um momento em que as moedas da América Latina já estão mais vulneráveis por causa da perspectiva de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos.

As projeções para a taxa de câmbio na pesquisa mensal da Reuters se espalharam muito mais do que em levantamentos anteriores, com analistas e estrategistas tentando calcular a probabilidade de mudanças na política econômica após a eleição deste mês.

As projeções medianas dos 25 analistas consultados pela Reuters sugerem que o dólar ficaria no atual nível entre 2,40 e 2,50 reais pelo próximo ano. Nos últimos dias, a moeda norte-americana chegou a ser negociada no maior nível desde a crise global de 2008, e fechou perto de 2,45 reais na terça-feira.

Mas a alta dispersão das estimativas indica que, na verdade, a visão média do mercado pode ser apenas a soma de dois cenários radicalmente diferentes.

"Não gosto de fechar com nomes. Mas se medidas corretas forem adotadas após as eleições, o dólar pode ir a 2,20, 2,25 (reais). Se medidas ruins forem tomadas, ele pode tranquilamente ir a 2,70, 2,80 no curto prazo, do fim de outubro até o final do ano", disse o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luiz Otávio de Souza Leal.

O cenário mais pessimista na pesquisa projeta o dólar a 2,90 reais daqui a um ano, e seria a maior cotação desde 2004. O cenário mais otimista projeta o câmbio a 2,27 reais.

Recentes pesquisas eleitorais mostraram a liderança firme da presidente Dilma Rousseff (PT) nas intenções de voto para o primeiro turno, com vantagem na segunda rodada, e redução da diferença de Marina Silva (PSB) sobre Aécio Neves (PSDB).

No Brasil, o dólar teve a maior alta mensal em três anos em setembro, subindo cerca de 9 por cento após pesquisas mostrarem uma maior probabilidade de reeleição de Dilma. Como é improvável que a presidente tenha votos suficientes para ganhar no primeiro turno, a incerteza deve perdurar por mais um mês, até o segundo turno das eleições em 26 de outubro.

Os candidatos de oposição Marina e Aécio têm a simpatia da maioria dos investidores por causa da promessa de maior transparência e menor intervenção estatal na economia. Mas analistas têm afirmado que qualquer um que vença, mesmo Dilma, provavelmente anunciará medidas assim que eleito para melhorar as contas públicas e a confiança dos empresários.

Agências de classificação de risco ameaçam rebaixar a nota da dívida do Brasil, e muitos investidores já discutem a possível perda do grau de investimento nos próximos anos.

"Deve dar alguma acalmada depois das eleições, com a sinalização de mudança nas diretrizes de política econômica e alguma tentativa de tornar o ambiente um pouco mais prevísivel," disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, que também acredita na continuidade da intervenção do Banco Central no mercado de câmbio.

No resto da América Latina, o peso mexicano deve se beneficiar da recuperação da economia norte-americana, valorizando-se em relação às outras moedas da região. O peso colombiano deve ficar estável e o peso chileno deve perder terreno com a desaceleração da economia.

Um risco importante para as moedas de toda a região é a política monetária dos Estados Unidos. A perspectiva de aumento dos juros por lá tem fortalecido o dólar em todo o mundo.

"O aumento dos juros nos Estados Unidos, que se espera para 2015, traz junto ondas de aversão a risco que causam demanda por dólar e saídas de capital nas economias latino-americanas," disse Eduardo Bolaños, analista da seguradora colombiana Positivo, em Bogotá.

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