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Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2009 às 07h53.
Quando o debate sobre o uso de biocombustíveis começou há 35 anos, o principal objetivo era a busca de novas fontes para diminuir a dependência do petróleo. Com o elevado preço do barril de tempos atrás, as despesas eram onerosas demais para a economia do país, mas ainda assim indispensáveis. O investimento na década de 70 permitiu que o Brasil desenvolvesse um dos programas de energia limpa mais admirados do mundo - mesmo que seu alcance ainda seja limitado fora das fronteiras do país.
"A volatilidade do mercado de etanol ainda não permitiu que ele se tornasse uma commodity como o petróleo", diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana -de-Açúcar (Unica). O reflexo é visto nas exportações, que cairão 20% neste ano aos 4 bilhões de litros. Em contrapartida a produção deve crescer 4% aos 28 bilhões de litros -- índice muito menor do que os 22,5% registrados na safra passada. Mas isso está longe de ser um problema.
Nas safras de cana anteriores, a produção de etanol no Brasil era excessiva, o que obrigava os produtores a venderem o combustível por um preço mais baixo, insuficiente para quitar os valores de produção. "O menor crescimento servirá para regular o preço do etanol e com uma menor taxa de exportação, a tendência é que se destine ao mercado interno. É isso que os grandes produtores fazem hoje", diz Rodrigues.
Some-se a isso a crise global. No Brasil, a escassez de crédito afetou fortemente o setor de etanol. O mercado, que despontava como uma das grandes promessas da economia, despencou em questão de meses e várias empresas se viram em dificuldades, como no caso da Santelisa Vale, segunda maior usina de açúcar e álcool do país, que foi comprada em abril pelo grupo francês Louis Dreyfus Commodities.
Para Julio Maria Borges, diretor da Job Economia e Planejamento, a queda na produção de etanol se deve a um investimento maior na produção de açúcar - um produto valorizado no mercado externo -, mas a demanda interna pelo combustível não será afetada. "O mercado brasileiro é suficientemente grande para continuar prevalecendo ao longo dos próximos dez anos", diz ele.
Apesar das dificuldades, especialistas apontam uma retomada no crescimento do mercado externo do etanol nos próximos anos. "A intenção dos países é produzir álcool, mas as opções vindas da beterraba e do milho são caras, ao contrário do etanol produzido no país vindo da cana-de-açúcar. Quem poderá atender a demanda é o Brasil", diz Julio Maria Borges. E o país vai investir. A Petrobras, por exemplo, pretende conquistar 10% do mercado até 2013. Para isso, a empresa anunciou investimentos de 1,9 bilhões de dólares -- 80% da verba destinada a todos os biocombustíveis.
No cenário atual, um novo critério entrou em discussão: o aquecimento global. Os acordos que visam a diminuição das emissões de gás carbônico -- como o Protocolo de Kyoto, por exemplo -- ganham cada vez mais peso nas negociações e cedem espaço a fontes que sejam menos danosas ao ambiente. Tanto investimento no setor não pode ser à toa.