EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.
A troca de farpas entre integrantes do governo e do PT pode minar a boa imagem construída até agora e atrair a desconfiança de setores mais conservadores do mercado. Em relatório divulgado nesta terça-feira (3/6), a corretora Fator Doria Atherino chama a atenção sobre os males que a falta de consenso cria para a credibilidade do Brasil com os investidores internacionais: "O mercado tem relevado alguns eventos que, se observados isoladamente podem ser considerados pequenos, conjuntamente evidenciam inconsistências que podem abalar o sucesso inicial da nova administração , diz o texto do relatório. Há uma clara divisão no governo."
Para o Fator, denunciam falta de consenso as críticas do vice-presidente José de Alencar contra a política monetária e contra a competência do Banco Central, as declarações do ministro da Casa Civil, José Dirceu, sobre os aspectos restritivos da política econômica, além dos comentários ácidos dos radicais do PT e do senador Aloísio Mercante em relação às reformas tributária e da Previdência. Melhor seria se o PT tivesse feito como todo o partido de esquerda fez antes de ascender ao poder: o debate interno , diz o relatório. Faltou ao partido exatamente o que sempre pregou.
Na avaliação de Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice, responsável pela elaboração de relatórios sobre tendências políticas para o setor financeiro, parte da confiança do investidor repousa hoje sobre a autonomia do Banco Central no sentido político do termo. Qualquer mudança de rumo que seja interpretada como um escorregão da autoridade monetária pode ter impacto negativo. Enquanto o BC tomar decisões técnicas em relação à taxa de juros e ignorar as pressões, a confiança em relação ao governo se manterá , diz Aragão. Mas toda essa troca de farpas dos últimos dias deixou o mercado com a pulga atrás da orelha.
A necessidade de monitorar o cenário político no Brasil também foi mencionada no comunicado da Fitch, agência de classificação de risco que melhorou a perspectiva do Brasil de estável para positiva. Em meio aos elogios para a atual gestão, os analistas da Fitch afirmam que o governo deve levar adiante a votação das reformas - e vão observar o comportamento dos parlamentares na hora das votações em plenário antes de fazer mudanças no rating soberano do país. Historicamente, os petistas podem até divergir, mas votam juntos , diz Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch. Esperamos que esse comportamento se mantenha.
A Tendências Consultoria acredita que os defensores da atual política econômica serão vencedores. Parte da análise leva em conta o aval importante dado pelos eleitores: a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e do Instituto Sensus, com excelentes números em favor da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. A pesquisa fortalece a posição do presidente Lula para manter o pulso firme em favor da estabilidade , diz a analista Alessandra Ribeiro, da Tendência. Na avaliação da consultoria, os defensores da atual política econômica, como Antônio Palocci, ministro da Fazenda, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, vão enquadrar os opositores, como Alencar e Mercadante.
Coincidência ou não, Guido Mantega, ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, foi à carga hoje contra a polêmica sobre a taxa de juros e seus maléficos efeitos para o crescimento do Brasil. Daqui a pouco, essa polêmica vai ser inútil , disse Mantega à Agência Brasil. A inflação vai estar debelada e não vai importar mais se é de demanda, de consumo ou de custo.