Davos: para os líderes empresariais globais, a questão não se resume apenas a melhorar suas credenciais ecológicas, mas a bilhões de dólares em lucros e prejuízos potenciais (Sean Gallup/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 16 de janeiro de 2017 às 21h20.
Donald Trump ridicularizou diversas vezes o aquecimento global e prometeu retirar os EUA do acordo assinado em Paris em 2015.
Contudo, apesar da mudança no clima político em Washington, os líderes empresariais e financeiros reunidos em Davos nesta semana passarão bastante tempo conversando sobre mudança climática -- e sobre como lucrar com ela.
O Fórum Econômico Mundial irá dedicar 15 sessões de sua reunião anual de 2017 à mudança climática e mais nove à energia limpa -- maior número da história para esses assuntos.
Isso reflete o quanto está em jogo. Para os líderes empresariais globais, a questão não se resume apenas a melhorar suas credenciais ecológicas, mas a bilhões de dólares -- talvez até trilhões -- em lucros e prejuízos potenciais.
As seguradoras estão começando a considerar inundações e secas mais frequentes em seus valores; as gigantes do setor de energia estão moldando seus negócios para um mundo que se distancia do petróleo e do carvão; as fabricantes de carros estão investindo fortemente em veículos elétricos; os bancos querem conceder empréstimos para projetos de energias renováveis.
“O positivo é que o acordo de Paris elevou patamares para todos”, disse Ben van Beurden, CEO da Royal Dutch Shell, o maior grupo petroleiro da Europa. “Todos sentem a obrigação de agir.”
O cumprimento dos objetivos estabelecidos em Paris poderá exigir US$ 13,5 trilhões em investimentos até 2030, segundo dados da Agência Internacional de Energia que mostram a escala da oportunidade para os negócios.
Apenas no ano passado, o investimento em energia limpa permaneceu em US$ 287,5 bilhões, indicam dados compilados pela Bloomberg New Energy Finance.
“A escala e o escopo dos fluxos de investimento em energias renováveis mostram que eles são a tendência dominante”, disse David Turk, chefe para mudança climática da AIE em Paris e ex-diplomata sênior para o clima dos EUA.
Com o aumento das oportunidades de lucro, defensores tradicionais das mudanças climáticas -- Al Gore e a diretora-executiva do Greenpeace, Jennifer Morgan -- participarão de painéis de discussão com executivos como o presidente do conselho do HSBC, Stuart Gulliver, e o presidente da Cofco, a maior empresa de alimentos da China, Patrick Yu.
Eles discutirão a conexão entre a luta contra o aquecimento global e os negócios -- como parar a mudança climática e como lucrar com ela.
“A mudança climática é fundamental e central para muitas empresas e seus conselhos”, disse Dominic Waughray, chefe de parcerias público-privadas do Fórum Econômico Mundial. “A mudança climática é parte central da agenda de crescimento.”
Além do programa oficial, um total recorde de 60 CEOs deverá se reunir em uma sessão a portas fechadas para discutir os desafios da mudança climática, segundo uma pessoa com conhecimento do evento, que pediu anonimato porque a reunião não é pública.