Economia

HSBC não deixará o Brasil, diz presidente

Com 137 anos de operação, o HSBC é um banco global presente em 81 países, com ativos de US$ 746 bilhões e capital de US$ 55,4 bilhões estão distribuídos ao redor do mundo. Entrou no mercado brasileiro em 1997 com a compra do Bamerindus. Veja a íntegra da entrevista de EXAME com Michael Geoghegan, presidente […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.

Com 137 anos de operação, o HSBC é um banco global presente em 81 países, com ativos de US$ 746 bilhões e capital de US$ 55,4 bilhões estão distribuídos ao redor do mundo. Entrou no mercado brasileiro em 1997 com a compra do Bamerindus. Veja a íntegra da entrevista de EXAME com Michael Geoghegan, presidente e CEO do HSBC Bank Brasil S.A. - banco Múltiplo.

Os acionistas do HSBC estão reavaliando seu investimento no Brasil?

É um absurdo pensar que o HSBC poderia seguir o caminho de outros grupos estrangeiros e vender seus ativos no Brasil. Por que venderíamos? Compramos três bancos no Brasil nos últimos seis anos: Bamerindus, CCF e Republic. No mesmo período, vimos a nossa base de cartões de crédito saltar de quase nada para mais de 1 milhão de plásticos, nos tornamos o quinto maior administrador de recursos de terceiros, com mais de R$ 20 bilhões de clientes em nossos fundos de investimento, e somos, agora, o segundo maior private bank do país. Conquistamos a confiança de ser o principal banco de mais de 800 das maiores corporações empresariais do país. Tudo isso foi alcançado ao mesmo tempo em que nossos acionistas receberam mais de 20% de retorno por ano.

De acordo com sua longa tradição, o HSBC continuará serenamente desenvolvendo e treinando seus funcionários a fim de oferecer um serviço de qualidade global a seus clientes, que ao longo do tempo será reconhecido como o melhor padrão de serviços do mercado brasileiro e, sem dúvida, chegará o dia em que o HSBC Brasil vai comemorar seu centenário no país tal como o HSBC tem celebrado em vários dos países em que atua desde sua fundação em 1865.

Há alguma mudança em vista em relação à estratégia de operação no mercado brasileiro?

O HSBC manterá, sem dúvida, seus investimentos e sua estratégia de operação no Brasil. O HSBC confia mais no Brasil do que muitos brasileiros. No ano passado, o HSBC reduziu pela metade os juros de cartões de crédito para pessoas físicas e lojistas e cortou a taxa máxima de juros do cheque especial em 90 pontos base. Os concorrentes, infelizmente, não seguiram nossa iniciativa. Passado o maremoto do ano eleitoral, vamos retomar essa iniciativa, reduzindo as taxas de um de nossos produtos sempre que o Copom abrandar o juro básico. Isso mostra que o HSBC está plenamente satisfeito com o investimento feito no Brasil. Esperamos muito tempo para entrar no Brasil. O HSBC não veio para o país para uma corrida de cem metros, mas para uma maratona. Chova ou faça sol, o HSBC estará por aqui. O Brasil tem 170 milhões de habitantes, mas só 30% têm contas bancárias. O HSBC tem 20 mil funcionários, 1,6 mil postos de vendas, 3,5 milhões de correntistas, confiança no país e capital. Vamos crescer com o Brasil nos próximos anos.

Não somos políticos, somos banqueiros, mas nos sentimos bastante encorajados pela transição política no país. Para nós, foi um marco do amadurecimento e do fortalecimento da democracia no país. O HSBC mostrou sua confiança no Brasil ao lançar em 27 de março de 2002, em comemoração ao seu quinto aniversário no país, uma agressiva campanha de redução de juros de cartões de crédito. Na esteira do corte de quase 50% nas taxas, para os menores níveis do mercado, vimos nossa base de plásticos mais que dobrar, passando de cerca de 500 mil para mais de um milhão de maio a dezembro. Nesse período, alcançamos a média de abertura de 40 mil novas contas correntes por mês e inauguramos cinco Premier Centres, que são agências sofisticadas com padrão global do HSBC para os clientes de renda superior a R$ 5 mil mensais. Mesmo em meio às turbulências naturais em anos eleitorais, reduzimos pela metade a taxa de juros para a antecipação de recebíveis de cartões de crédito por lojistas. Uma medida que ampliou a nossa base de clientes no comércio varejista.

O HSBC tem interesse em adquirir instituições que estejam à venda no mercado brasileiro? Poderá participar de leilões de bancos estatais - confirmados pelo ministro Palocci -, tais como o Besc?

A tradição do HSBC é agir com discrição, reservadamente e com total sigilo na questão de aquisições. Estamos, porém, sempre atentos a novas oportunidades de aquisições, desde que agreguem valor aos nossos negócios e aos nossos acionistas.

Se há caçadores e caça no mercado bancário, o HSBC é, e sempre foi, um caçador. Por exemplo, no ano passado, compramos o banco Bital, o quarto maior do mercado de varejo do México, por US$ 1,6 bilhão, e estamos em fase de conclusão da aquisição da maior financeira dos Estados Unidos, a Household. Somadas à nossa presença no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Venezuela, essas aquisições nos darão uma das maiores, senão a maior, posição de um grupo financeiro global nas Américas. Além disso, adquirimos uma participação de 14% na Ping An, a maior empresa de seguros da China, 8% do Banco de Xangai e consolidamos a aquisição iniciada em 2001 do Demirbank, o terceiro maior grupo financeiro da Turquia.

Qual a avaliação a ser feita sobre o movimento de saída de algumas instituições estrangeiras? O que teria levado os acionistas desses bancos a essas decisões?

Se há uma onda de saída de instituições financeiras do Brasil, o HSBC, com certeza, está remando contra essa maré. Não cabe a nós do HSBC, por uma questão de ética, avaliar ou comentar assuntos que dizem respeito exclusivamente a nossos concorrentes. No que diz respeito ao HSBC, nós não conjugamos o verbo desistir. Nosso nome nunca esteve associado a uma desistência de investimento em um determinado país em nossos 137 anos de história. Estamos sempre somando países à nossa operação global, e não diminuindo. Estamos hoje presentes em 81 países, nos cinco continentes do Globo, e temos o segundo maior valor de mercado do mundo, de US$ 109 bilhões, segundo o balanço patrimonial de 30 de junho do ano passado. A Revolução Comunista não tirou o HSBC da China, nem a guerra civil nos fez deixar o Líbano. O HSBC foi o último banco a sair, apenas temporariamente, diga-se, de Hanói às vésperas da guerra no Vietnã. O HSBC tem feito negócios em países emergentes desde 1865. No curso da história, passamos por períodos de extrema volatilidade em vários desses mercados. Mercados que com o passar dos anos tornaram-se muito lucrativos.

O HSBC não segue a moda do momento. Ao contrário, e por isso, no mais das vezes, somos chamados de enfadonhos, navegamos de olho no longo prazo, perseguindo nossa estratégia sem ligar para que o resto do mundo está fazendo. Em outras palavras, o HSBC não deixa eventos de curto prazo influenciarem sua filosofia de longo prazo.

Quais as principais dificuldades que o mercado brasileiro apresenta para um banco de fora recém-chegado? Qual foi a principal dificuldade encontrada especificamente pelo HSBC?

A maior dificuldade são os altos custos da atividade bancária no país. Temos de diminuir os custos dos bancos. O Grupo HSBC como um todo tem uma relação custo/receita de 54%. Em Hong Kong, por exemplo, essa relação é inferior a 30%. Aqui no Brasil, chega a 65% ou 70%. A legislação trabalhista é muito rígida. Quando cheguei ao Brasil, achava que o futebol era o esporte nacional. Mas logo conclui que o verdadeiro esporte nacional são as reclamatórias trabalhistas. É irreal que possamos manter nossas agências abertas por apenas cinco horas por dia. Em qualquer outro negócio, não dá para imaginar essa limitação de horário. Tente imaginar, por exemplo, um posto de gasolina obrigado a trabalhar somente das 10h às 15h. Isso é o que acontece com os bancos no Brasil.

Outro problema é a inadimplência. Precisamos de leis fortes contra a inadimplência e que permitam aos bancos a retomada de garantias nos financiamentos imobiliários. Essas questões levam o bom cliente a subsidiar o mau cliente. Os altos níveis de compulsórios, independentemente da saúde financeira de um determinado banco e os empréstimos dirigidos são outros obstáculos à atividade bancária e ao aumento do crédito por meio da redução do custo do dinheiro no Brasil.

O HSBC já atingiu no Brasil a rentabilidade desejada pelos acionistas? De quanto é (foi em 2002) atualmente e qual a média de rentabilidade internacional do banco?

Não posso comentar sobre retorno sobre capital com relação a 2002 até a divulgação de nossos resultados, dia 3 de março, em Londres. Entretanto, os números de balanços anteriores mostram que alcançamos, na média, o retorno de 20% exigido pelos acionistas, nos últimos três anos. O HSBC Holdings obteve uma média de retorno entre 25% e 27% nos últimos cinco anos.

Os bancos brasileiros têm se saído realmente melhor que os estrangeiros? Por quê?

A qualidade dos bancos brasileiros está entre as melhores do mundo. O sistema bancário é sólido e sofisticado. O sistema de pagamentos é mais avançado do que o existente em muitos países desenvolvidos. A presença dos bancos estrangeiros ajudou o fortalecimento do setor, pois produziu uma competição muito maior. Todos os bancos brasileiros melhoraram suas operações de forma significativa nos últimos anos. As filas nos bancos, por exemplo, diminuíram substancialmente desde a abertura do varejo aos investidores estrangeiros. Os juros ainda estão muito altos. Mas com a reiterada determinação do novo governo de perseguir a redução do spread bancário, por meio da redução de inadimplência e dos custos bancários haverá mais espaço para a queda das taxas de juros no Brasil. A flexibilização dos compulsórios bancários e a redefinição dos provisionamentos das operações de crédito poderiam contribuir para tornar o custo do dinheiro mais baixo.

O senhor prevê novas saídas de instituições estrangeiras que atualmente operam no Brasil?

Acredito que o cenário que engloba a estabilidade da inflação, da taxa de câmbio e a redução dos juros levará a mais consolidação no mercado brasileiro.

Depois de um ano especialmente nervoso, como a cúpula do HSBC está vendo o cenário brasileiro?

Com tranqüilidade e confiança. O HSBC investe para o longo prazo. Em recente visita ao Brasil, o CEO da HSBC Holdings, Sir Keith Whitson, reiterou a confiança da matriz do Grupo HSBC no Brasil. Aliás, uma das lições que tirei desses quase 6 anos de Brasil é que os brasileiros, muitas vezes, não mostram muita confiança no Brasil. Eu e o HSBC temos muito mais confiança no Brasil do que muitos brasileiros. A maior missão do novo governo é criar um clima de confiança dos brasileiros em seu país.

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