Economia

Hotéis na Venezuela para turistas: "tragam papel higiênico"

Escassez de produtos básicos foi dor de cabeça para hotéis pequenos em Merida na semana santa e sobrou para os hóspedes, de acordo com o site Fusion

Rolo de papel higiênico em comercial da marca francesa Le Trefle (Reprodução)

Rolo de papel higiênico em comercial da marca francesa Le Trefle (Reprodução)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de abril de 2015 às 12h49.

São Paulo - A Semana Santa deveria ser motivo de ânimo para os hotéis no estado de Merida, noroeste da Venezuela, conhecido por suas belas montanhas. 

No entanto, a temporada movimentada acabou sendo de stress com os produtos básicos que sumiram das prateleiras do país. 

“5 hotéis já me disseram que estão tendo que pedir para que os hóspedes tragam seu próprio papel higiênico", disse Gerardo Montilla, presidente da Câmara de Turismo da província, ao site Fusion no meio da semana passada.

Xinia Camacho, dona de um hotel com 20 quartos, diz para a reportagem que também não tem nenhum tipo de sabonete, leite, café ou açúcar há mais de um ano e tem sido forçada a fazer substituições no menu.

Ela tem duas opções: esperar em filas quilométricas de horas ou comprar os produtos por preços até 6 vezes maiores no mercado negro, como fazem os hotéis maiores.

Merida tem o problema extra de estar próximo da Colômbia, que paga muito mais e acaba atraindo parte dos produtos. Outra dificuldade é que para evitar o contrabando, o governo tem impedido as pessoas de transportarem produtos básicos pelo país. Os turistas que quiserem levar o seu papel higiênico para o hotel correm o risco de serem confiscados já na viagem. 

Política econômica

Não é de hoje que a escassez de produtos básicos na Venezuela atinge níveis surreais. Até a mania nacional do implante do seio foi afetada, e um pacote de camisinhas chega a sair por mais de 2 mil reais.

O país tem uma das maiores inflações do mundo, resultado de anos de estímulo da demanda com controle cada vez maior do setor produtivo e desvalorização da moeda nacional. 

A situação já era dramática quando o país foi pego de surpresa pela queda internacional do preço do petróleo, sua principal exportação. Isso arrasou com as finanças do governo, fez disparar o risco de calote e secou ainda mais os recursos para compra de importados.

A resposta do governo de Nicolas Maduro costuma se resumir a acusar empresários e tentar controlar os preços na marra. Sua última medida para enfrentar a escassez foi um sistema biométrico para controlar a compra de produtos básicos em supermercados.

Turismo

O turismo responde diretamente por 3,3% do PIB e 369 mil empregos na Venezuela. O World Travel & Tourism Council estima que o país recebeu 729 mil turistas estrangeiros no ano passado, mais ou menos o mesmo nível de 2012.

A imagem do país tem sido prejudicada pela criminalidade explosiva e instabilidade política. O país convive com quatro tipos de câmbio diferentes e os turistas acabam sendo obrigados a carregar grandes quantias em dólar.

O acesso internacional também ficou prejudicado depois que algumas companhias aéreas cancelaram rotas diante da falta de pagamento. Dessa forma, vai ser difícil atingir a meta do governo de dobrar a participação total do setor no PIB de 4% para 9% até 2019.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaHotéisTurismoVenezuela

Mais de Economia

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados

'Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás', diz presidente da Petrobras

Governo estima R$ 820 milhões de investimentos em energia para áreas isoladas no Norte

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados