Com o Brexit, a Agência Europeia de Medicamentos e a Unilever vão mudar suas sedes para a Holanda (Carl Court/Getty Images)
EFE
Publicado em 25 de julho de 2018 às 10h56.
Haia - A Holanda é um dos países europeus mais afetados pela ruptura de Londres com a União Europeia (UE), mas também é o destino mais desejado por organismos e empresas que deixarão o Reino Unido após o Brexit, graças às suas vantagens fiscais e bom clima comercial.
Para o diretor da Autoridade do Porto de Roterdã, Allard Castelein, o "Brexit" não trará "nada de bom" aos empresários holandeses, e advertiu que uma relação reduzida com o Reino Unido terá "consequências negativas" para a economia deste país, que envolve cerca de 35 mil companhias.
No entanto, a secretária de Estado para Assuntos Econômicos, Mona Keijzer, enfatizou nos últimos dias que a ruptura britânica com a UE "oferece oportunidades" ao país, como a chegada da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) com seus 900 funcionários, do banco japonês MUFG, da empresa Unilever e de diferentes provedores financeiros.
O "Brexit" pode ser visto de duas perspectivas na Holanda, já que enquanto os especialistas advertem das consequências dos controles fronteiriços e dos custos comerciais, a realidade reflete que muitas empresas, com suas dezenas de milhares de trabalhadores, se transferirão para a Holanda depois de 29 de março de 2019.
Os custos desta ruptura poderiam alcançar 1,2% do PIB holandês em 2030, o equivalente a 10 bilhões de euros, se não for negociada uma saída britânica com condições, segundo cálculos do Escritório de Análise de Política Econômica da Holanda (CPB).
O comércio holandês com o Reino Unido representa mais de 3% do seu Produto Interno Bruto (PIB) e 8% do seu volume comercial, que está em jogo devido ao "Brexit", acrescentou o Escritório Central de Estatísticas (CBS).
Os produtos mais importantes de exportação são frutas e verduras, frescas e processadas, no valor de 2 bilhões de euros; assim como carnes, por mais de 1,3 bilhão; flores, por 1,1 bilhão; produtos lácteos, por 250 milhões; batatas, por 200 milhões; e açúcar, por 154 milhões.
No caso de um "Brexit" duro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que a Holanda seria um dos países mais afetados pela falta de acordo comercial entre ambas as partes, já que uma ruptura radical representaria redução de 0,7% da receita holandesa em exportações.
No entanto, um cenário "suave", com o Reino Unido fora da união aduaneira, mas mantendo o acesso ao mercado único e aceitando cumprir as normas da UE, poderia "implicar em um custo quase zero para a União no seu conjunto", segundo o FMI.
A Comissão Europeia, no entanto, não é tão otimista e afirmou que a probabilidade de um "Brexit" sem acordo está aumentando e que as empresas e os trabalhadores privados deveriam "se preparar para qualquer possibilidade".
Enquanto as negociações políticas continuam, os empresários holandeses preferem se prevenir e começaram a buscar novos parceiros no leste da Europa, como Polônia, Rússia e Ucrânia, porque "a outra opção é se arriscar a crescer menos e ninguém quer isso", ressaltou o diretor da companhia de flores Dekker Chrysanten, Cees Dekker, em declarações ao jornal holandês "NU".
Além disso, através da Agência de Investimento Estrangeiro dos Países Baixos (Nifa), o governo holandês está atualmente "em contato com mais de 200 companhias", segundo seu porta-voz Michiel Bakhuizen, para vender este país como destino e fazer com que o "Brexit" seja uma ruptura positiva para este país.
A Holanda oferece aos empresários que buscam um novo lar após o "Brexit" acordos tributários favoráveis, 30% de salário livre de impostos, uma população de fala inglesa, um clima comercial favorável, o bom nível de educação, a alta qualidade de vida e a localização no centro da Europa.
A campanha da Nifa já rendeu frutos: em 2017, 18 companhias elegeram os Países Baixos para se estabelecer após o "Brexit" e, em 2018, lhes seguiram outros como a gigante Unilever, que decidiu pôr fim à sua dupla estrutura legal, rompendo sua base em Londres e reagrupando-se em torno da sua sede central em Roterdã.
A eles se uniram, entre outros, o grupo financeiro Cboe Global Markets e o megabanco japonês Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG), que escolherem a capital holandesa como a sede europeia das suas atividades, em detrimento de Londres.
Estas companhias se somarão a outras de grande prestígio como Booking.com, Netflix, Facebook, Uber e Google, que têm seus escritórios em Amsterdam, sede e filial de mais de 50 bancos europeus e internacionais.