Economia

Guerra comercial pode ser "Afeganistão de Trump", diz Adam Posen

Confronto sobre tarifas "pode acabar sendo seu Afeganistão econômico - custoso, sem fim determinado e infrutífero", diz o presidente do Peterson Institute

Atitudes são as "mais perigosas desde que os EUA e seus aliados montaram o sistema econômico internacional nos anos 40" (Kevin Lamarque/Reuters)

Atitudes são as "mais perigosas desde que os EUA e seus aliados montaram o sistema econômico internacional nos anos 40" (Kevin Lamarque/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 27 de março de 2018 às 16h40.

Última atualização em 29 de março de 2018 às 15h52.

São Paulo - Colocar os Estados Unidos em rota de colisão com outros países no comércio pode dar muito errado para Donald Trump, segundo Adam Posen, presidente do Peterson Institute of International Economics.

"O lançamento de uma guerra comercial pode acabar sendo seu Afeganistão econômico - custoso, sem fim determinado e infrutífero", diz um texto publicado pela economista no blog do PIEE no último dia 20.

As medidas com alvo na China ainda não haviam nem sido confirmadas e Posen já classificava as atitudes de Trump como as "mais perigosas desde que os EUA e seus aliados montaram o sistema econômico internacional nos anos 40".

O principal exemplo foi a imposição de tarifas de 10% sobre a importação de alumínio e de 25% sobre a importação de aço.

Isso porque para cada trabalhador americano na produção de metais, há 40 empregados em indústrias que usam os metais no país.

"Taxar o segundo para privilegiar o primeiro não faz sentido", resume Posen, gerando um risco enorme para um benefício econômico insignificante.

Já o uso de "segurança nacional" como justificativa para mexer na indústria foi ao mesmo tempo esperto e perigoso.

Esperto porque definir o que é segurança nacional é prerrogativa de cada país de acordo com a lei internacional, como o próprio presidente da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, já destacou.

E perigoso porque ao usar esse argumento, Trump abriu um precedente para que outros países também o façam.

No caso da propriedade intelectual e roubo de tecnologia americana por empresas chinesas, Posen vê um interesse legítimo mas uma estratégia equivocada, já que qualquer resposta mais imediata da China seria temporária e de difícil verificação.

De forma geral, o economista diz que a condução da questão pelos EUA torna impossível definir o que seria uma vitória clara e praticamente pede por retaliação.

Trump já tuitou que "guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar" e questiona a relação comercial até com aliados importantes como a Coreia do Sul.

"Eles aparentemente pensam que todos os governos vão ceder aos interesses americanos. Esta visão delirante está prestes a ser desmentida", diz Posen.

A China reagiu inicialmente ameaçando com novas tarifas de US$ 3 bilhões sobre produtos americanos e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, garantiu que o país vai defender seus interesses.

No entanto,  o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, prometeu nesta segunda-feira manter negociações e facilitar o acesso das empresas americanas, em tom conciliatório que acalmou os mercados.

Um estudo do PIEE feito antes da eleição de Trump calculou que um cenário de "guerra comercial total" dos EUA com seus parceiros poderia colocar a economia americana em recessão já em 2019, com a taxa de desemprego dobrando em relação ao patamar atual.

Acompanhe tudo sobre:ChinaDéficit comercialDonald TrumpEstados Unidos (EUA)GlobalizaçãoGuerras comerciaisProtecionismo

Mais de Economia

Olaf Scholz questiona tarifa da UE e propõe acordo com a China sobre carros elétricos

Serviços funerários entram na alíquota reduzida da reforma tributária

Congresso promulga Emenda e novas regras para abono salarial e Fundeb entram em vigor

Votação do Orçamento fica para 2025, diz relator da LOA