Economia

GRÃOS NA TERRA DO SOL

Até 1980, apesar dos seus 1,2 milhão de hectares agricultáveis, Barreiras, município do oeste da Bahia, continuava como sempre: pobre, pachorrento, atrasado. Um cenário, enfim, típico dos filmes de Glauber Rocha, o cineasta de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Com cerca de 30 mil habitantes na época, Barreiras ainda dependia do Rio […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h51.

Até 1980, apesar dos seus 1,2 milhão de hectares agricultáveis, Barreiras, município do oeste da Bahia, continuava como sempre: pobre, pachorrento, atrasado. Um cenário, enfim, típico dos filmes de Glauber Rocha, o cineasta de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Com cerca de 30 mil habitantes na época, Barreiras ainda dependia do Rio São Francisco, ao qual está ligada por um de seus afluentes, o Rio de Ondas, para receber mercadorias. A partir daquele ano, no entanto, paranaenses, catarinenses e gaúchos começaram a chegar, atraídos por um imenso e desabitado chapadão que se estende por cerca de 450 quilômetros e vai de Barreiras à divisa com Goiás. Não havia nenhuma infra-estrutura: estradas, energia, assistência técnica. Contudo, o cerrado é excelente para a cultura de grãos e frutas irrigadas, e por isso eles foram em frente. "Só que continua caro fazer a terra produzir. É preciso corrigi-la com muito calcário e outros insumos", diz Humberto Santa Cruz, presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes do oeste da Bahia (Aiba), com mais de mil associados. Apenas um é baiano. O motivo? "Aqui é para empresários rurais, não pequenos proprietários", diz Santa Cruz. Isso fica claro pelo tamanho médio das fazendas dos sócios da Aiba, de mil hectares. Elas exigem tecnologia, equipamentos e investimentos na mão-de-obra. Afinal, uma colhedeira de 200 mil dólares não pode ficar nas mãos de gente pouco capacitada tecnicamente. Tampouco os pivôs centrais - eles cobrem 93% dos 67 mil hectares irrigados do território e garantem mais produtividade. A do café, de 38 sacas por hectare, é excelente. A média brasileira é inferior a 20.

A boa tecnologia empregada pelos migrantes, que contaram com o precioso auxílio da Embrapa, que lhes forneceu sementes especialmente desenvolvidas para o cerrado, fez do oeste da Bahia uma das mais dinâmicas regiões do país. Desde a safra 1992/1993 a produção cresce a 17% ao ano. Naquele período, em 470 mil hectares plantados foram colhidas 838 mil toneladas. Já na última safra foram 3,1 milhões de toneladas em 1 milhão de hectares. Ou seja, a área plantada cresceu 120% e a produção, no valor de 1 bilhão de reais, 275%. A soja responde por quase metade do total. "A soja de Barreiras, por causa do clima, dá até 6% a mais de óleo por tonelada do que em qualquer outro lugar", afirma Sérgio Pitt, vice-presidente da Aiba. A entidade pressiona empresas como a Bunge e a Cargill, que ali montaram fábricas de óleo, por melhor remuneração aos produtores. Seria uma compensação ao frete, mais caro pela ausência de ferrovia. Além disso, as duas multinacionais operam o terminal portuário em Ilhéus por onde a produção é escoada.

O futuro de Barreiras, hoje com 113 mil habitantes, parece estar nos serviços impulsionados pela riqueza gerada no campo. A cidade sedia o aeroporto regional, que funciona numa antiga base aérea americana instalada na Segunda Guerra Mundial. E também o melhor hospital da região, além de várias delegacias de órgãos governamentais. Isso fez de Barreiras a capital do oeste da Bahia, uma região onde vivem 800 mil pessoas. É o progresso. Mas apenas 18% da população é servida pela rede de esgotos - o lado faroeste continua existindo. "Há 15 anos isso aqui era um inferno. Já melhorou muito", diz Pitt, da Aiba. Barreiras não é muito diferente da maioria dos municípios brasileiros do mesmo tamanho. Há faculdades e um shopping. Há também estação de TV, rádios, jornais e provedores de internet. Mas faltam opções de lazer. O povo pega duro no batente e só esquenta a noite da cidade a partir das sextas-feiras, nos bailões e barzinhos. Nas tardes dos fins de semana ele deita e rola nos clubes à beira do Rio de Ondas. Por lá ninguém pensa em investimentos mais refinados. O motivo? Poucos dão valor às artes em geral. Na culinária, a mesma coisa. Só existe um restaurante de bom nível. É que as pessoas dão mais valor à quantidade do que à qualidade. O isolamento talvez explique - Barreiras está a 900 quilômetros de Salvador, a capital do estado.

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