Governo vê conflito com Cemig como risco para venda da Eletrobras
Mais complexo do que privatizar a gigante estatal do setor elétrico, segundo uma fonte do governo, é mexer em Furnas e Chesf
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2017 às 22h14.
Brasília - O governo Michel Temer vê no leilão das usinas da Cemig seu maior teste para levar a cabo a venda da Eletrobras e ao menos duas subsidiárias, Furnas e Chesf, em razão da resistência política que vem sofrendo de parlamentares que não concordam com as desestatizações, disseram dois auxiliares presidenciais a par das discussões.
“Iremos até as últimas consequências para impedir a privatização de Furnas e da Cemig, vamos tentar inviabilizar judicialmente, politicamente e militarmente”, disse à Bloomberg o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG).
Segundo estes auxiliares, se o governo ceder à bancada de Minas Gerais e desistir de leiloar as quatro hidrelétricas que tiveram seus contratos expirados (Jaguara, São Simão, Miranda e Volta Grande), ficará refém das exigências dos mesmos parlamentares que não querem a venda das subsidiárias da Eletrobras.
Mais complexo do que privatizar a gigante estatal do setor elétrico, segundo uma fonte do governo, é mexer em Furnas e Chesf, loteadas há décadas por uma gama suprapartidária composta principalmente do PMDB, PSDB e PP.
Furnas vem sendo alvo de investigação por suposto esquema de corrupção, semelhante ao que ocorreu na Petrobras, com pagamento de propina a políticos por diretores da estatal. Há dois meses, a Polícia Civil do Rio de Janeiro passou a investigar a subsidiária, numa operação de apoio à Lava Jato.
A base das investigações é a delação do ex-senador Delcídio do Amaral, que acusou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, atualmente preso, a fazer parte de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.
Grupo de parlamentares contrários à venda das estatais argumenta que o governo não pode vender patrimônio para conter o déficit fiscal.
Vice-presidente da Câmara e coordenador da bancada de Minas Gerais, Fábio Ramalho (PMDB) disse que, se o governo desistir da privatização da Cemig, a bancada pode ajudar na defesa das demais desestatizações.
“São 53 deputados e todos estão fechados na questão da Cemig. A gente não concorda e já falei isso com o presidente Temer”, afirmou Ramalho.
Deputado Júlio Delgado (PSB-MG), do mesmo partido do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse que depois da venda da Cemig e da Eletrobras, governo pode querer privatizar Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal “Setor estratégico como energia, nem em países como EUA e Japão é entregue ao capital privado como se quer fazer no Brasil”, afirmou.
O deputado Marcus Pestana (PSDB), defendeu a venda da Eletrobras e subsidiárias, chamando de obsoleta a manutenção de estatais para manter cabides de emprego.
“A Eletrobras é um manancial de ineficiência. Só existem quatro caminhos para resolver contas públicas: vender patrimônio, endividar-se, cortar as despesas ou aumentar impostos. Não há mágica”, disse o tucano, que atuou na privatização das teles no governo Fernando Henrique Cardoso.
Nesta quarta-feira, Coelho Filho disse que governo está decidido a realizar os leilões das usinas no segundo semestre deste ano.