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Governo tem dificuldade em atrair investidor para Angra 3

As autoridades brasileiras tinham grande expectativa por uma possível entrada de empresas chinesas no empreendimento

Angra 3: as negociações andam devagar e é muito difícil pensar em acordo neste momento, disse uma fonte (foto/INFO)
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Reuters

Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 16h47.

São Pulo/Rio de Janeiro  - O governo federal tem enfrentado dificuldades para atrair investidores para seus planos de retomar a construção da usina nuclear de Angra 3, no Estado do Rio de Janeiro , cujas obras foram paralisadas ainda em 2015, disseram à Reuters fontes com conhecimento do assunto.

As autoridades brasileiras tinham grande expectativa por uma possível entrada de empresas chinesas no empreendimento, liderado pela estatal Eletrobras, mas as negociações andam devagar e é muito difícil pensar em acordo neste momento, disse uma fonte que prefere ficar no anonimato.

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A usina de Angra 3 recebeu até o momento investimentos de mais de 5 bilhões de reais --as obras civis estão 67 por cento concluídas e equipamentos já foram contratados no Brasil e no exterior.

Mas a conclusão da obra demandaria mais do que o dobro do valor já investido, o preço da energia estabelecido originalmente para a usina não fecha a conta e precisaria ser revisto, e alguns investidores, como os chineses, querem sinalização de que poderão assumir novos projetos nucleares no país no futuro como contrapartida por participação em Angra 3, segundo as fontes.

De acordo com uma dessas pessoas, um estudo de viabilidade sobre a retomada das obras da usina deverá ser concluído neste mês pela Eletrobras para então ser levado ao governo brasileiro, e ainda há interessados, apesar de todos os complicadores.

"Nenhuma das empresas interessadas no projeto recuou, as conversas continuam com todas. O que precisa fazer é olhar o futuro da energia nuclear e novos empreendimentos", afirmou uma das fontes do lado brasileiro.

A Eletrobras chegou a assinar um memorando de entendimento com a China National Nuclear Corporation (CNNC) para uma possível cooperação, mas o principal interesse dos chineses seria vender equipamentos, o que fica prejudicado pelo estágio já avançado da central nuclear em construção, disse a primeira fonte.

Os chineses também avaliam que seria um risco grande assumir a retomada das obras de um empreendimento no qual não participaram desde o início.

A fonte adicionou que os chineses entendem que a operação só faria sentido se o governo brasileiro garantisse que haverá a construção de mais usinas nucleares no futuro, o que não está no horizonte neste momento.

A russa Rosatom também chegou a demonstrar interesse em participar da retomada de Angra 3, mas segundo a fonte a companhia tenta viabilizar uma joint venture com a chinesa CNNC para o projeto, devido à falta de recursos para entrar sozinha na empreitada.

O presidente da Rosatom para a América Latina, Ivan Dybov, disse em nota que a companhia aguarda "informações do lado brasileiro sobre o modelo de negócios planejado" para Angra 3 para decidir uma possível participação. Ele também afirmou que "alianças internacionais" para o empreendimento não estão em discussão "na etapa atual".

Não foi possível encontrar representantes da CNNC para comentar.

Uma outra fonte que acompanha as tratativas das autoridades brasileiras sobre Angra 3 ressaltou ainda que para atrair qualquer investidor para o empreendimento será preciso uma autorização para que a produção da usina seja vendida a um preço quase 70 por cento maior que o originalmente previsto.

"É preciso resolver a questão da nova tarifa... a tarifa tem que subir", disse.

O valor atualmente previsto para a venda da energia de Angra 3 é de 240 reais por megawatt-hora, e segundo duas das fontes o valor precisaria subir para algo próximo a 400 reais para tornar a usina nuclear viável.

Procurada, a subsidiária da Eletrobras responsável por Angra 3, a Eletronuclear, disse que todos os possíveis parceiros internacionais têm demonstrado interesse no projeto e na possível construção de novas usinas.

A empresa revelou ainda, nessa linha, que está próxima de assinar um memorando com a francesa EDF e a japonesa Mitsubishi para eventual colaboração no projeto, o mesmo documento firmado com a Rosatom e a CNNC.

Porém a Eletronuclear afirmou que um modelo de negócios para a retomada da construção da usina deve ser concluído "até junho de 2019".

Duro caminho

A usina de Angra 3, que seria a terceira nuclear brasileira, teve as obras iniciadas originalmente nos anos 80, mas os trabalhos foram suspensos em 1986 por falta de recursos públicos.

O presidente Lula autorizou a retomada do empreendimento em 2009, mas os trabalhos foram atropelados por investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que acusou empreiteiras envolvidas na obra de irregularidades

A Camargo Corrêa chegou a celebrar acordo de leniência junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) admitindo a prática de cartel nas obras da usina.

Em meio às investigações de irregularidades e à falta de pagamentos pela Eletrobras, que atravessava uma crise financeira, as empresas abandonaram a obra em 2015.

Um ex-presidente da subsidiária da Eletrobras responsável por Angra 3, a Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, chegou a ser preso duas vezes, em 2015 e 2016, sob acusações de receber propinas ligadas ao empreendimento.

Silva foi condenado a 43 anos de prisão, mas acabou solto no final de 2017 para aguardar em liberdade o julgamento de uma apelação.

Uma das fontes disse à Reuters que a estimativa do governo é de que a conclusão da usina demandará mais 13 bilhões de reais. A geração de energia poderia começar em 2025, quase 10 anos depois do prazo previsto quando da retomada do projeto.

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