Depósito 1 da central nuclear de Angra: 76% de ocupação (--- [])
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.
A entrada em operação de Angra 3, prevista para 2013, e o grande acúmulo de resíduos contaminados levaram o governo a propor a criação de uma estatal para gerenciar os rejeitos radioativos. A nova companhia faz parte de um plano de ação do Ministério de Ciência e Tecnologia e seria constituída antes da entrada em operação de Angra 3, em 2013.
Se criada, como quer a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), a estatal terá como função administrar o material de baixa e média radioatividade gerado por usinas, hospitais, universidades, centros de pesquisa e indústria em depósitos intermediários e finais. Hoje o Brasil acomoda esses resíduos resultantes da produção de energia em depósitos iniciais dentro da própria Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que reúne Angra 1, Angra 2 e as obras de Angra 3. Já os resíduos vindos de outras atividades, como os hospitais e indústria, são recolhidos e levados para depósitos intermediários, sob responsabilidade da Cnen.
Pela proposta do governo, a gestão dos depósitos iniciais de rejeitos produzidos nas usinas continuaria nas mãos da Eletronuclear, empresa mista que opera a central nuclear de Angra. A nova estatal cuidaria do armazenamento final dos materiais contaminados em baixa e média intensidade, como luvas, sapatos, filtros de ar. Os equipamentos e uniformes ocupam hoje três depósitos em Angra 1 e 2, um total de 5.962 mil tambores, que reúnem cerca de 2,180 mil metros cúbicos. Se a nova estatal vingar, ela terá como uma das fontes de receita a taxa cobrada pelo armazenamento de todo esse material em depósitos, que ainda não foram construídos. De acordo com a Eletronuclear, os estudos giram em torno de um pagamento único de 5 mil reais por metro cúbico - ou seja, para receber todo o "lixo nuclear" que foi produzido até hoje em Angra, a nova estatal receberia aproximadamente 11 milhões de reais.
A criação da estatal agilizaria a transferência dos rejeitos dos depósitos iniciais administrados pelas usinas para um futuro depósito final, ainda não construído. Esse local, previsto para 2012, é crucial para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, já que os depósitos hoje em funcionamento na central de Angra devem ficar superlotados até 2018. Os dois ambientes externos de armazenamento que atendem principalmente a Angra I, por exemplo, já estão praticamente saturados - o índice de ocupação é de 76% em um e de 93% em outro. Em funcionamento desde 1985, a usina produziu, na média dos últimos cinco anos, 100 metros cúbicos de rejeito por ano. Angra 2, mais avançada tecnologicamente e em operação desde 2001, liberou, na média dos últimos cinco anos, 8 metros cúbicos de resíduos anualmente, mesma quantidade esperada para Angra 3. O grande acúmulo de materiais radioativos levou a Eletronuclear a contratar a expansão de um dos depósitos e a construção de um novo, a um preço de 15,2 milhões de reais.
A criação do depósito final, gerido pelo governo, desafogaria as usinas de Angra e evitaria novos investimentos em construção por parte da Eletronuclear, segundo o assessor da presidência da companhia, Leonam dos Santos Guimarães. No entanto, a mudança não deve ter impacto no preço da energia, fixado em 113 reais o megawatt hora para Angra 1 e 2 e estimado em 140 reais para Angra 3 : "Não vamos precisar erguer novos depósitos, mas o dinheiro será usado para pagar o armazenamento feito pela nova estatal". Caso a estatal não seja criada, o depósito final ainda será construído pelo governo, mas sua gestão será mais difícil, segundo o presidente da Cnem, Odair Gonçalves. "O problema é que operações empresariais ficam ruins dentro de uma autarquia", afirma.
Além do material de baixa e média radioatividade gerado nas usinas, a nova estatal também cuidaria dos resíduos gerados em hospitais, centros de pesquisa e indústria - um volume que exige 900 mil reais por ano da Cnen. Desse total, 580 mil reais vão para o gerenciamento de depósitos e institutos, 100 mil para a manutenção de um depósito localizado em Abadia de Goiás (Goiás) - onde foram reunidos os rejeitos do Césio 137, após um acidente que provocou mortes no estado -, e cerca de 290 mil vão para o recolhimento de materiais radioativos, principalmente pára-raios.