Governo diz que demissões recorde em abril são "atípicas"
Brasil teve 598.596 contratações e 1.459.099 desligamentos em abril, batendo um salgo negativo recorde de 860.503
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de maio de 2020 às 14h18.
Última atualização em 27 de maio de 2020 às 14h20.
O dado de fechamento de vagas de emprego formal em abril, com saldo negativo de 860.503, é o pior para todos os meses da série histórica, segundo a coordenadora-geral de Cadastros, Identificação Profissional e Estudos da Secretaria de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Mariana Eugênio.
Em coletiva à imprensa sobre os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quarta-feira, 27, Mariana ponderou que, apesar do pior resultado o mês de abril foi atípico em razão da pandemia do novo coronavírus, e pelo fato de a crise ter afetado muito as admissões.
Foram 598.596 contratações e 1.459.099 desligamentos no período. "A ressalva é que é um mês totalmente atípico. Houve queda muito grande nas admissões, o que contribuiu para o saldo negativo", disse ela.
Secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco reforçou a declaração da colega, afirmando que é o mês "mais diferente". "Não é o mais negativo, é o mais diferente. É de fato uma situação mais inusitada", disse. Segundo ele, o ponto positivo é o que o governo está conseguindo "preservar empregos" mesmo que a série aponte para um nível menor de contratações. "Vamos trabalhar para ter o mesmo nível de contratação do início de ano", afirmou Bianco.
Para o secretário de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, Bruno Dalcolmo, é preciso considerar que em outras crises, os efeitos negativos no emprego foram percebidos de forma mais lenta, diferentemente da pandemia. "Essa crise se diferencia não pela profundidade, mas pela velocidade. A retração econômica que em outras crises levou meses para acontecer, nesta aconteceu em semanas", disse.
Ele ainda afirmou que o "sucesso do programa emergencial do governo" irá favorecer para uma retomada mais rápida da economia brasileira.
Programa de emprego
Bianco disse nesta quarta-feira que, "por ora", não se pode pensar na prorrogação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda do governo federal. Segundo Bianco, a decisão sobre a ampliação ou não dos prazos do programa será tomada em momento oportuno, junto ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da República, Jair Bolsonaro.
No programa, o governo federal paga um Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) para os trabalhadores que tiveram seus contratos de trabalho suspensos em razão da pandemia, ou que tiveram redução proporcional de jornada de trabalho e de salário.
"O governo avalia que de fato é um programa muito exitoso. O momento agora da nossa secretaria é de avaliar os efeitos desta política, portanto já até adianto dúvidas que podem surgir, de fato por ora não se pode nem pensar em prorrogação", disse o secretário. "Se vai ser ou não ampliado, isso no momento oportuno é uma decisão que tomaremos em conjunto com o ministro e o presidente da República, e aí sim, também com as medidas de retomada", afirmou Bianco.
Segundo ele, em paralelo a avaliação do programa emergencial, a secretaria já tem medidas de retomada "prontas", na "mesa", para serem lançadas num momento oportuno, que irão atacar o desemprego "diretamente". "Medidas de fomento a contratação, tudo na nossa mesa e prontas para, no momento oportuno, divulgá-las; obviamente esse não é o momento oportuno", disse o secretário.
Dalcolmo, por sua vez, afirmou ainda que não espera um "surto" no mercado de trabalho uma vez que, quando as medidas emergenciais em vigor forem encerradas, o País já deverá ter superado a crise sanitária, ou ela já estará bastante controlada em sua visão.
Desoneração da folha
Bruno Bianco disse que a desoneração da folha incluída na tramitação da medida provisória que permite acordos para suspensão e redução de salários não é a defendida pelo governo. O relator da MP 936, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), vai propor a prorrogação da desoneração da folha de salários para 17 setores da economia por mais dois anos como uma tentativa de manter empregos no momento pós-pandemia.
"A desoneração da folha é uma boa medida, se muito bem pensada. Essa que está no Congresso não é a que temos em mente e defendemos. O Congresso Nacional é soberano e estamos abertos para discussão", afirmou Bianco.
Dalcolmo afirmou que a desoneração deve ser feita dentro do âmbito da reforma tributária.
Projeções
Durante a divulgação dos dados do Caged, Dalcolmo disse que o governo não faz previsões para o saldo do emprego formal para o ano ou para o mês de maio.
Enquanto a equipe econômica estuda medidas para estimular a contratação de pessoas, Dalcolmo disse que a recuperação do emprego virá juntamente à recuperação econômica. "A demanda por trabalho deriva das condições econômicas, não tem jeito", completou.