Economia

Governo decide alterar indexador de dívida de Estados

Para o entendimento jurídico do Ministério da Fazenda, será preciso alterar também a Lei de Responsabilidade Fiscal

O Ministério da Fazenda aceita a troca do indexador, desejada pelos governadores, mas quer garantias de que os parlamentares não aproveitarão a brecha (Andrevruas/Wikimedia Commons)

O Ministério da Fazenda aceita a troca do indexador, desejada pelos governadores, mas quer garantias de que os parlamentares não aproveitarão a brecha (Andrevruas/Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2011 às 09h03.

Brasília - O governo decidiu alterar o indexador dos contratos das dívidas de Estados e municípios negociados com a União na década de 1990. Mas a decisão, que tem como objetivo abrir caminho para um acordo nas negociações da proposta de reforma tributária, envolve um arriscado jogo político no Congresso, porque o entendimento jurídico do Ministério da Fazenda é de que será preciso alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

O risco é encaminhar a proposta ao Congresso e os parlamentares pegarem carona para modificar outros pontos da LRF. Como ocorreu com o Código Florestal, esse é um tema de interesse de todos os partidos. E o temor é de que na hora da votação haja uma rebelião na base aliada, com votos contra a orientação do governo. Mudanças na LRF, que representou um marco nas finanças públicas, sempre foram "tabu".

O Ministério da Fazenda aceita a troca do indexador, desejada pelos governadores, mas quer garantias de que os parlamentares não aproveitarão a brecha para incluir outras reivindicações. Os governadores, nas conversas com a equipe econômica, já deixaram claro que querem mais mudanças nos contratos de dívida, mas não pretendem mexer em outros pontos da LRF.

A lista de pedidos inclui a redução dos juros dos contratos, hoje de 6% a 9% ao ano. Além disso, querem que a mudança do indexador seja retroativa. Dependendo da data, a retroatividade pode representar um grande passivo para a União. Os governadores querem também reduzir o teto de comprometimento das receitas com o pagamento mensal da dívida, de 11% para 9%.

Equilíbrio

Segundo fontes, a preferência da equipe econômica é que o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), atual indexador, seja trocado pelo custo médio de financiamento da dívida pública. A avaliação é de que essa correção evita haver "ganhadores e perdedores" em casos de maior volatilidade dos índices. Ainda assim, o governo fez simulações com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e a Selic (a taxa básica de juros da economia).

Favorável à troca de indexador, o economista José Roberto Afonso, que trabalhou na elaboração da LRF, avalia que não é preciso mudar a lei. Segundo ele, a legislação que rege os contratos permite a mudança. O próprio governo já fez alterações nesses documentos, inclusive pela chamada medida provisória (MP) da Copa do Mundo, sem alterar a LRF, ponderou Afonso.

O coordenador dos secretários de Fazenda no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), Carlos Martins, também avaliou que é possível alterar o indexador sem mexer na LRF. Segundo ele, há uma resolução do Senado que permite a adequação. "O indexador é claramente um desequilíbrio, já que os Estados não conseguem amortizar as dívidas."

Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o ex-procurador-geral da Fazenda Nacional, Cid Heráclito de Queiroz, que deu forma jurídica ao anteprojeto da LRF, alertou para o risco de mudança na lei. Ele deu parecer, no entanto, afirmando que os Estados e municípios têm o direito à "rerratificação" dos contratos, para mudança do indexador.

Acompanhe tudo sobre:Dívida públicaGovernoLegislaçãoMinistério da Fazenda

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor