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Gianetti: a revolução da ética

Em tempos de Operação Lava Jato, que descortinou um escândalo de corrupção sem precedentes no Brasil, o economista e filósofo Eduardo Giannetti entende que embora as “exigências éticas” tenham aumentado, elas, por si só, não despertam mais adesão. Autor do livro Vícios privados, benefícios públicos? Giannetti foi o terceiro palestrante do fórum A Revolução do […]

GIANETTI: “o sistema gera vícios de conduta que levarão à reprodução de práticas das quais nos queremos nos livrar” / Antonio Milena/ VEJA
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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 11h51.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.

Em tempos de Operação Lava Jato, que descortinou um escândalo de corrupção sem precedentes no Brasil, o economista e filósofo Eduardo Giannetti entende que embora as “exigências éticas” tenham aumentado, elas, por si só, não despertam mais adesão. Autor do livro Vícios privados, benefícios públicos? Giannetti foi o terceiro palestrante do fórum A Revolução do Novo, uma parceria entre as revistas VEJA e EXAME, e falou sobre a revolução no campo da ética e sobre tolerância e intolerância a desvios de conduta.

O economista afirma que a adesão das pessoas a normas éticas resulta da combinação entre três mecanismos: a submissão, que decorre da fiscalização e da punição a atitudes antiéticas; a identificação, que envolve o desejo de manter uma boa opinião dos demais e uma consciência tranquila; e a internalização, que parte da reflexão ética.

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“A internalização é baseada na educação formal e a liderança dentro das organizações. É fundamental que um líder transmita o respeito ao código de ética. Vejo muitas empresas que fazem códigos de ética impecáveis, mas não têm a menor exigência de tornar isso parte do pensamento de cada um dos que convivem em seu espaço organizacional”, afirma o economista.

Segundo Eduardo Giannetti, o modelo de empresa baseado apenas no respeito a um mínimo denominador legal e na maximização dos lucros e resultados, bastante comum em países como o Brasil, está errado tanto do ponto de vista ético quanto do econômico. “Se a empresa é boa, se ela tem um código de ética robusto, é provável que ela tenha bons resultados e remunere bem os acionistas. Se a liderança não dá à empresa sentido de propósito naquilo que ela faz, ela não vai mobilizar o conhecimento latente em seus colaboradores para que cada um entregue o que tem de melhor”, diz.

Em relação ao contexto brasileiro, sobretudo à Operação Lava Jato e as empreiteiras envolvidas no escândalo que sangrou os cofres da Petrobras, o economista e filósofo entende que o problema remonta à formação do Estado brasileiro, baseado no patrimonialismo, em que se confundem o que é público e o que é privado.

“Ainda vivemos em um modelo patrimonialista e que foi muito exacerbado, em que o Estado microgerencia a economia e o cria condomínios de poder, inclusive no setor privado, para alcançar resultados que incluem a sustentação no poder”, afirma Giannetti, para quem a dimensão da corrupção é diretamente proporcional ao tamanho do tal “condomínio de poder”.

Além do patrimonialismo, outro desafio ético elencado por Eduardo Giannetti é estritamente político: o presidencialismo de coalizão, em que o Executivo tem de fazer concessões ao Legislativo e às máquinas partidárias para governar. “Esse modelo, que já vinha claudicando, foi levado a ruir com Dilma Rousseff. Ela loteou 39 ministérios entre dez partidos para eleger o presidente da Câmara e perdeu a eleição, o que mostra a falência terminal do modelo de presidencialismo de coalizão”, lembra Giannetti.

Para o filósofo, punições a corruptos nos escândalos do mensalão e do petrolão são oportunidades únicas para alterar a cultura política no país, mas que correm risco sem uma reforma política. “Infelizmente, todo esse processo salutar de apuração, investigação e punição corre risco porque o sistema acaba gerando vícios de conduta que levarão novamente à reprodução de práticas das quais nos queremos nos livrar”, conclui Eduardo Giannetti.

(João Pedroso de Campos/ Exame.com)

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