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Gargalos globais atrasam entrega de máscaras e alimentos

Equipes médicas de países mais ricos estão morrendo por falta de materiais de proteção, enquanto governos enfrentam falta de respiradores e remédio

Caminhões esperam para atravessar a fronteira da Hungria para a Romênia, 8 de abril de 2020. (Akos Stiller/Bloomberg)

Ligia Tuon

Publicado em 18 de abril de 2020 às 08h01.

Última atualização em 20 de abril de 2020 às 17h33.

A entrega de alimentos e suprimentos médicos entra em fase crítica com o pico da pandemia de Covid-19 nos Estados Unidos e na Europa , colocando o sistema de comércio global sob o maior teste de estresse desde a Segunda Guerra Mundial.

Equipes médicas de países mais ricos estão morrendo por falta de materiais de proteção, enquanto governos enfrentam falta de respiradores e remédios. Sob pressão para garantir suprimentos, autoridades iniciam uma batalha com novas barreiras comerciais.

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A outra urgência é proteger a cadeia alimentar global e as pessoas que trabalham no processamento e transporte de produtos. Frigoríficos, fazendas de hortaliças, caminhões, navios mercantes, trabalhadores e infraestrutura enfrentam desafios.

Depressão profunda: FMI projeta uma retração global de 3% em 2020 (Divulgação/Bloomberg)

Em suma, a espinha dorsal do comércio global precisa de reforço antes de qualquer plano para passar do “modo crise” para a recuperação.

"Você não pode ir para casa"

Armadores, por exemplo, que transportam cerca de 80% dos produtos comercializados internacionalmente, operam com tripulações que ficam presas nos navios por muito mais tempo do que o habitual.

Normalmente, cerca de 100 mil trabalhadores marítimos - um em cada 12 do total global - embarcam todos os meses para aliviar os colegas. Essa troca de tripulação é impossível agora em grande parte do mundo por causa de regras restritas de viagens aéreas ou portuárias.

“Quando chegarmos a meados de maio, será uma crise real, a menos que comecemos a agir agora”, disse Guy Platten, secretário-geral da Câmara Internacional de Navegação (ICS, na sigla em inglês), em entrevista. O ICS pede que o G-20 classifique trabalhadores marítimos como “essenciais”, para que possam se deslocar mais livremente para poder trabalhar, principalmente ao transitar por aeroportos.

Empresas como a Oldendorff Carriers GmbH & Co. enfrentam o impacto de restrições. A maior transportadora de commodities da Alemanha, como grãos, carvão e fertilizantes, possui 700 navios e 4,5 mil funcionários, alguns dos quais não voltam para casa há meses.

“A tripulação não deve permanecer no navio em perpetuidade”, disse Scott Bergeron, diretor de desenvolvimento e estratégia de negócios da Oldendorff. “O equivalente é como um médico ou enfermeiro sendo informado: ‘Você não pode ir para casa no final do seu turno, ficará no hospital até que a crise termine.’”

Caminhoneiros também enfrentam problemas. Em partes da África, nem conseguem trabalhar porque não há transporte público. Na Europa, esperam em longos congestionamentos para atravessar fronteiras supostamente abertas.

Colocando barreiras

No mundo todo, motoristas que transportam mercadorias internamente ou entre países cumprem regras aplicadas localmente, destinadas a restringir a mobilidade da população em geral para impedir a propagação do vírus.

“Tivemos muitos governadores e prefeitos colocando barreiras à circulação segura e eficiente de mercadorias”, disse Sean McNally, porta-voz das Associações Americanas de Transporte por Caminhões. “Se as autoridades querem ter as prateleiras das lojas reabastecidas e os hospitais com suprimentos, precisam fazer ajustes para caminhões e motoristas de caminhão.”

Cestas de compras: parcela dos gastos dos consumidores com alimentos (Bloomberg/Divulgação)

(Com a colaboração de Joe Deaux, Michael Winfrey e Isis Almeida).

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