Economia

França espera que Neymar revolucione economia do futebol nacional

A chegada de Neymar é vista como uma salvação para um campeonato nacional que não conseguia competir em visibilidade com o de seus vizinhos

Neymar: é considerado como um "Beckham 2.0" (Christian Hartmann/Reuters)

Neymar: é considerado como um "Beckham 2.0" (Christian Hartmann/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de agosto de 2017 às 08h56.

Última atualização em 4 de agosto de 2017 às 09h20.

Genebra - Quando Neymar for apresentado aos torcedores do Paris Saint-Germain, neste sábado, no Parque dos Príncipes, na estreia do time no Campeonato Francês, do outro lado do campo estará uma equipe cujo orçamento anual representa apenas 10% do contrato assinado pelo brasileiro.

O Amiens sabe da diferença brutal que o modesto time tem em relação à fortuna do adversário.

Mas, paradoxalmente, o tom de seus jogadores e treinador com o reforço do adversário é de comemoração.

"Para a Ligue 1 (o Campeonato Francês), é extraordinário", disse Christophe Pelissier, técnico do time que em 2016 tinha um orçamento de apenas 8 milhões de euros (aproximadamente R$ 30 milhões).

Mathieu Bodmer, capitão do time, também celebra a nova fase. "Eu quero estar num campeonato onde os melhores estejam jogando", afirmou. "Com Neymar, haverá um impacto econômico, venda de camisas, turismo. E sua chegada facilitará a vinda de outros craques também", disse.

A realidade é que a chegada de Neymar, ao invés de criar tensões, é vista por enquanto como uma salvação para um campeonato nacional que não conseguia competir em visibilidade, marketing e renda com o de seus vizinhos.

Enquanto o PSG e seus advogados se apressavam nos últimos dias para acertar os últimos detalhes de um contrato histórico, nos bastidores eram donos de televisões, empresários e departamentos inteiros de marketing que proliferavam em ligações e reuniões para tentar definir a dimensão econômica da nova contratação e rever contratos pelo mundo.

Considerado como um "Beckham 2.0", Neymar tem uma dimensão no mundo do futebol, nas redes sociais e no mundo da publicidade que nenhum outro jogador do clube pode por enquanto sonhar. Somando todas as redes sociais, Neymar chega a 169 milhões de pessoas a cada mensagem enviada, superior a todo o time do PSG reunido.

O próprio Amiens se deu conta dessa dimensão. Nesta semana, o clube viu que uma mensagem que público nas redes sociais ganhar uma dimensão inédita, compartilhada mais de 9 mil vezes. Nela, o time brincava com a chegada de Neymar e sugeria que ele tomasse a decisão mais tarde, depois do jogo do modesto time do interior da França com o PSG. É essa dimensão inédita de publicidade que tanto o PSG como a Ligue 1 querem agora capitalizar.

Mas não é apenas no mundo virtual que a Ligue 1 espera ganhar. Para Didier Quillot, diretor geral da Liga de Futebol Profissional da França (LFP), o brasileiro é "Ibrahimovic à décima potência" e tem o potencial de levar um número maior de pessoas diante da televisão em um dia de jogo e trazer ao estádio aqueles que ainda hesitam. Hoje, os estádios do campeonato local contam com apenas 67% de suas arquibancadas lotadas, um número muito inferior ao que se registra na Alemanha ou Inglaterra.

Mas é na TV que o Francês espera dar um salto inédito e que poderia beneficiar a todos. Nos próximos meses, a direção do campeonato fará uma licitação para redes de todo o mudo que queiram adquirir os direitos para transmitir as temporadas de 2020 e 2021. Agora, com Neymar, essa licitação promete atrair novos interessados e inflacionar o preço.

Hoje, a transmissão do Campeonato Francês rende à entidade meros 80 milhões de euros (R$ 296 milhões) por ano com sua difusão no exterior. O valor é considerado como insignificante diante dos mais de 1 bilhão de euros (mais de R$ 3,6 bilhões) que arrecada o Campeonato Inglês.

Agora, a LFP quer mudar essa realidade e já busca formas de promover o Campeonato Francês no exterior. O Estado apurou que o foco será principalmente a Ásia e a América Latina, regiões onde Neymar conta com uma grande popularidade.

A ideia é de que, se esses contratos forem renovados com novos valores, todos ganharão. Internamente, as redes também prometem uma guerra cada vez maior para fechar com a Ligue 1. O próprio PSG reiniciará uma negociação sobre seus contratos de patrocínio e ninguém tem ilusões que o "fator Neymar" vai mudar os valores sobre a mesa.

"Não podemos ter um melhor embaixador que Neymar para nosso campeonato", disse Nathalie Boy la Tour, a presidente da LFP. Para ela, o impacto dessa "revolução" trará benefícios a todos.

DÚVIDAS - Mas o entusiasmo não é compartilhado por todos. Jean Michel Aulas, presidente do Lyon, alertou para a "perigosa bolha" que pode estar sendo criada no futebol francês. "Sabemos que Neymar pode tornar a Ligue 1 extremamente visível e o impacto é real nos contratos de TV", disse.

Mas ele teme uma diferença cada vez maior entre alguns poucos clubes franceses e o restante do campeonato, que apenas lutará para não cair. "Isso pode criar sérios danos para os demais e tais valores apenas contribuem para uma bolha perigosa", disse.

Do outro lado da fronteira, o presidente do Bayern de Munique, Uli Hoeness, também falou em "bolha". "Eu me recuso em participar de tal loucura", disse. "Os dirigentes precisam se questionar se tudo isso é aceitável e racional", insistiu.

Acompanhe tudo sobre:FrançaFutebolFutebol europeuJogadores de futebolNeymar

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor