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Fome Zero: não dá para agradar a todos

Nem toda confusão, amadorismo e improvisação em torno do programa Fome Zero, lançado nesta quinta-feira (30/1) em Brasília, devem obscurecer um ponto simples: a idéia por trás do projeto é corretíssima e pode significar uma inflexão muito importante na história do PT. O principal mérito do programa é seu foco: os brasileiros mais pobres. Trata-se […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h51.

Nem toda confusão, amadorismo e improvisação em torno do programa Fome Zero, lançado nesta quinta-feira (30/1) em Brasília, devem obscurecer um ponto simples: a idéia por trás do projeto é corretíssima e pode significar uma inflexão muito importante na história do PT.

O principal mérito do programa é seu foco: os brasileiros mais pobres. Trata-se de uma obviedade que tem sido negligenciada por boa parte dos programas sociais brasileiros, que acabam mirando os não-pobres e até mesmo os ricos, mas quase nunca a base da pirâmide social. Quem passa fome deveria ser, por definição, alvo preferencial de uma boa política pública. O Brasil já conta com uma gama importante de programas sociais, mas vários deles são absorvidos pelas classes médias. O Fome Zero vai atender quem realmente precisa.

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É uma mudança importante para o PT. Partido que nasceu para representar a classe trabalhadora, tem em sua base os grupos mais organizados, como sindicatos de funcionários privados e públicos. É muito ativo na hora de pressionar por aumento de salários ou reajustes para o funcionalismo público. Ou para barrar mudanças que afetem esses grupos, como na reforma da Previdência durante os anos FHC. Como o dinheiro público não cai do céu, é evidente que defender alguns grupos significa deixar outros de lado. Até agora, os mais pobres vinham sendo solenemente ignorados nas ações do PT.

Por isso mesmo, o sucesso do programa vai depender de algumas decisões a serem enfrentados no futuro próximo. Em primeiro lugar, como o partido vai reagir quando chegar a hora de reajustar salários dos funcionários públicos, mexer no salário-mínimo ou aprovar a reforma da Previdência? Não vai dar para agradar a todos e é aí que se saberá se o compromisso com os mais pobres é mesmo para valer.

Em segundo, é preciso admitir que o Fome Zero não está reinventando a roda. Ele pode dar certo se aceitar, como parece ser o caso, os programas já testados e aprovados. A novidade pode ficar por uma maior integração desses programas. Com o passar do tempo, à medida que aumente a capacidade de gasto do governo, os objetivos poderiam ir se tornando mais abrangentes.

Por fim, é vital não criar uma burocracia ou um conjunto de regras que acabem inviabilizando o sucesso do Fome Zero. Dar dinheiro para quem precisa parece ser infinitamente mais eficientes do que montar armazéns para estocar comida ou ter o BNDES como articulador da distribuição de bens em todo o país. Tudo somado, o governo do PT ainda está em seu primeiro mês e seria exagero cobrar um programa totalmente articulado em tão pouco tempo.

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