FMI diz que relação com Argentina "talvez tenha que esperar"
Declarações do diretor-gerente interino do FMI dão o o sinal mais claro de que o empréstimo recorde de US$ 56 bilhões está congelado no momento
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de setembro de 2019 às 10h50.
Última atualização em 26 de setembro de 2019 às 10h56.
O programa financeiro da Argentina com o Fundo Monetário Internacional ficará suspenso por um tempo diante das incertezas políticas e econômicas, disse o diretor-gerente interino do FMI, David Lipton, em entrevista.
“Nosso trabalho neste cenário é ajudá-los a passar por esse período, aconselhá-los, trabalhar em direção a uma provável retomada de um relacionamento - algum tipo de relacionamento financeiro com eles - que talvez tenha que esperar um pouco”, disse Lipton à Bloomberg Radio na quarta-feira.
Lipton acrescentou que “a situação da Argentina no momento é extremamente complexa”, mas que as recentes medidas do governo “acalmaram os mercados”.
Suas observações são o sinal mais claro de que o empréstimo recorde de US$ 56 bilhões do FMI para a Argentina está congelado no momento, incluindo um desembolso de US$ 5,4 bilhões que espera aprovação desde 15 de setembro. Já havia indicações anteriores de que o FMI estava à espera de mais clareza sobre as políticas do próximo governo.
A derrota do presidente Mauricio Macri nas eleições primárias de agosto desencadeou uma crise cambial que levou o líder a implementar controles de capital, adiar o pagamento da dívida local e dizer que buscaria um “reperfilamento voluntário” da dívida com outros credores, incluindo o FMI.
Por outro lado, o candidato presidencial da oposição, Alberto Fernández, ainda não apresentou um programa econômico. Também não anunciou quem vai liderar sua equipe econômica, embora tenha pedido uma revisão do acordo com o FMI. Investidores agora veem uma chance de 95% de default na Argentina nos próximos cinco anos.
No momento, a Argentina parece não atender aos requisitos prospectivos do FMI, como um caminho sustentável para a dívida ou acesso a mercados, para desembolsos adicionais de empréstimos. Alguns analistas estimam que o país precisa de cerca de US$ 6 bilhões em financiamento para o resto do ano, portanto, o dinheiro do FMI ajudaria a cobrir os próximos pagamentos da dívida.
Próximo presidente
Lipton, que se reuniu com Macri, com o ministro da Fazenda, Hernán Lacunza, e com o presidente do Banco Central, Guido Sandleris, na terça-feira em Nova York, disse que o FMI vai trabalhar com qualquer vencedor da eleição presidencial de 27 de outubro.
“Estamos prontos para ajudar qualquer lado que vencer a eleição presidencial”, disse. “Não é da nossa conta tentar adivinhar o caminho político adiante, não podemos fazer isso.”
Lipton minimizou, no entanto, o uso de controles de capital na Argentina, que está levando ao ressurgimento de taxas de câmbio paralelas, incluindo um mercado negro. Tais controles, disse, são “algo que podemos monitorar”.
“Já lidamos com países que têm mercados paralelos em muitas, muitas circunstâncias. Esse não é um grande desafio”, acrescentou. “A questão maior é como acalmar o mercado e estabilizar a situação.”
Lacunza se reuniu na quarta-feira novamente com representantes do FMI em Washington, como a próxima diretora-gerente do Fundo, Kristalina Georgieva. Uma missão técnica argentina planeja retornar aos EUA em algumas semanas para as reuniões anuais da organização em outubro.
Em nota, o Ministério da Fazenda citou Georgieva dizendo que ela considera a Argentina uma “prioridade máxima” para o FMI. Acrescentou que a nova diretora-gerente prometeu continuar trabalhando com a Argentina, “entendendo as dificuldades econômicas e políticas pelas quais o país está passando”.
(Com a colaboração de Jorgelina do Rosario, Paul Sweeney e Tom Keene)