FMI alerta para aumento do endividamento da China e dos EUA
A instituição explica os porquês em seu relatório sobre políticas orçamentárias, conhecido como Monitor Fiscal
Agência de notícias
Publicado em 12 de abril de 2023 às 18h02.
Depois de dois anos de queda, a dívida de Estados Unidos , China e outros países desenvolvidos e emergentes, exceto a zona do euro, vai aumentar até atingir, em 2028, os níveis da pandemia, alertou o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) nesta quarta-feira, 12.
A instituição explica os porquês em seu relatório sobre políticas orçamentárias, conhecido como Monitor Fiscal. "Temos visto um ajuste perceptível na proporção de endividamento após o aumento observado em 2020, graças à reabertura da economia e à forte recuperação observada, mas também graças à inflação porque foi inesperada, o que contribuiu para aumentar temporariamente a arrecadação tributária", explicou à AFP o diretor do departamento de assuntos orçamentários do FMI, Vitor Gaspar.
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É que o aumento dos preços eleva a arrecadação fiscal ao provocar uma alta automática das receitas do imposto sobre o valor agregado.
Mas a dívida voltou a subir em 2023 e "em 2028 deveria voltar a se aproximar de 100% do PIB", nível alcançado durante a pandemia, acrescentou Gaspar.
Dívida versus PIB
Na China e nos Estados Unidos, o endividamento em relação ao PIB deve alcançar, respectivamente, em cinco anos, 100% e 135%, níveis nunca vistos até agora nos dois países.
Cliente escolhe verduras em um supermercado de Hangzhou, na província de Zhejiang, leste da China, em 11 de abril de 2023
Para a China, isto representará, inclusive, o dobro de seu nível da dívida pré-pandemia, ressaltou o FMI.
Gaspar destacou, durante uma coletiva de imprensa, que "a prioridade para a China é propor uma rede de segurança mais generosa, que anime as famílias chinesas a reduzirem seu nível particularmente alto de poupança", aumentando, assim, o consumo e, consequentemente, a receita fiscal para o Estado.
Quanto aos Estados Unidos, "vemos um aumento bastante rápido e persistente do endividamento. Beneficiam-se de que os bônus do Tesouro são considerados ativos mais seguros no mercado financeiro. Mas acreditamos ser necessário um ajuste em sua política orçamentária", detalhou Vitor Gaspar.
A dívida da maior potência do mundo é atualmente a razão de um cabo de guerra no Congresso, pois o país atingiu o teto de 31,4 trilhões de dólares (cerca de R$ 155 trilhões) em janeiro e poderia correr o risco de entrar em default no próximo verão (boreal) se os republicanos e os democratas não chegarem a um acordo para aumentar este teto.
A zona do euro
Christine Lagarde durante seu comparecimento perante o Comitê de Assuntos Econômicos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, 20 de março de 2023
Se não mudarem suas políticas orçamentárias, as duas principais potências econômicas vão concentrar a maior parte do aumento acumulado até 2028, mas se estes dois países não forem levados em conta, a proporção da dívida global, ao contrário, vai diminuir, segundo o FMI.
"De fato, mais de 60% dos países vão experimentar uma redução de seu endividamento nos próximos cinco anos. O aumento se concentra em um punhado de países: China, Japão, Turquia, Brasil, África do Sul, Estados Unidos e Reino Unido", afirmou Gaspar.
A situação é "muito diferente de um país para outro", destacou.
A zona do euro deveria experimentar uma queda em sua proporção de endividamento, com uma redução regular do déficit público acumulado a cada ano.
Na Alemanha, inclusive vai cair abaixo dos 60% do PIB em 2028, contra quase 69% em 2021.
A única exceção é a França, que vai experimentar, ao contrário, um aumento constante de seu endividamento nos próximos cinco anos ao ponto de superar, em 2028 (115%), o nível alcançado no auge da pandemia.