O Brasil recebeu um dos maiores fluxos de recursos para renda fixa em toda a história no primeiro trimestre do ano (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2014 às 11h10.
São Paulo - O excesso de liquidez global visto nos últimos meses, inflado pela frustração com o "tapering" e renovado pela promessa de mais flexibilidade monetária, agora na Europa, ainda deve manter o fluxo de divisas para os países emergentes aquecido por um tempo. Esses recursos começam a incomodar os bancos centrais de países emergentes, incluindo o brasileiro, apesar do fluxo dar alguns sinais de fadiga.
A Colômbia, por exemplo, começou a comprar dólares. A Coreia, dos poucos asiáticos com apreciação cambial, elevou o tom contra a especulação e fala em ajudar os exportadores. Já o BC da Turquia, cuja moeda está entre as líderes em valorização ante o dólar, dá sinais de que pode sucumbir às pressões do governo e flexibilizar o aperto monetário, mesmo com a inflação em alta.
Por aqui, o BC deve manter a Selic estável na reunião do Copom do dia 28 de maio e, pela primeira vez desde agosto de 2013, fechar o mês reduzindo sua posição líquida em swap cambial - a autoridade monetária deixará vencer aproximadamente metade do lote total com vencimento previsto para junho, se mantiver o ritmo de colocações e rolagem, e sua posição vendida encolherá pelo primeiro mês desde o início deste programa de intervenção cambial, nota a equipe econômica do Itaú BBA, em relatório para clientes.
As ações dos BCs estão longe de ser uma orquestração contra a guerra cambial, mas são um reflexo direto do fluxo excessivo de recursos que voltou para as nações em desenvolvimento e provocou apreciação das moedas. O Brasil recebeu um dos maiores fluxos de recursos para renda fixa em toda a história no primeiro trimestre do ano.
O saldo de investimento estrangeiro em títulos de renda fixa negociados no País no acumulado do ano até março ficou em US$ 11,643 bilhões, ante US$ 1,752 bilhão no mesmo período do ano passado. O volume só perde para o terceiro trimestre de 2013 (R$ 15,054 bilhões, na sequência da zeragem do IOF para esse tipo de aplicação).
Como reflexo, desde o começo do ano, o dólar marca queda de 6,2% ante o real. Ao mesmo tempo, os juros mais longos, que rondavam o patamar de 13%, agora oscilam entre 12% e 12,3%.
"Nunca o diferencial de juros foi tão grande", alerta um operador, lembrando que em 2008, quando o Brasil tirou o IOF, os juros domésticos estavam em 8,75%, com taxa próxima de zero lá fora. Agora, a Selic está em 11%, pagando até mais para papéis mais longos, com a mesma taxa zerada no exterior, e também sem IOF.