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Flórida pede restrições à importação de laranja do Brasil

Plantadores e fabricantes locais de suco exigem que o governo americano imponha sobretaxas ao produto brasileiro

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h28.

Mais uma vez, os produtores brasileiros de suco de laranja são acusados de dumping pela indústria citricultora do estado da Flórida. A Flórida Citrus Mutual (FCM), associação que representa o setor, exigiu que o governo dos Estados Unidos imponha sobretaxas às exportações brasileiras, sob a alegação de que os produtos entram no país com preços abaixo do custo.

A petição foi apresentada ao Departamento de Comércio e à Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos. No documento, o Brasil é acusado de vender suco congelado concentrado por preços até 37% menores que o custo de produção. Os citricultores brasileiros também são acusados de exportar suco pasteurizado não concentrado até 78% abaixo do preço de custo. "Como temos visto, o objetivo dos brasileiros é distorcer a indústria e manipular o mercado, em detrimento dos produtores da Flórida", afirmou ao The Wall Street Journal o vice-presidente da FCM, Andy LaVigne.

A tentativa dos citricultores da Flórida de conter a entrada do suco brasileiro nos Estados Unidos é antiga. Já em 1987, por exemplo, a FCM acusou a brasileira Citrovita de praticar dumping. A redução das barreiras tarifárias americanas ao concentrado de laranja nacional também é um dos pontos que emperram as discussões para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) há vários anos.

As pesadas taxas impostas pelo governo americano ao suco brasileiro são, no entender dos citricultores do Brasil, o principal argumento que contradiz a alegação de dumping. No mercado americano, o produto do Brasil é comercializado a 1 250 dólares por tonelada (segundo a Bolsa de Nova York). Para a Europa, o mesmo produto é vendido por 850 a 900 dólares. A diferença 38% a mais em favor dos americanos é basicamente a taxa de importação praticada pelos americanos. "Isso significa que o preço do suco nos Estados Unidos é similar ao valor internacional, mais as tarifas", afirma Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP.

Preços em alta e estoques
Para os analistas, o que motivou as novas queixas da FCM foram a quebra da safra de laranja americana, causada pelos furacões que varreram a Flórida neste ano, e os elevados estoques de suco existentes no país. Há duas safras (2002/2003 e 2003/2004), os produtores da Flórida sofrem com os baixos preços, devido ao excesso de oferta basta lembrar que, no ano passado, os citricultores tiveram uma safra recorde nos Estados Unidos. "Isso gerou uma descapitalização muito grande", afirma Margarete.

Além disso, o consumo de suco de laranja está patinando nos Estados Unidos, por causa de campanhas que o acusam de ser altamente calórico. O resultado é que os produtores iniciaram a colheita da safra 2004/2005 com o equivalente à metade do consumo de um ano ainda em estoque.

A esperança era que a quebra da safra, devido aos desastres naturais deste ano, elevasse os preços e recuperasse parte das margens das colheitas anteriores. De fato, a cotação da laranja está se recuperando. "Desde meados de novembro até o momento, a cotação subiu 27% na Bolsa de Nova York", afirma Michael McDougall, vice-presidente da mesa de operações para América Latina da corretora novaiorquina Fimat, especializada em commodities agrícolas. Ao mesmo tempo, a previsão é que sejam colhidos 168 milhões de caixas de laranja nesta safra, 44% menos que na anterior.

Mercado atraente
"Obviamente, a alta dos preços e o menor volume colhido nos Estados Unidos atraem a atenção dos brasileiros", diz McDougall. É justamente por isso que a FCM apressou-se para conter uma nova enxurrada de suco de laranja do Brasil em seu mercado. Segundo o The Wall Street Journal, espera-se que centenas de milhões de litros de concentrado brasileiro sejam importados pelos americanos do Brasil neste ano, devido à quebra da safra da Flórida.

O governo americano deve decidir, nos próximos meses, se acata a petição da FCM. Mesmo que sejam impostas sobretaxas à importação, os citricultores brasileiros não devem ser prejudicados. "Desde meados da década de 90, dependemos cada vez menos do mercado americano", afirma Margarete, da Esalq.

Dados da Associação Brasileira de Exportadores de Cítricos (Abecitrus) confirmam que os americanos perderam espaço na pauta brasileira. Há dois anos, a Nafta (área de livre comércio da América do Norte) importou 181 462 toneladas de suco concentrado. Em 2004, o volume deve fechar em torno de 150 000 toneladas. As chances de sucesso da FCM em sua empreeitada, porém, são pequenas, afirma McDougall, da Fimat. "Politicamente, é difícil que o processo avance, porque os Estados Unidos já sofreram derrotas na OMC (Organização Mundial de Comércio) neste ano", diz. Um exemplo de vitória brasileira contra os americanos na OMC foi a condenação do subsídio ao algodão.

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