Economia

Ex-secretária do Tesouro defende subir juros para ajudar a economia. Entenda por quê

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, diz que Selic a 2% trouxe volatilidade ao câmbio e aumento da curva de juros

Brasília - Secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, comenta o resultado primário do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) do primeiro semestre (Wilson Dias/Agência Brasil)

Brasília - Secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, comenta o resultado primário do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) do primeiro semestre (Wilson Dias/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 10h43.

Uma alta na taxa básica de juros Selic, que está no menor patamar histórico de 2%, será mais producente para a economia brasileira este ano. A avaliação é da economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, que divulgou a revisão do cenário econômico para este ano.

O Santander estima que o Banco Central deve iniciar um ciclo de alta de juros já no primeiro semestre, com a Selic chegando a 4% ao final do ano. No final desse ciclo, a taxa de juros deve fechar em 6%, cenário previsto para o final de 2022 ou início de 2023.

Mas uma elevação dos juros nominais, em vez de travar a economia, já que aumenta custo do dinheiro, poderá ter efeito contrário.

- Isso não é uma coisa que eu digo normalmente. Mas a queda dos juros até os 2% acabou sendo contraproducente para a economia. Esse nível de juros, trouxe volatilidade para o dólar e esticou a curva de juros mais longos, o que inibe decisões de investimento. Por incrível que pareça, um aumento dos juros nominais poderá ser mais producente para a economia brasileira, porque vai frear a curva de juros e reduzir a volatilidade no câmbio - diz Vescovi.

Para Vescovi, este ano, a vacinação, a volta da mobilidade e o cenário fiscal serão determinantes para a retomada da economia e não a política monetária.

Na estimativa do Santander, o governo deverá gastar este ano R$ 25 bilhões, fora do teto de gastos, com a reedição do auxílio emergencial. Mas a despesa será temporária e pode ser compensada no tempo com aprovação de medidas fiscais, como a PEC Emergencial, que traria uma economia de R$ 10 bilhões no próximo ano e nos anos seguintes.

Vescovi observa que o gasto de R$ 25 bilhões, mesmo sendo temporário, não afasta o risco fiscal. A economista não acredita numa deterioração maior do quadro fiscal, mas o teto será apertado em 2021 e um pouco mais folgado em 2022.

A economista avalia que a compensação dos gastos extras poderá vir com a aprovação da PEC Emergencial. Uma das propostas dessa PEC prevê mais um ano sem reajuste para servidores públicos.

- O congelamento dos salários é um dos pontos mais importantes - disse a economista.

O banco prevê que o Brasil deverá chegar ao final do ano com 48% da população imunizada contra a Covid-19, o que levará a economia a um crescimento de 2,9% em 2021.

- Este ano, a vacinação, a volta da mobilidade e o cenário fiscal serão determinantes para a retomada da economia e não a política monetária - disse Vescovi, em conversa com jornalistas.

Se todas as vacinas do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação forem efetivamente adquiridas, diz o relatório do Santander, o Brasil teria cerca de 156 milhões de pessoas vacinadas (73% da população) até o final de 2021. O cenário-base do Santander, entretanto, prevê um atraso de 20% na vacinação e estima que 59% da população será vacinada, com uma eficácia média de 60%.

Além disso, o banco também considera a imunidade adquirida por infecção anterior, o que levaria a uma população imune de 48% ao final de 2021.

- Mas a economia ainda vai piorar antes de melhorar. Com mais uma onda de contaminação, com novas variantes do vírus, o primeiro trimestre deve ter um PIB negativo. Mas no segundo semestre, o Produto Interno Bruto (PIB) ganha tração, com aprovação de novas vacinas pela Anvisa, melhor logística, mobilização de mais profissionais de saúde - disse Vescovi.

Na estimativa do Santander, há pouco espaço para o real se apreciar este ano. O dólar deve continuar pressionado com a moeda americana chegando ao final do ano cotada a R$ 5,20 dos R$ 4,60 previstos anteriormente pelo banco. Com isso, a expetativa para a inflação oficial para este ano subiu de 3% para 3,60%.

Se o Santander manteve a expectativa de crescimento da economia para 2,9% este ano, para 2022 reduziu a estimativa de 2,5% para 2,3%.

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