Economia

EUA anuncia sanções à Venezuela pouco antes de novo mandato de Maduro

Medida visa pessoas acusadas de se beneficiarem de esquema de intercâmbio de divisas derivadas do controle de câmbio

Última eleição de Maduro não foi reconhecida por vários países latino-americanos, EUA e UE (Miraflores Palace/Reuters)

Última eleição de Maduro não foi reconhecida por vários países latino-americanos, EUA e UE (Miraflores Palace/Reuters)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 8 de janeiro de 2019 às 17h02.

Última atualização em 8 de janeiro de 2019 às 17h26.

Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (8) novas sanções contra a Venezuela visando pessoas acusadas de se beneficiarem de um esquema de intercâmbio de divisas derivadas do controle de câmbio, dias antes de o presidente Nicolás Maduro assumir seu segundo mandato, denunciado como ilegítimo.

As novas sanções recaem sobre sete pessoas e cerca de 20 empresas acusadas de se beneficiarem desse esquema, uma lista que inclui Raúl Gorrín, dono do canal privado Globovisión.

"Os atores do regime saquearam bilhões de dólares da Venezuela, enquanto as pessoas da Venezuela sofriam. O Tesouro tem como alvo esta rede de intercâmbio de divisas, que é um esquema ilegal que o regime da Venezuela tem usado há muito tempo para roubar seu povo", disse o secretário do Tesouro, Steven T. Mnuchin.

Já a Venezuela considerou as sanções ilegais e afirmou que "só quem pode impor sanções internacionais é o Conselho de Segurança (da ONU). Estamos falando de medidas arbitrárias porque não estão contempladas em nenhuma legislação internacional", disse a vice-presidente, Delcy Rodríguez, em coletiva de imprensa.

Ela destacou que as ações "são unilaterais, pois são impostas por um governo de forma abusiva, e ilegítimas, porque não têm legalidade alguma".

O país ainda apresentou um recurso contra os Estados Unidos ante a Organização Mundial do Comércio (OMC) para denunciar tais sanções e outras "medidas coercitivas de restrições comerciais contra si, informou o organismo nesta terça.

Em 2003, a Venezuela impôs controles cambiais, reservando o monopólio da moeda estrangeira, que vendia ao setor privado a taxas inferiores às do mercado negro, e esse diferencial estimulou a corrupção.

Poucos dias antes de o presidente Nicolás Maduro iniciar um segundo mandato, após eleições não reconhecidas por vários países latino-americanos, Estados Unidos e União Europeia, o Tesouro anunciou mais sanções, além das disposições que já afetam altos funcionários do governo, incluindo o chefe de Estado, sua esposa e vários ministros e líderes de Chávez.

Isolamento internacional

O Grupo Lima, com exceção do México, pediu a Maduro na sexta-feira que não assuma seu segundo mandato e transfira poder para o Parlamento - o que Caracas considerou uma incitação a um golpe de Estado.

Caracas aproximou-se de seus aliados Rússia, China, Irã, Turquia e Coreia do Norte, antecipando mais pressão internacional. A UE, por sua vez, pediu uma nova eleição "livre e justa" nesta terça-feira e, na quinta-feira, a Organização dos Estados Americanos (OEA) realizará uma sessão extraordinária sobre a Venezuela.

O país, que deixou para trás um passado de bonança de petróleo, está passando por uma grave crise institucional, social e econômica. Sua maior fonte de moeda estrangeira, petróleo, caiu e a produção despencou de 3,2 milhões de barris por dia para 1,13 milhão na última década.

De acordo com o FMI, a economia contrairá 5% em 2019 e a hiperinflação alcançará 10.000.000%.

Essa crise desencadeou a mais forte onda de migração na história recente da América Latina. A ONU estima que 2,3 milhões de venezuelanos saíram desde 2015 e calcula que esse número subirá para 5,3 milhões em 2019.

O Departamento do Tesouro acrescentou sete pessoas à lista nesta terça-feira, incluindo a ex-Tesoureira da Nação Cláudia Patricia Díaz y Gorrín, acusada de subornar o Tesouro Nacional para realizar operações ilícitas de câmbio na Venezuela.

Além disso, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) sancionou cinco outras pessoas e 23 entidades.

"Os Estados Unidos continuam comprometidos em responsabilizar os responsáveis pelo trágico declínio da Venezuela e continuarão a usar as ferramentas para apoiar os esforços do povo venezuelano para restaurar sua democracia", disse Mnuchin.

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