A decisão dos Estados Unidos é tomada nas últimas semanas do governo de Donald Trump e em um momento de tensão entre Pequim e Washington e Taipei (New York Times/The New York Times)
Karla Mamona
Publicado em 10 de janeiro de 2021 às 10h17.
Os Estados Unidos removeram as restrições de décadas ao contato oficial com Taiwan, anunciou no sábado (9) o secretário de Estado, Mike Pompeo, em um comunicado.
Pompeo afirmou que "restrições internas complexas" que regulam os contatos de diplomatas, membros das forças armadas e outros com Taiwan haviam sido impostas "na tentativa de apaziguar o regime comunista de Pequim", mas "não mais".
A declaração, que veio nas últimas duas semanas do governo Donald Trump, certamente enfurecerá a China, que vê Taiwan como uma província rebelde e tem trabalhado para isolar a ilha do resto do mundo.
Taiwan foi o refúgio dos nacionalistas chineses que foram derrotados pelas forças comunistas em 1949.
O embaixador de Taiwan nos Estados Unidos, Hsiao Bi-khim, saudou esta decisão. "É o fim de décadas de discriminação", disse ele no Twitter.
"É um grande dia para o nosso relacionamento bilateral", acrescentou.
O ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, também saudou o levantamento das restrições que "limitaram inutilmente" as relações bilaterais.
"A estreita parceria entre Taiwan e os Estados Unidos repousa solidamente em nossos valores e interesses comuns e na fé inabalável na liberdade e na democracia", considerou.
A decisão dos Estados Unidos é tomada nas últimas semanas do governo de Donald Trump e em um momento de tensão entre Pequim e Washington e Taipei.
O significado da medida na prática não está claro, embora Pompeo tenha dito que todas as comunicações do Executivo com a ilha serão feitas por meio do Instituto Americano de Taiwan (AIT), de propriedade de Washington e que funciona como uma embaixada de fato.
O presidente Donald Trump enviou vários funcionários para Taipei no último ano, inclusive em momentos de confronto com a China em várias questões, desde a pandemia de covid-19 até disputas comerciais, de segurança e direitos humanos.
Há dois dias, o governo chinês alertou os Estados Unidos sobre um "alto preço" a pagar se prosseguirem com os planos de enviar sua embaixadora nas Nações Unidas, Kelly Craft, à ilha na próxima semana.
Pequim se opõe a qualquer reconhecimento diplomático de Taiwan.
A visita de três dias de Craft está planejada para uma semana antes da posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos. Aumentará, portanto, a tesão diplomática a ser enfrentada pelo novo presidente.
"Instamos veementemente os Estados Unidos a parar com essa provocação insana, a parar de criar novas dificuldades para as relações China-EUA... e a interromper sua marcha no caminho errado", disse Pequim.
Uma declaração emitida em Washington indica que a visita de Craft "reforçará o forte e contínuo apoio do governo dos Estados Unidos ao espaço internacional de Taiwan".
Os Estados Unidos reconheceram a soberania da China em Taiwan em 1979 sob a presidência de Jimmy Carter (1977-1981), mas ao mesmo tempo criaram a AIT e mantiveram uma forte aliança com a ilha.
O governo é forçado pelo Congresso a vender armas de autodefesa e se opõe a qualquer uso da força pela China.
Aeronaves militares chinesas fizeram 380 missões no espaço aéreo taiwanês em 2020, um recorde.