Economia

Estrangeiro não quer mais infraestrutura, diz Santander

Segundo superintendente executivo de project finance, isso deve comprometer o avanço do mercado de project finance nos próximos anos


	Construção: Santander participa atualmente de 60 projetos, que somam investimentos totais de R$ 300 bilhões nas áreas de transportes, energia, arenas, óleo e gás
 (REUTERS/Sergio Moraes)

Construção: Santander participa atualmente de 60 projetos, que somam investimentos totais de R$ 300 bilhões nas áreas de transportes, energia, arenas, óleo e gás (REUTERS/Sergio Moraes)

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Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2013 às 20h26.

São Paulo - O apetite de investidores estrangeiros por projetos de infraestrutura no Brasil está diminuindo e isso deve comprometer o avanço do mercado de project finance nos próximos anos, disse um executivo do Santander Brasil.

Os investidores temem percalços regulatórias no país e também a diminuição da liquidez internacional, o que reduziria o volume de recursos disponíveis para capital de risco disse à Reuters na segunda-feira o superintendente executivo de project finance do Santander, Mauro Albuquerque.

O Santander participa atualmente de 60 projetos, ante 30 a 40 nos anos anteriores, na modalidade de project finance. Esses projetos somam investimentos totais (incluindo capital de acionistas e financiamentos) de 300 bilhões de reais nas áreas de transportes, energia, arenas, óleo e gás.

Como são planos com maturação longa, os altos volumes atuais são sustentados por conversas que começaram há meses, disse Albuquerque, acrescentando que este mercado vem crescendo nos últimos 18 meses e deve atingir seu pico no final deste ano ou no início de 2014.

Contudo, o executivo acredita que este movimento não é sustentável, já que as novas conversas não acontecem no mesmo ritmo. Apesar de as empresas brasileiras continuarem interessadas, a menor entrada de recursos estrangeiros vai tirar o fôlego financeiro dos projetos.

"No mínimo, o mercado vai se estabilizar, ou pode ter uma redução dependendo do ímpeto do governo", disse o executivo. O project finance é uma modalidade de financiamento muito usada em projetos de infraestrutura.


No mais comum, o projeto pertence a uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), de forma que o balanço dos seus acionistas não é afetado. Sua viabilidade depende da capacidade do projeto de gerar caixa, e não na capacidade de endividamento dos investidores.

"Vemos poucos novos investidores estrangeiros entrando no país", afirmou Albuquerque à Reuters. Os mais cautelosos, segundo ele, são os operadores que atuam no setor de infraestrutura em outros países, e não os investidores puramente financeiros.

"São as grandes empresas que já têm ativos de energia ou operam concessões rodoviárias ou aeroportuárias no exterior, e por isso têm mais know-how e capital", disse. Esses investidores, chamados estratégicos, são os primeiros a entrar nos projetos, enquanto os financeiros entram apenas num segundo momento para completar a necessidade de recursos.

O governo brasileiro está contando com a iniciativa privada para dar andamento ao seu ambicioso Plano Nacional de Logística, que prevê investimentos superiores a 200 bilhões de reais nos próximos anos em portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.

Segundo Albuquerque, as alterações regulatórias nos setores de energia e logística têm afugentado os estrangeiros porque reduzem a previsibilidade dos projetos de longo prazo.

Para o executivo, a polêmica proposta do governo federal de renovação das concessões de energia elétrica no ano passado ainda assusta, além das mudanças em editais e em condições de financiamentos pelo BNDES.

A anulação do reajuste dos pedágios das rodovias paulistas neste ano, anunciada após a onda de protestos ocorrida em várias cidades brasileiras, engrossou a desconfiança desses investidores, avalia o executivo.

"Este sistema de tentativa e erro tira a previsibilidade dos projetos e o investidor não gosta desta volatilidade", disse. Para Albuquerque, o simples aumento nas taxas de retornos dos projetos é insuficiente para reverter esta percepção negativa.


"No curto prazo é difícil atrair este investidor, pois ele precisa de anos de percepção positiva para criar um círculo virtuoso", afirmou. "Isso não acontece da noite para o dia." Outro fator que pesa contra o Brasil é o fato de o país competir com mercados como Chile, México e Peru, que neste momento exibem maior vigor econômico e menos ruído regulatório.

Apesar do temor de instabilidade regulatória, o cenário econômico global também influencia na falta de apetite dos investidores estrangeiros, disse Albuquerque.

Segundo ele, os mercados de origem dos investidores também estão mais difíceis, o que compromete a captação de recursos das empresas e sua capacidade de investir.

"Mesmo se o ambiente de investimento no Brasil fosse mais amigável, seria difícil ver os estrangeiros entrando no país de forma agressiva", disse.

Os baixos investimentos são apontados por economistas como uma das explicações para o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu apenas 0,6 por cento no primeiro trimestre. No mesmo período, a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida do investimento, avançou 4,6 por cento, mas foi impulsionada pela fabricação de caminhões.

O governo tem reiterado que há grande interesse de investidores por projetos de infraestrutura, mesmo com o cenário de maior volatilidade no mercado financeiro.

O presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, disse na última sexta-feira que empresas asiáticas, europeias e norte-americanas procuraram o governo para tratar do projeto do trem-bala.

Grandes operadoras internacionais de aeroportos teriam mostrado grande interesse em participar dos leilões para concessão dos terminais de Confins (MG) e do Galeão (RJ), informou na sexta-feira o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, sem mencionar nomes.

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