Economia

Estados Unidos, China e sua queda de braço comercial de alto risco

Apesar da trégua entre os países, representantes dos dois países admitem dificuldade em chegar a um acordo

China-EUA: o governo americano espera que a China reduza o déficit comercial, abrindo mercado aos produtos americanos (Thomas Peter-Pool/Getty Images)

China-EUA: o governo americano espera que a China reduza o déficit comercial, abrindo mercado aos produtos americanos (Thomas Peter-Pool/Getty Images)

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AFP

Publicado em 28 de janeiro de 2019 às 12h26.

Negociadores americanos e chineses se reúnem nestas quarta e quinta-feiras, em Washington, para tentar traçar as linhas gerais de um acordo comercial, um mês depois do fim da trégua no confronto entre as duas principais economias do mundo.

Sinal das conversas no mais alto nível, o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, negociador comercial em chefe de Pequim, viajará para os Estados Unidos com uma delegação de cerca de 30 pessoas. Seu interlocutor será o representante americano do Comércio (USTR), Robert Lighthizer, que dirige as negociações pelos EUA.

No início de dezembro, o presidente Donald Trump e seu homólogo chinês, Xi Jinping, acertaram uma trégua temporária. Nela, Trump concordou em suspender até 1º de março o aumento de 10% para 25% das tarifas sobre 200 bilhões de dólares de importações chinesas anuais nos Estados Unidos, na tentativa de resolver as disputas comerciais que contaminam, há um ano, as relações entre os dois países, muito interdependentes.

O roteiro do governo Trump é conhecido: que a China aceite reformas estruturais, ou seja, que mude práticas comerciais consideradas injustas, como a transferência "forçada" de tecnologias e o "roubo" de propriedade intelectual.

Para Washington, Pequim também deve reduzir o colossal déficit comercial dos Estados Unidos (mais de 375 bilhões de dólares em bens em 2017), abrindo mais seu mercado aos produtos americanos e pondo fim aos subsídios de suas companhias.

"Made in China 2025"

As medidas protecionistas dos Estados Unidos estão afetando a economia chinesa, o que levou Trump a dizer que os EUA se encontram em uma posição forte nessas negociações, porque "a China realmente quer um acordo".

Já o secretário americano do Comércio, Wilbur Ross, deixou o otimismo do presidente recentemente de lado, avaliando que ambas as partes estão "a quilômetros de encontrar uma solução", apesar do importante trabalho preliminar já feito.

Embora os mercados financeiros sejam particularmente sensíveis a qualquer declaração sobre comércio, Ross pediu cautela quanto ao resultado dessas novas negociações, que podem não ser "a solução para todos os problemas entre Estados Unidos e China".

"As negociações da próxima semana serão fundamentais para determinar se os chineses estão dispostos a falar sobre problemas estruturais", o coração da disputa, observou o especialista em comércio internacional Edward Alden, do Council on Foreign Relations.

No início de janeiro, durante uma sessão de conversas em Pequim, a parte chinesa estava aberta ao problema de reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos. Não se observou, porém, nenhum avanço nos compromissos para mudar as práticas comerciais.

"Será muito difícil chegar a um acordo, se os chineses não abordarem os problemas estruturais" que agora são o objetivo do governo Trump, disse Alden.

As autoridades chinesas poderiam ser inflexíveis em certos pontos, como os subsídios às suas empresas públicas, núcleo duro da visão econômica de Xi Jinping.

Qualquer demanda americana que possa ser percebida como um obstáculo para o plano "Made in China 2025" será, sem dúvida, rejeitada, acrescentou Alden.

Lançado em 2015, este plano tem o objetivo de transformar o país em um líder tecnológico global, seja em robótica, telecomunicações, ou em veículos de energias renováveis.

"Made in China 2025 é uma estratégia necessária para que a China consiga um desenvolvimento sustentável", disse a economista Betty Wang, do grupo bancário ANZ, enfatizando que todos estão de acordo em que o crescimento chinês não pode mais se basear apenas em investimentos e fabricação de produtos baratos.

"A transformação da China em uma indústria altamente qualificada e serviços de valor agregado é essencial para seu crescimento interno", afirmou.

Os negociadores chineses podem confiar na boa vontade de seu governo. No final de dezembro, a imprensa oficial informou que o Parlamento chinês está considerando adotar uma nova lei sobre investimento estrangeiro que evitaria a transferência forçada de tecnologia. Algo para apaziguar a irritação dos americanos.

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