Entre avanços e resistências, reforma tributária chega em encruzilhada
Lideranças do setor de comércio e serviços fazem hoje evento contra PECs que já tramitam no Congresso, mas não se sabe posição do Executivo
Da Redação
Publicado em 17 de fevereiro de 2020 às 05h44.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2020 às 07h24.
A reforma tributária , considerada por muitos economistas a grande prioridade da agenda econômica após a aprovação da reforma da Previdência, terá mais um foco de resistência nesta segunda-feira, 17, ao mesmo tempo em que dá passos para avançar no Congresso.
Pela manhã, às 10h30, acontece no Clube Esperia em São Paulo o lançamento de um “movimento de entidades e lideranças contra o aumento de impostos, em qualquer setor econômico, pela simplificação tributária e pela desoneração da folha de pagamento”.
Estarão presentes organizações como o Instituto Millenium e vários sindicatos e associações, como a Associação Comercial de São Paulo, além de figuras como Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, e Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal que caiu em setembro passado após insistir na criação de uma nova CPMF.
O movimento é contra as Propostas de Emenda à Constituição (PEC) 45 e 110, que já tramitam no Congresso e propõem uma unificação de vários impostos, que acarretaria no aumento da alíquota do setor de serviços. O grupo que se reúne nesta segunda-feira defende que seja criado um novo imposto que substituiria aqueles que hoje incidem sobre a folha de pagamento.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstra simpatia por essa e outras ideias, como a dos “impostos do pecado” — uma possível taxação maior para produtos com alto teor de açúcar, por exemplo, para além dos tradicionais cigarro e bebidas. Esse tipo de tributação foi rechaçada publicamente por Bolsonaro, que também deu sua contribuição para a confusão ao sugerir recentemente que poderia zerar os impostos federais sobre combustíveis.
Mais de um ano de governo depois, não se conhece a proposta do Executivo. Na quarta-feira passada, Guedes disse que vai enviar ao Congresso uma proposta própria para a criação de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) dual nas próximas duas semanas.
Um acordo no Congresso definiu que a comissão mista da reforma tributária terá 25 deputados e 25 senadores. A ideia é que a comissão, ainda não formada, chegue a um texto único para ser votado pelas casas.
Em evento na última sexta-feira, Christopher Garman, diretor para as Américas da consultoria Eurasia, disse que está otimista com o avanço da reforma. O motivo é que pela primeira vez os estados estão apoiando, houve avanço nos mecanismos de compensação de receita e lideranças parlamentares têm tomado a questão para si. Ele reconheceu o lobby do setor de serviços, mas notou que com o fim do financiamento privado de campanha, o potencial de pressão sobre o Congresso pode ter caído.
“Imagina se ela for aprovada num ano de eleições municipais, com um governo sem coalizão e que mantém um relacionamento péssimo com o Legislativo? Isso significa que algo está acontecendo”, disse Garman.