Economia

Empresas de 1ª linha preferem empréstimos sindicalizados

Para um seleto grupo de empresas do Brasil, ainda é possível encontrar crédito abundante com taxas de juros relativamente baixas


	Dinheiro: tomadores de empréstimos com o menor risco de crédito do país estão recorrendo aos empréstimos sindicalizados
 (Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas)

Dinheiro: tomadores de empréstimos com o menor risco de crédito do país estão recorrendo aos empréstimos sindicalizados (Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas)

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Da Redação

Publicado em 29 de outubro de 2015 às 18h09.

Para um seleto grupo de empresas do Brasil, ainda é possível encontrar crédito abundante com taxas de juros relativamente baixas.

Os tomadores de empréstimos com o menor risco de crédito do país estão recorrendo aos empréstimos sindicalizados em um momento em que um recorde nos calotes corporativos e a crise global dos mercados emergentes sufocam a demanda por eurobônus emitidos no exterior.

As vendas de eurobônus caíram 82 por cento neste ano, para US$ 7,79 bilhões, ao passo que os empréstimos sindicalizados caíram menos, 23 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Até esta altura do ano, os empréstimos sindicalizados somam US$ 9,3 bilhões e há pelo menos mais US$ 1 bilhão a caminho, superando as vendas de eurobônus estrangeiros pela primeira vez desde 2008.

Para um punhado de empresas -- que poderiam ser consideradas a elite dos empréstimos do Brasil --, os spreads dos empréstimos permaneceram estáveis e em alguns casos diminuíram, mesmo após a classificação soberana do Brasil sofrer quatro rebaixamentos desde 2014, incluindo um corte para o grau especulativo realizado pela Standard Poor’s no mês passado.

A siderúrgica Gerdau SA, a mineradora Vale SA e a Fibria Celulose SA fazem parte desse clube exclusivo.

Embora essas empresas tenham sofrido um impacto durante a queda das commodities, elas têm duas coisas a seu favor: estão entre as poucas com grau de investimento do Brasil e, como grandes exportadoras, têm uma exposição menor à crise doméstica que está puxando seus pares para baixo.

“Existe um excesso de liquidez para as empresas com melhor classificação de risco de crédito no mercado de empréstimos sindicalizados para Brasil”, disse Ernesto Meyer, chefe da área de empréstimos sindicalizados para a América Latina do BNP Paribas, o primeiro colocado no ranking de coordenador líder pelo segundo ano consecutivo. “Os spreads não estão subindo para elas”.

A Gerdau é a mais recente grande tomadora de empréstimos a tirar vantagem das taxas baixas em um empréstimo que está em suas fases finais. A maior siderúrgica da América Latina está fechando US$ 1 bilhão em financiamento com um grupo de 13 instituições financeiras liderado pelo Banco Santander Brasil SA, segundo uma fonte informada sobre o assunto que pediu anonimato para discutir os termos.

A Gerdau está pagando 155 pontos-base sobre a taxa interbancária de Londres, conhecida como Libor, ou 2,38 por cento ao ano, pelo empréstimo de três anos que poderá ser estendido por mais dois anos.

Em 2013, a empresa com sede em Porto Alegre, no Brasil, recebeu um empréstimo rotativo de três anos de US$ 1 bilhão com um spread de 175 pontos-base. Enquanto isso, o rendimento de seus US$ 1,2 bilhão em eurobônus com vencimento em 2020 subiu para 7,14 por cento na quarta-feira, contra 4,5 por cento seis meses atrás.

‘Fuga para a qualidade’

A Fibria obteve um empréstimo pagando um spread de 155 pontos-base sobre a Libor em agosto pela fatia com prazo de seis anos, menos que o spread de 180 pontos-base que pagou por um empréstimo de oito anos de US$ 300 milhões em 2011, segundo dados compilados pela Bloomberg. Seus US$ 600 milhões em eurobônus com vencimento em 2024 têm um rendimento de 5,49 por cento.

Em maio, a Vale captou US$ 3 bilhões com um empréstimo sindicalizado, o maior do ano.

O excesso de crédito para os tomadores de empréstimos de menor risco é o resultado de uma “fuga para a qualidade” depois que pelo menos 20 grandes empresas deram calote ou tentaram reestruturar seus empréstimos sindicalizados neste ano em setores como agricultura, exploração de petróleo offshore, mineração e construção, disse Samuel Canineu, chefe de empréstimos sindicalizados para a América Latina do ING Groep NV.

O número de corporações pedindo recuperação judicial no Brasil subiu em setembro a um nível recorde pelo terceiro mês seguido, para 147 casos, quase o triplo do número de um ano atrás, segundo a Serasa Experian, que monitora os dados.

Em uma pesquisa do Banco Central divulgada na segunda-feira, os economistas projetaram que o produto interno bruto sofrerá uma contração de 3,02 por cento neste ano e de 1,43 por cento no ano que vem, o que representaria a recessão mais longa desde a Grande Depressão.

O abrangente escândalo de corrupção na gigante petrolífera estatal Petrobras, que está piorando a recessão, também provoca calotes entre os fornecedores.

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