Economia

Empresa ou escola?

Na sociedade do conhecimento, as instituições de ensino não tradicionais terão uma importância crescente na formação das pessoas. Entre elas, é possível que nenhuma precise enfrentar o papel de escola tanto quanto as empresas. É nelas que passamos boa parte da vida. São elas as grandes interessadas em desenvolver o capital humano para garantir a […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h51.

Na sociedade do conhecimento, as instituições de ensino não tradicionais terão uma importância crescente na formação das pessoas. Entre elas, é possível que nenhuma precise enfrentar o papel de escola tanto quanto as empresas. É nelas que passamos boa parte da vida. São elas as grandes interessadas em desenvolver o capital humano para garantir a própria competitividade. "A maior parte do aprendizado gerencial já ocorre no emprego", afirmou Clayton Christensen, professor da Harvard Business School, num artigo recente.

A americana Jeanne Meister, uma das maiores autoridades mundiais em educação corporativa, estima que em poucos anos cada uma das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune tenha seu próprio centro de educação. Hoje 40% delas têm um. No ano passado, a IBM gastou mais de 500 milhões de dólares em treinamento e anunciou que começaria a vender programas de educação gerencial para outras companhias. Como a da IBM, existem mais de 2 000 universidades corporativas nos Estados Unidos com a missão de garantir o aprendizado contínuo de funcionários, clientes e fornecedores. No Brasil, estima-se que pelo menos 30 tenham sido criadas de 1999 para cá, em empresas como Orbital, Embratel e Carrefour.

Da criação de estruturas internas ao patrocínio de funcionários em escolas externas, as empresas encontram as mais diversas formas de tratar a educação. A Telemar investiu 30 milhões de reais nos últimos três anos na criação de cursos, parcerias e infra-estrutura de treinamento. A Petrobras mantém convênio com mais de 20 universidades e fundações e, neste ano, precisará complementar a formação de 1 300 funcionários recém-chegados que já têm diploma de nível superior. Uma divisão do Hospital das Clínicas de São Paulo encomendou à Anhembi Morumbi um curso seqüencial de gestão empresarial de serviços da saúde para seus profissionais da área administrativa. "As empresas adotaram o discurso da educação e passaram a consumir os mais diversos tipos de produto", afirma o consultor paulista Eduardo Najjar, professor da ESPM e da Fundação Dom Cabral e mestre em educação pelo Instituto Mackenzie. "Acontece que muitas estão perdidas na aplicação de tudo isso. Falta reconhecer a função escola nos moldes do que fizeram a GE e a IBM no passado."

A demanda das corporações por funcionários que aprendam o tempo todo abre oportunidades para fornecedores -- de escolas tradicionais a consultorias de educação corporativa ou empresas pequenas e médias especializadas na aplicação de cursos específicos. Christensen afirma que as próprias escolas de negócios precisarão se mexer para enfrentar a fragmentação na indústria da educação executiva. No Brasil, poucas empresas ilustram tão bem esse universo de possibilidades quanto a HSM. Ela foi criada em São Paulo em 1987 e hoje é controlada por empresários argentinos e um grupo de investidores de risco -- os bancos JP Morgan, Credit Suisse e Dresdner e o grupo de comunicação argentino La Nación. A HSM se transformou numa das principais referências mundiais no mercado de seminários, inclusive entre os próprios gurus. Em novembro passado, atraiu mais de 20 000 pessoas e 180 expositores para a Expomanagement, em São Paulo, um congresso com palestras de estrelas como os americanos Lester Thurow e Michael Porter.

As palestras são um dos negócios da HSM, que faturou 12 milhões de dólares no Brasil em 2001. A empresa também usa suas relações com palestrantes, editoras e escolas para selecionar assuntos de interesse dos homens de negócios e levá-los até eles de outras formas. "Não somos geradores de conhecimento, mas disseminadores de conceitos", diz Carlos Alberto Júlio, presidente da HSM no Brasil e professor no MBA do ITA/ ESPM. "Suponha que um alto executivo não tenha tempo de ler um artigo de 20 páginas produzido em Harvard. O que nós fazemos? Adaptamos, aprovamos com o autor e damos o pulo-do-gato para o cliente." A HSM edita uma revista especializada em administração e um site com cursos interativos de instituições renomadas e de nomes consagrados no circuito acadêmico e empresarial, como C.K. Prahalad e Peter Senge, vendidos para pessoas físicas e empresas.

As grandes fornecedoras da indústria da educação executiva até aqui foram as escolas de negócios. Nos Estados Unidos, elas foram responsáveis por cerca de 90 000 diplomas de MBA na última década. Universidades americanas como Michigan e Pittsburgh se internacionalizam e estão presentes hoje em países como o Brasil. Heitor Penteado Peixoto, diretor de admissões da Business School São Paulo, estima que existiam pelo menos 7 000 vagas disponíveis em programas de pós-graduação em negócios no país no início de 2001 -- a maioria em especializações que recebem o nome de MBA não pelo currículo generalista, mas por seu incrível apelo de marketing. "O público-alvo é enorme: de 24 a 60 anos", afirma Peixoto. Essas vagas movimentariam mais de 110 milhões de reais. "É um mercado que ainda não vive sua plenitude e passa por um momento de expansão e capilarização", diz Ricardo Leal, diretor executivo do Coppead, o programa de pós-graduação em administração da UFRJ.

A capilarização mencionada por Leal começa a criar oportunidades fora do eixo Rio-São Paulo. A Fundação Getulio Vargas -- que faturou 220 milhões de reais no ano passado -- já está presente em quase 50 cidades. A escola campeã no último guia Os Melhores MBAs do Brasil, da revista Você s.a., foi a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. No ano passado, 6 200 executivos, de 600 empresas, freqüentaram seus cursos. A Dom Cabral, que espera faturar 40 milhões de reais em 2002, inaugurou um campus em Belo Horizonte que contará com um hotel para receber alunos de fora, nos moldes das universidades americanas.

Em Salvador, um grupo de cinco empreendedores -- entre eles Nadja Viana, ex-reitora da Universidade Federal da Bahia -- criou, em 1999, uma escola de negócios com foco em empreendedorismo. Na Faculdade de Tecnologia Empresarial (FTE), nome dado à escola baiana, há 900 alunos matriculados em programas de graduação e especialização. Para os alunos dos cursos de especialização, a FTE oferece a possibilidade de concluir os estudos na Universidade da Califórnia. A escola, que também presta consultoria para empresas, está de olho no filão da educação executiva -- uma de suas primeiras incursões nesse campo foi um curso de formação de gerentes empreendedores para a Pizza Hut. "Queremos crescer ajudando também as universidades corporativas", diz André Passos, um dos sócios da FTE.

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