Economia

Eleição não é tudo

A esquerda precisa fazer mais que chegar ao poder

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h44.

A direita autoritária e corrupta. A esquerda populista e ignorante em matéria econômica. O resultado é sofrível durante décadas. Esse era o dilema enfrentado pela economia brasileira até algum tempo atrás, prisioneira de uma sucessão de más administrações. A superação gradual dessa fórmula de condenação à mediocridade começou com a dissolução do autoritarismo nos anos 80, com o apoio do PFL, e prosseguiu com o aprendizado de economia pelos socialdemocratas do PSDB nos anos 90.

Do impeachment de Collor à implosão da candidatura de Roseana Sarney, no entanto, o espectro da corrupção à direita diminui a possibilidade de implementar de uma economia de mercado moderna no país. O resultado está na atual corrida sucessória, reduzida às alternativas de "esquerda". Mas isso não significa vitória dessa corrente. À esquerda persiste o desafio de compreender melhor o funcionamento da formidável engrenagem de criação e distribuição de riquezas que são as economias de mercado. Do contrário, ela pode levar agora, mas perder o que conquistou nas eleições seguintes.

O sinal de alerta vem das urnas em Portugal, Espanha, Áustria, Itália, Dinamarca, Holanda, França e possivelmente Alemanha, que deixaram claro o apoio às economias de mercado. O fato de os socialistas estarem sendo varridos em eleições recentes no Velho Continente justifica a reflexão sobre o futuro da esquerda no Brasil.

Ao longo dos últimos 20 anos, enquanto a economia dos Estados Unidos criou mais de 1 milhão de novos empregos anuais, absorvendo número equivalente de imigrantes, a Europa simplesmente não gerou novos empregos. A marca das administrações socialdemocratas foi a perda de competitividade, a fraqueza das moedas diante do dólar, a rigidez nos mercados de trabalho e a ausência de reformas substantivas nos sistemas tributário e previdenciário que caracterizavam seu Estado do bem-estar. Assim, quando obtinha emprego, o imigrante na Alemanha ou na França deslocava um trabalhador alemão ou francês de seu posto. Quando não, restava o caminho da marginalidade. O desemprego, a criminalidade e o nacionalismo alimentaram os votos da direita ignorante, enquanto o diagnóstico de euroesclerose e estagnação relativa em uma economia globalizada reforçou a direita esclarecida.

No Brasil, a dança das cadeiras sucessória está reduzida ao campo "socialista": José Serra, o "preparado" socialdemocrata, Ciro Gomes, o socialdemocrata "reformista", Anthony Garotinho, o "populista", e Lula, o "herói popular". Neste momento, é apropriada a advertência de que o vencedor herdará colossal endividamento produzido pela procrastinação das reformas modernizantes, um legado do "esclarecido" socialdemocrata FHC.

É comovente o clamor do ministro Pedro Malan pelo compromisso dos candidatos com a estabilidade da moeda (metas inflacionárias com flexibilidade cambial). Parece óbvia a necessidade do escudo institucional para a moeda do país. Mas como responder à pergunta de Lula após oito anos de mandato: "Se o Banco Central independente é tão bom, por que não o adotaram?"

Não só o atual governo tem culpa no cartório. O que dizer do PT, que desaprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, ou as tímidas tentativas de flexibilização da legislação trabalhista e de reforma do sistema previdenciário? Fato é que, sem uma dinâmica interna de crescimento, é como se os socialdemocratas tivessem espalhado o álcool (endividamento excessivo) e condenado à tragédia quaisquer "socialistas" que riscarem o fósforo. Todos eles podem ser varridos em eleições vindouras, como ocorre agora na Europa.

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