Economia

Potencial de estrago econômico do coronavírus supera o de surtos passados

Segundo estudo da Bain & Company disponibilizado com exclusividade a EXAME, o coronavírus pode custar mais de US$ 70 bilhões à China

Quarentena da China: notas de 100 yuans com máscara médica (Anton Petrus/Getty Images)

Quarentena da China: notas de 100 yuans com máscara médica (Anton Petrus/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 16 de fevereiro de 2020 às 09h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2020 às 15h37.

São Paulo — Apesar de o coronavírus ser menos mortal do que doenças similares identificadas no passado, seu potencial de estrago econômico é muito pior.

Segundo estudo da Bain & Company disponibilizado com exclusividade a EXAME, o custo do novo vírus pode ultrapassar US$ 70 bilhões (500 bilhões de yuans) para a China, o que indica uma redução de até 0,5% do PIB, superior à de todos os surtos anteriores.

A Bain também ressalta a expectativa de queda, pelo menos no curto prazo, nas exportações com efeito cascata global. "As empresas multinacionais precisarão compensar as lacunas nas compras e manufatura da China e até de fornecedores externos à China que dependem de seus produtos", diz.

O Banco da China Internacional estima que o impacto a curto prazo nas exportações custará US$ 30 bilhões, destaca o estudo.

O atual surto já matou mais de 1.700 pessoas (grande parte na China), segundo último relatório da OMS, divulgado na segunda-feira (17) e contaminou ao menos 70 mil em 24 países.

É constantemente comparado com o da Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave), também causada por um coronavírus, e que foi encarada como a primeira doença transmissível grave do século XXI, tendo infectado 8 mil pessoas de 12 países e matado 800 no começo dos anos 2000.

A taxa de mortalidade da Sars era de 6,6%, mais que o dobro dos 3% remetidos ao 2019-nCov, nome oficial do novo coronavírus.

Seu impacto na economia chinesa, porém, se limitou ao segundo trimestre de 2003.No período, a taxa de crescimento do PIB caiu 2 pontos percentuais, mas depois se recuperou durante o restante do ano. Mesmo assim, reduziu o PIB da China em quase 1% ou aproximadamente 100 bilhões de yuans.

A questão é que hoje a economia da China é sete vezes maior do que na época, e sua participação no PIB global pulou de 4% para 16%.

Na época da Sars, o setor de serviços foi o que mais sofreu. A indústria de construção também foi muito atingida, enquanto as indústrias mais voltadas à agricultura tiveram impacto menor. Alguns dos mais afetados se recuperaram rapidamente, enquanto outros como educação e turismo demoraram mais.

Os mercados de capitais também demoraram para voltar à normalidade: as ações Hong Kong caíram 8% a 10% durante os nove meses de surto de Sars, e o índice do mercado de Hong Kong continuou em queda até o final de 2003.

Pontos animadores

As previsões mostram um impacto econômico grave das duas epidemias, impulsionado pelas ações de contenção em todo o país. Desta vez, porém, a Bain diz que o governo chinês agiu com mais rapidez e com medidas muito mais rigorosas, como uma quarentena generalizada, feriados nacionais prolongados, restrições às viagens em cerca de 20 províncias e controles locais de transporte.

Esse cenário pode ajudar autoridades a encontrar uma forma mais rápida de bloquear a disseminação da doença, já que ainda não há vacina e o vírus parece estar em constante mutação.

Apesar de ainda não estar controlado o surto, o número de contaminações registradas diariamente na China “está se estabilizando”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Outras diferenças entre o mundo hoje e há 20 anos podem ajudar a mitigar os danos econômicos. A China de hoje é uma potência na Internet e no comércio eletrônico, explica a consultoria.

"Redes robustas de entrega offline para online podem ajudar a aumentar o consumo, mesmo com milhões de chineses em quarentena ou em feriados prolongados. Muitas dessas pessoas também podem continuar trabalhando remotamente, pelo menos compensando parcialmente as perdas de produtividade", diz.

Histórico

O primeiro alerta sobre o 2019-nCovfoi foi recebido pela OMS em 31 de dezembro de 2019. Um mês depois, a organização decretou emergência de saúde pública no mundo todo, em 30 de janeiro.

Acredita-se que a pneumonia atípica seja causada por um novo tipo de coronavírus transmitido por animais para humanos na província chinesa de Guangdong.

No caso da Sars, o primeiro caso apareceu em novembro de 2002, também em Guangdon, mas só foi identificado três meses depois, em 11 de fevereiro de 2003. Naquele momento, já havia cinco mortes confirmadas pela China e 300 contaminações. Somente em 12 de março veio o alerta mundial da OMS.

O surto conseguiu ser controlado no mundo quatro meses depois, conforme comunicado da organização de 5 de julho.

Abaixo, é possível ver como foi longo o processo de combate à epidemia de Sars. As informações da linha do tempo foram compiladas em 2004 por um trabalho da Universidade portuguesa de Évora, intitulado “A primeira doença grave transmissível do séc. XXI“.

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