Economista de Alckmin, Persio Arida vê teto de gasto por mais 3 anos
Para ele, "não faz sentido" emenda do governo que limita crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior, por um prazo de até 20 anos
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de julho de 2018 às 21h49.
Última atualização em 6 de julho de 2018 às 21h11.
São Paulo - Coordenador do programa econômico do pré-candidato à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB), o economista Persio Arida criticou nesta segunda-feira, 2, o chamado teto dos gastos, uma emenda à Constituição que foi aprovada no início do governo Michel Temer, em 2016, e consiste em limitar o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior, por um prazo de 10 anos, prorrogáveis por mais 10.
"Uma medida como essa para 20 anos não faz sentido, você não pode engessar os gastos, porque a economia é dinâmica", disse o economista, em evento promovido pelo deputado federal Floriano Pesaro (PSDB-SP), que tentou ser escolhido pré-candidato do PSDB ao governo do Estado, mas perdeu prévias para o ex-prefeito de São Paulo João Doria. Pesaro é candidato a mais um mandato na Câmara.
Apesar da crítica ao teto dos gastos, Arida considera que, dado o desequilíbrio fiscal no qual o País se encontra, a medida é útil "no momento, por dois ou três anos". "Sem o teto, o Congresso vai inventar gastos o tempo todo. Mais pra frente, podemos até rever, mas no momento ele é útil", afirmou o economista, que foi presidente do Banco Central (BC) no governo de Fernando Henrique Cardoso e fez parte da equipe que elaborou o Plano Real.
O teto dos gastos é frequentemente apontado pelo presidente Michel Temer como uma das medidas do seu governo para "modernizar" o País e uma das provas de que seu governo é "reformista" e comprometido com o ajuste fiscal. A bancada do PSDB votou integralmente a favor da emenda à Constituição. Neste ano, Alckmin chegou a criticar a medida, por esmagar o investimento e o custeio, mas negou a possibilidade de revogá-la caso seja eleito presidente.
Arida tem dito em suas palestras que, para o Brasil voltar a crescer a um ritmo de 4% ou 5%, é necessário equilibrar as contas públicas. "Quando a parte fiscal está desequilibrada, todo o resto sai do equilíbrio", disse. Para ele, o pior não é ter déficit, mas sim ter uma dívida alta.
"Está tudo bem se você não deve nada e fica pendurado no banco. O problema é se antes você já devia muito", acrescentou. O objetivo de Alckmin, segundo ele, é zerar em dois anos o atual déficit de 2,5% do PIB e transformá-lo em superávit de 2% no fim do quarto ano de mandato.
No evento de hoje, que contou basicamente com lideranças da sociedade ligadas a Pesaro, não necessariamente vinculados ao PSDB, Arida foi mais tímido ao se referir a outros candidatos. Em eventos anteriores, principalmente aqueles com plateia do mercado financeiro, ele dedicou boa parte dos seus discursos para criticar o deputado federal Jair Bolsonaro, pré-candidato a presidente pelo PSL e um dos principais adversários de Alckmin na disputa por votos de eleitores que rejeitam o PT.
Dessa vez, Arida voltou a ressaltar que Bolsonaro tem um histórico de votações na Câmara alinhadas com as bancadas de esquerda, o que seria contraditório com a tentativa do deputado de se mostrar como um candidato liberal, principalmente depois que passou a ser assessorado pelo economista Paulo Guedes. Disse também que é necessário ter experiência para fazer ajuste fiscal e formar alianças no Congresso, credenciais que, segundo economista, somente Alckmin tem.