Economia

Economia não depende só da Previdência, diz FHC

Ex-presidente afirmou que será necessário muito mais do que aprovar a reforma da Previdência para ajustar a economia do país

Fernando Henrique Cardoso: "houve a invenção de que ou se faz a Previdência ou o Brasil acabou" (Facebook/FHC/Reprodução)

Fernando Henrique Cardoso: "houve a invenção de que ou se faz a Previdência ou o Brasil acabou" (Facebook/FHC/Reprodução)

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Reuters

Publicado em 5 de maio de 2017 às 14h20.

São Paulo - A reforma da Previdência é importante, mas sozinha não tem força suficiente para garantir a retomada do crescimento econômico de forma sustentada, que virá também com mais atuação de parceiras público-privadas, afirmou à Reuters o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

E esse passo, acrescentou, dependerá de uma certa "continuidade" do que está sendo feito hoje, referindo-se ao próximo governo que sairá das urnas em 2018.

"Houve a invenção de que ou se faz a Previdência ou o Brasil acabou", afirmou Fernando Henrique, que comandou o Brasil de 1995 a 2002 e é um dos fundadores do PSDB.

A reforma da Previdência, que está sendo analisada pelo Congresso Nacional, tem sido apontada pelo governo Michel Temer e por boa parte dos agentes econômicos como essencial para colocar as contas públicas em ordem e fazer a economia voltar a crescer depois de dois anos de recessão.

O ex-presidente defendeu que a reforma é importante para melhorar o lado fiscal do país e a "confiabilidade" dos investidores junto ao Brasil, e acrescentou que o governo Temer o tem surpreendido positivamente por conseguir colocar temas importantes na pauta. Mas logo emendou que é preciso mais, como parcerias com o setor privado, e investimentos em infraestrutura.

"Eu creio que o governo atual sabe disso", afirmou. "(Mas) é óbvio que um governo que tem essa origem (após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, sem voto popular), não tem força suficiente para fazer tudo que é necessário. Vamos precisar de uma eleição. Espero que seja possível até o ano que vem organizar as forças políticas."

A retomada, pontuou o ex-presidente, também depende "de fatores que são controláveis e não controláveis", e ressaltou que a economia mundial vive um ciclo de expansão, o que ajuda o Brasil a se recuperar. Também defendeu que estão vindo sinais positivos no agronegócio.

"A safra deste ano vai ser de 220 milhões de toneladas. Quando eu era presidente, nós comemoramos quando chegamos a 100 milhões de toneladas", afirmou.

O ex-presidente também enxerga uma via de crescimento econômico por meio dos investimentos em infraestrutura, mas isso só deve se confirmar se os investidores confiarem na economia brasileira.

Agenda de reformas

Fernando Henrique, que também foi ministro da Fazenda durante o governo de Itamar Franco e ajudou a implementar o plano Real, disse que o governo Temer tem falhado na comunicação sobre as reformas. No caso da Previdência, acredita que a equipe econômica deveria ter encampado as mudanças como forma de reduzir privilégios, e não para melhorar o equilíbrio fiscal.

"As pessoas estão convencidas de que a reforma da Previdência é contra os trabalhadores", afirmou. "Quando você dá como motivação o equilíbrio fiscal, a comunicação está errada."

O tucano também elogiou a reforma trabalhista, sobretudo com o fim do imposto sindical, "uma medida tomada inspirada no governo fascista da Itália".

"O governo Temer mexeu em pontos difíceis que não dão popularidade, mas que levam o país a se aparelhar melhor para o mundo contemporâneo", afirmou.

Questionado ainda se sua própria história poderia se repetir agora, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tornando-se presidente da República, avaliou ser muito difícil. Argumentou que, quando era ministro, a população sentiu "na hora" o bônus da estabilização da moeda.

"Agora, se tem caminho de sacrifício e não é um caminho de bonança", afirmou. "É difícil quem exerce o cargo de ministro da Fazenda se transformar em um candidato popular."

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