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Economia dá sinais de lenta recuperação, mas com riscos

A economia brasileira começa a dar sinais de ter passado pelo pior momento da mais profunda recessão em décadas, mas ainda está longe de algo sólido

Michel Temer: expectativas do mercado para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 melhoraram na semana passada (Ascom/VPR/Flickr)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2016 às 22h23.

Brasília - A economia brasileira começa a dar sinais de ter passado pelo pior momento da mais profunda recessão em décadas, num momento em que o vice-presidente Michel Temer se prepara para assumir o poder com uma agenda pró-mercado e um amplo apoio para acabar com uma crise política que paralisa o governo há meses.

As expectativas do mercado para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 melhoraram na semana passada pela primeira vez em mais de um ano, em meio ao otimismo de que Temer foque menos em subsídios e priorize reformas para restaurar a confiança dos agentes econômicos no país.

Mas o Brasil ainda está muito longe de uma recuperação sólida, e o desemprego continua crescendo com força a cada mês. Ainda assim, há sinais de que a recessão começa a se estabilizar de fato, indicando que a recuperação pode estar a caminho, ainda que com muitas fragilidades.

Com a queda de 7 por cento do PIB desde o começo de 2014, muitas empresas reduziram os estoques, ficando melhor posicionadas para voltar a crescer. Os custos trabalhistas reduziram com o aumento do desemprego, facilitando a queda da inflação. A taxa de câmbio está mais desvalorizada, reduzindo a competição estrangeira e dando esperança à indústria.

A confiança continua muito baixa, perto de mínimas recordes. Mas agora ela parou de cair entre consumidores e empresários.

"O (iminente) governo de Michel Temer tem uma oportunidade de ouro para promover uma recuperação da economia", disse o economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho. Ele melhorou sua projeção de crescimento do PIB em 2017, de zero para alta de 2,0 por cento.

O PIB do Brasil deve encolher cerca de 4 por cento em 2016 pelo segundo ano consecutivo, no que seria a pior recessão em mais de um século para o país. A crise ocorreu após uma década de prosperidade que tirou quase 30 milhões de pessoas da pobreza, segundo dados do Banco Mundial.

Em fevereiro, pesquisa da Reuters mostrou que o PIB brasileiro somente deverá recuperar o tamanho que tinha antes da crise a partir de 2019.

Temer (PMDB) pretende colocar em pauta rapidamente uma agenda pró-mercado assim que, provavelmente, a presidente Dilma Rousseff for afastada pelo Senado na quarta-feira. O novo governo deve propor mudanças na Previdência e no sistema tributário, além de buscar a privatização de estatais, segundo um assessor de Temer.

"Temer não vai ter medo de lidar com problemas estruturais", disse o assessor, que pediu para não ser identificado.

A expectativa de que Temer terá sucesso é central nas projeções de Carvalho, do BNP Paribas. Ele também espera sequência expressiva de cortes nos juros básicos pelo Banco Central, que poderia levar a Selic a menos de 10 por cento em comparação com os atuais 14,25 por cento .

A maioria de seus colegas é menos otimista, já que muitas das propostas de Temer deverão ser impopulares e precisarão do apoio de um Congresso fragmentado. A mediana das expectativas de crescimento do PIB em 2017 na pesquisa Focus do BC é de 0,5 por cento, pouco acima dos 0,3 por cento de um mês atrás.

DESAFIOS ENORMES

O rebaixamento da nota de classificação de risco do Brasil pela agência Fitch na semana passada serviu como lembrete das dificuldades diante de Temer, sobretudo no campo fiscal, onde grandes déficits primários surgiram a partir de 2014.

"Os desafios continuam enormes, independentemente de quem esteja no poder", disse o vice-presidente financeiro da Cetip SA Mercados Organizados, Willy Jordan.

O maior problema, ainda longe de solução, é o orçamento. Temer corre o risco de paralisação do governo em questão de semanas se não alterar a meta de superávit primário de 2016 para permitir um déficit enorme, previsto em 1,6 por cento antes do pagamento de juros da dívida.

As alternativas para tapar o déficit --reduzir os gastos ou aumentar impostos-- afetam a demanda na economia num primeiro momento e poderiam limitar o crescimento do PIB, apesar dos efeitos potencialmente positivos no longo prazo.

O futuro ministro da Fazenda de Temer, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles, tem afirmado que é primordial reequilibrar o orçamento, mas que a recuperação será lenta.

O desemprego também deve continuar subindo. Com os consumidores perdendo seus empregos e com muitas empresas passando por processos de reestruturação, os bancos estão se preparando para mais inadimplência nos próximos meses. O aumento dos calotes deve limitar o consumo e o crescimento do crédito mesmo com cortes dos juros pelo BC.

Durante conversas com investidores para discutir os resultados do primeiro trimestre, bancos como Itaú Unibanco, Banco Bradesco e Banco Santander Brasil afirmaram que devem continuar sentindo o impacto da recessão neste e no próximo ano.

Também existe o risco de piora no mercado internacional, que poderia atrapalhar os planos do BC de reduzir a Selic. A melhora nos mercados emergentes no começo do ano pode se reverter caso o Federal Reserve suba os juros dos Estados Unidos neste ano, segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

"Na ponta do lápis vejo mais contras que prós até o final do ano. Uma hora o mercado vai perceber isso," disse Perfeito.

Um último risco, mas também importante, tem relação com as investigações contra corrupção em setores importantes da economia, como construção e petróleo. Grandes empresas envolvidas na Operação Lava Jato ainda estão proibidas de fazer negócios com a Petrobras, por exemplo.

Com tantos problemas, o crescimento potencial do PIB brasileiro diminuiu muito e agora está em cerca de 1,5 por cento ao ano, muito baixo para um país de renda média como o Brasil, calcula o economista do banco Nomura, João Pedro Ribeiro. Ou seja, o pior pode até ter passado, mas não deve haver uma lua de mel para Temer. "Uma recuperação rápida está longe de poder ser tomada como um dado," disse Ribeiro.

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Brasília - A economia brasileira começa a dar sinais de ter passado pelo pior momento da mais profunda recessão em décadas, num momento em que o vice-presidente Michel Temer se prepara para assumir o poder com uma agenda pró-mercado e um amplo apoio para acabar com uma crise política que paralisa o governo há meses.

As expectativas do mercado para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 melhoraram na semana passada pela primeira vez em mais de um ano, em meio ao otimismo de que Temer foque menos em subsídios e priorize reformas para restaurar a confiança dos agentes econômicos no país.

Mas o Brasil ainda está muito longe de uma recuperação sólida, e o desemprego continua crescendo com força a cada mês. Ainda assim, há sinais de que a recessão começa a se estabilizar de fato, indicando que a recuperação pode estar a caminho, ainda que com muitas fragilidades.

Com a queda de 7 por cento do PIB desde o começo de 2014, muitas empresas reduziram os estoques, ficando melhor posicionadas para voltar a crescer. Os custos trabalhistas reduziram com o aumento do desemprego, facilitando a queda da inflação. A taxa de câmbio está mais desvalorizada, reduzindo a competição estrangeira e dando esperança à indústria.

A confiança continua muito baixa, perto de mínimas recordes. Mas agora ela parou de cair entre consumidores e empresários.

"O (iminente) governo de Michel Temer tem uma oportunidade de ouro para promover uma recuperação da economia", disse o economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho. Ele melhorou sua projeção de crescimento do PIB em 2017, de zero para alta de 2,0 por cento.

O PIB do Brasil deve encolher cerca de 4 por cento em 2016 pelo segundo ano consecutivo, no que seria a pior recessão em mais de um século para o país. A crise ocorreu após uma década de prosperidade que tirou quase 30 milhões de pessoas da pobreza, segundo dados do Banco Mundial.

Em fevereiro, pesquisa da Reuters mostrou que o PIB brasileiro somente deverá recuperar o tamanho que tinha antes da crise a partir de 2019.

Temer (PMDB) pretende colocar em pauta rapidamente uma agenda pró-mercado assim que, provavelmente, a presidente Dilma Rousseff for afastada pelo Senado na quarta-feira. O novo governo deve propor mudanças na Previdência e no sistema tributário, além de buscar a privatização de estatais, segundo um assessor de Temer.

"Temer não vai ter medo de lidar com problemas estruturais", disse o assessor, que pediu para não ser identificado.

A expectativa de que Temer terá sucesso é central nas projeções de Carvalho, do BNP Paribas. Ele também espera sequência expressiva de cortes nos juros básicos pelo Banco Central, que poderia levar a Selic a menos de 10 por cento em comparação com os atuais 14,25 por cento .

A maioria de seus colegas é menos otimista, já que muitas das propostas de Temer deverão ser impopulares e precisarão do apoio de um Congresso fragmentado. A mediana das expectativas de crescimento do PIB em 2017 na pesquisa Focus do BC é de 0,5 por cento, pouco acima dos 0,3 por cento de um mês atrás.

DESAFIOS ENORMES

O rebaixamento da nota de classificação de risco do Brasil pela agência Fitch na semana passada serviu como lembrete das dificuldades diante de Temer, sobretudo no campo fiscal, onde grandes déficits primários surgiram a partir de 2014.

"Os desafios continuam enormes, independentemente de quem esteja no poder", disse o vice-presidente financeiro da Cetip SA Mercados Organizados, Willy Jordan.

O maior problema, ainda longe de solução, é o orçamento. Temer corre o risco de paralisação do governo em questão de semanas se não alterar a meta de superávit primário de 2016 para permitir um déficit enorme, previsto em 1,6 por cento antes do pagamento de juros da dívida.

As alternativas para tapar o déficit --reduzir os gastos ou aumentar impostos-- afetam a demanda na economia num primeiro momento e poderiam limitar o crescimento do PIB, apesar dos efeitos potencialmente positivos no longo prazo.

O futuro ministro da Fazenda de Temer, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles, tem afirmado que é primordial reequilibrar o orçamento, mas que a recuperação será lenta.

O desemprego também deve continuar subindo. Com os consumidores perdendo seus empregos e com muitas empresas passando por processos de reestruturação, os bancos estão se preparando para mais inadimplência nos próximos meses. O aumento dos calotes deve limitar o consumo e o crescimento do crédito mesmo com cortes dos juros pelo BC.

Durante conversas com investidores para discutir os resultados do primeiro trimestre, bancos como Itaú Unibanco, Banco Bradesco e Banco Santander Brasil afirmaram que devem continuar sentindo o impacto da recessão neste e no próximo ano.

Também existe o risco de piora no mercado internacional, que poderia atrapalhar os planos do BC de reduzir a Selic. A melhora nos mercados emergentes no começo do ano pode se reverter caso o Federal Reserve suba os juros dos Estados Unidos neste ano, segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

"Na ponta do lápis vejo mais contras que prós até o final do ano. Uma hora o mercado vai perceber isso," disse Perfeito.

Um último risco, mas também importante, tem relação com as investigações contra corrupção em setores importantes da economia, como construção e petróleo. Grandes empresas envolvidas na Operação Lava Jato ainda estão proibidas de fazer negócios com a Petrobras, por exemplo.

Com tantos problemas, o crescimento potencial do PIB brasileiro diminuiu muito e agora está em cerca de 1,5 por cento ao ano, muito baixo para um país de renda média como o Brasil, calcula o economista do banco Nomura, João Pedro Ribeiro. Ou seja, o pior pode até ter passado, mas não deve haver uma lua de mel para Temer. "Uma recuperação rápida está longe de poder ser tomada como um dado," disse Ribeiro.

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